Passada a final da Supercopa do Rei, este ano disputada por Botafogo e Flamengo, dois times do Rio, o retorno de Neymar ao Santos segue sendo o assunto do momento no futebol brasileiro.
No meio disso tudo, o caso de polícia envolvendo uma briga de torcedores no Recife gerou a decisão da Justiça de suspender os torcedores de Sport e Santa Cruz por um bom tempo.
A vitória do Flamengo na Supercopa motivou os torcedores dos dois times – a despeito das circunstâncias que cercaram o jogo em Belém do Pará, ou seja, fora das sedes dos dois clubes.
Essa prática de marcar as partidas em lugares afastados das casas dos times tem sido frequente nos campeonatos estaduais.
A partida foi também reveladora da situação do calendário do futebol brasileiro nestes tempos em que a atenção está voltada para o que se tem chamado de “guerra comercial” no esporte.
Um dos times jogou até o fim de dezembro e teve suas férias estendidas para janeiro, enquanto o outro seguiu sua programação normal de pré-temporada e amistosos de preparação. Essas condições desiguais acabam prejudicando o princípio básico da isonomia.
O Flamengo, como é de praxe nos times de massa, pressionou o Botafogo com um ritmo forte, aproveitando-se de um adversário claramente em desvantagem. Problema de quem teve de enfrentar a pressão. O Flamengo fez o seu papel.
O curioso foi ver que os botafoguenses sentiam que o time, embora visivelmente em condições inferiores, ainda mostrava a mesma postura que o levou a conquistas no ano passado. Ficaram, assim, “na bronca” por perderem um título para o maior rival.
A saída de vários jogadores no fim do ano passado havia dado a impressão de que o time começaria o novo ano desmontado, mas, para surpresa de muitos, isso não aconteceu.
A estrutura do time principal foi mantida, mesmo com algumas lacunas, como a falta de um treinador efetivo e a carência de elenco para sustentar o início da temporada.
Em resumo, apesar da rivalidade e da derrota, o Botafogo não teve muito do que se queixar quanto ao comportamento do time diante do caos do calendário malfeito.
A decisão de obrigar os clubes a jogar sem público, depois de cenas de violência entre torcedores, tem se mostrado cada vez mais comum. Esse é um problema que precisa ser resolvido nos campos.
Alegações como a de que a responsabilidade pela segurança não é dos clubes, ou que torcedores comuns são punidos sem ter se envolvido nas brigas, são pontos a levar em consideração. No entanto, o maior incômodo para os dirigentes parece ser mesmo a ausência do público e, consequentemente, da receita gerada pela bilheteira.
Tal debate é fundamental para que se encontre uma solução capaz de desestimular essas manifestações de violência – algo que não tem sentido algum no esporte.
A propósito, vem da América do Norte uma notícia relevante sobre um tema que já discutimos por aqui: as “concussões cerebrais” causadas por choques de cabeça, comuns no futebol americano e cada vez mais frequentes no futebol brasileiro, especialmente com a crescente pressão por “intensidade” nas partidas.
Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou que este é um amplo debate entre entidades médicas e uma questão de saúde pública que exige a tomada de consciência por quem atua no futebol.
Da Bahia chegaram as queixas de Rogério Ceni sobre o esvaziamento dos estaduais. Após um desempenho abaixo das expectativas, o treinador fez críticas aos campos esburacados dos times do interior e a outros problemas que demonstram a falta de interesse pelos estaduais.
Segundo Ceni, o único motivo pelo qual o estadual ainda é relevante é a vaga para a Copa do Brasil. E assim seguimos para o ano esportivo, tentando “pegar no tranco”.
Já no exterior, acompanhamos a surpreendente queda do poderoso Manchester City. Os resultados do time têm abalado a paciência de seu treinador, o valorizado Pep Guardiola, e deixado o clube sob ameaça de ficar de fora de campeonatos importantes. •
Publicado na edição n° 1348 de CartaCapital, em 12 de fevereiro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Desigualdade em campo’