
Na última semana, o governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, estabeleceu a meta de realizar 3 mil prisões de estrangeiros por dia, em uma ofensiva que pode resultar em mais de 1 milhão de detenções anuais. O número, três vezes maior do que no início de sua administração, colocou governos latino-americanos em alerta, com o Brasil expressando preocupação com o “profundo” impacto sobre sua comunidade nos EUA.
Após a decisão, a coluna de Jamil Chade, no Uol, teve acesso ao áudio de uma brasileira residente na região de Boston destinado a uma entidade que auxilia imigrantes: “Tenho muito medo de ser deportada e meu filho ficar para trás. Ele não tem nada do Brasil”, disse em desespero.
Com a operação “Patriota”, que prendeu 1,5 mil estrangeiros apenas em Massachusetts, a comunidade brasileira vive em pânico. Muitos não saem de casa para trabalhar, temendo a polícia migratória (ICE), mas isso significa ficar sem renda para pagar aluguel ou comprar alimentos. “Se eu sair, posso ser preso. Se ficar, não tenho dinheiro para pagar o aluguel a partir de julho”, desabafou a brasileira que pediu anonimato.
O maior temor é a separação familiar. Crianças nascidas nos EUA, e portanto cidadãs estadunidenses, podem ficar para trás se seus pais forem deportados.
O problema se agrava porque muitas famílias nunca registraram os filhos no consulado brasileiro. Agora, correm contra o tempo para obter documentos que comprovem a nacionalidade das crianças, mas as filas nos consulados chegam a quatro meses.
O Itamaraty já mobiliza esforços para agilizar os processos. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, ordenou um levantamento detalhado das demandas e planeja realocar recursos consulares e criar uma força-tarefa em Brasília. A medida lembra a ação tomada durante a crise dos brasileiros no Líbano.

Casos extremos mostram a gravidade da situação. Um brasileiro com necessidade de diálise regular foi preso em Boston e só liberado após intervenção consular. Há ainda relatos de crianças algemadas nas instalações do ICE em Burlington.
A prisão do estudante Marcelo Gomes, que foi detido no lugar de seu pai, um dia antes de sua formatura no ensino médio, gerou comoção e protestos de políticos democratas. A governadora de Massachusetts, Maura Healey, criticou a ação: “A administração Trump continua a criar medo em nossas comunidades”.
Enquanto isso, o governo dos EUA mantém o discurso duro. A procuradora Lee Foley advertiu: “Não vamos tolerar quem impedir o trabalho do ICE. É crime ameaçar um agente”.
