Educação e informação: das palavras geradoras à alfabetização midiática
Educação e informação: das palavras geradoras à alfabetização midiática
por Samuel Gallo
Paulo Freire, na década de 1960, no Rio Grande do Norte, desenvolveu um método de alfabetização que estimulava os adultos a aprender através de palavras que faziam parte do dia a dia dos alunos, como lavoura, enxada, tijolo, palha, já que aqueles que assistiam suas aulas eram agricultores, pedreiros e domésticas. Esse método foi chamado de palavras geradoras, escolhidas para despertar a consciência crítica dos alunos sobre sua realidade.
Apesar das aulas serem voltadas para adultos, a prática de Freire também despertou a curiosidade de crianças e jovens. Isso demonstra que talvez a maior dificuldade da educação no Brasil não sejam as “ferramentas”, mas sim como elas são utilizadas.
A educação sempre esteve em segunda prioridade no Brasil, enfrentando inúmeros desafios históricos e a falta de investimento e interesse por parte dos governos.
O Plano Nacional de Educação (PNE) previa o gasto público em educação de 7% do PIB até 2019 e 10% do PIB até 2024. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Brasil investiu apenas 5% na educação pública em 2022.
Mas por qual motivo não temos um sistema educacional de melhor qualidade? É óbvio. A educação possibilita um pensamento crítico e isso é um problema grave para o sistema.
Mídia, jornalismo e educação têm sido decisivas para a configuração atual das sociedades e das novas gerações em formação.
A educomunicação é uma área do conhecimento que surgiu com as novas tecnologias digitais. É um campo teórico-prático que propõe uma intervenção a partir de algumas linhas básicas como: “educação para a mídia; uso das mídias na educação; produção de conteúdos educativos; gestão democrática das mídias; e prática epistemológica e experimental do conceito”.
A internet no processo educacional deve ser utilizada como mecanismo de desenvolvimento crítico, mediada pelos educadores.
O jornalista, como representante da mídia, também está presente no processo de comunicação e educação.
Para combater as fake news, cito como exemplo a Finlândia, que possui um programa de combate onde as escolas ensinam a reconhecer as notícias falsas.
A Alfabetização Midiática e Informacional (AMI) tem como finalidade contemplar a capacitação de educadores e jovens para o uso crítico de novas tecnologias e produção de conteúdo.
O Brasil também tem muito a aprender com o exemplo da Finlândia. Cada vez mais, instituições de ensino precisam adotar métodos que promovam uma forte ligação entre a prática educomunicativa e a produção de conteúdo educativo.
E que assim, educação e informação – lado a lado – possam criar cidadãos críticos e conscientes, capazes não apenas de assimilar conhecimentos, mas de transformar suas realidades e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Samuel Gallo é jornalista e publicitário, com MBA em Comunicação e Marketing. Atua na área de Tecnologia Educacional em Ribeirão Preto (SP).
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