Desde a posse cercado por fora, minado por dentro, Lula encontrou as saídas.
por Francisco Celso Calmon
A nova conjuntura, produzida marcadamente por Trump e a famiglia Bolsonaro, bem como, pela natureza plutocrática do Congresso, geraram condições preliminares, objetivas e subjetivas, para Lula e a esquerda encontrarem o leito comum da luta de classes.
Antes era o eles contra nós, agora tem o reverso: nós contra eles.
Antes a máfia bolsonarista de extrema-direita havia se apropriado dos símbolos nacionais, agora, comprovada a traição da famiglia ao Brasil, o verdadeiro patriotismo está sendo dos que se colocam a favor do país e não dos EUA, e os símbolos são repatriados para o seio dos democratas patriotas. E mais: a aura nacionalista do bolsonarismo está desmascarada, era falsa, como sabíamos, porém, o povo ainda não tinha percebido.
Nós contra eles, os supérrimos, que não pagam impostos, quando por justiça tributária deveriam, e a maioria da sociedade, mais de 58% concordam com a “taxação BBB” (Bilionários, Bancos e Bets). Esse é o eixo encontrado, ainda em tempo, pela ala progressista do governo. Esse viés possibilita separar uns dos outros e reduzir as minas traiçoeiras internas ao governo, cujo caráter de coalização virou de traição.

Seguir com a reforma ministerial, já com o olhar para a composição da frente eleitoral que irá disputar a eleição presidencial em 2016 contra a extrema-esquerda, seja com Tarciso, Michele ou um filho do capo, é parte da estratégia para a vitória.
Por sua vez, Trump está deixando visível, até para os olhos mais míopes, que a sua política imperial é de guerra, seja bélica, de tarifas, ou híbrida, e aos países a opção de subalternidade ou resistência e afirmação da soberania estatal.
Prejudicando a economia do país, com o aumento de 50% de tarifas, e usando desse expediente para intimidar o Estado brasileiro, para anistiar os delinquentes da democracia.
Estes trechos da carta de Trump “Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente (…)
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. (…) Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!” deixam às claras o objetivo político.

Reação enérgica do governo, gerou uma unidade inesperada na sociedade e nas suas lideranças sociais e institucionais, reacendendo o patriotismo brasileiro de um lado, e de outro, evidenciando o sabujismo da máfia bolsonarista aos EUA.
Comentários de internautas em diversos artigos sobre os recentes acontecimentos:
Luís Carlos:
“Iniciativa interessante, que coloca líderes de centro-esquerda na luta contra o absolutismo das Big Techs e governo/Estado para quem trabalham, uma luta necessária neste momento da humanidade. Uma disputa necessária contra a versão mentirosa do império do norte, que sempre justifica suas ações violentas em nome da democracia. Detalhe interessante que merece atenção é a presença da Espanha, que não pode apenas ser vista como mais um país, mas como integrante da Comunidade Europeia que resistiu à imposição de Trump em elevar para 5% os gastos militares. Estaria em curso a aproximação da Espanha com o Sul Global? Com BRICS? Os movimentos da geopolítica não podem passar despercebidos.” (Brasil247)
Célio:
“Há agora no mundo o neofascismo, elitista, antidemocrático, tirânico. Tem um projeto de dominação global pela repressão política e pela desinformação das redes sociais. Instalado na Argentina, nos EUA, em Israel, quer mais. Sua principal meta é subjugar o Brasil, inviabilizar Lula3, enfraquecer o BRICS. BRICS é um aceno político para o Futuro com progresso e fraternidade. Trump e neofascismo são as fezes do passado que insiste em ficar.” (Brasil247)
Cleibsom:
“Isso aí, Lula!!! Seu maior cabo eleitoral em 2026 será Trump e você tem de aproveitar esse presente… O homem laranja taxaria o Brasil de qualquer forma por causa das Big Techs e do BRICS, mas quis fazer média com Bolsonaro e os seus e jogou a bola quicando na sua frente, além de deixar a famiglia Bolsonaro em muito maus lençois perante pelo menos 95% da população brasileira. Chuta ela com força, presidente! Rumo à vitória no 1º turno nas próximas eleições!!!!!” (GGN)
Pau que dá em Chico, dá em Francisco. O ditador e corrupto Trump não conhece o nosso ditado popular, contudo, está conhecendo a nossa resistência, diplomacia e reciprocidade.
Bolsonaro agora está restringido pela tornozeleira eletrônica. Não só por ela, mas por outras restrições determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes.

Essa contenção não é meramente jurídica, pois aprovada pela maioria do povo, é também o simbolismo de um país que está demonstrando ao mundo que ainda luta bravamente para fortalecer cada vez mais a sua democracia soberana.
A tornozeleira não é opressão, perseguição, caça às bruxas, é, sim, um instrumento que já estava predestinado a ele, pelo crime continuado com mais um capítulo de traição ao Estado democrático de direito.
Estamos no começo. Ainda há muita luta e resistência pela frente, mas a justiça prevalecerá, e poderemos todos nos orgulhar de ver o Brasil consolidando a sua democracia e sendo aclamado mundo afora por sermos um exemplo de esperança dentro de um mundo que está deslizando de volta às garras fascistas da extrema-direita.
Começou uma nova quadra política sob eixos estratégicos e táticos, saindo do modo empírico de uma correlação que aprisionava o governo na defensiva diante de um Congresso que usurpou parte das funções do Executivo e instaurou ilicitamente um semipresidencialismo.
Aliado a uma deficiência crônica na comunicação, exatamente por não ter um projeto, uma política transparente ao povo, que galvanizasse mentes e corações na sua implantação, agora há bandeiras que unem e mobilizam os brasileiros.
Os flancos encontrados por Lula não continuarão consistentes se não contar com a mobilização do povo.
Para tanto, os partidos e os movimentos sociais precisam tomar a iniciativa mantendo a pressão sobre o Congresso plutocrata e sobre o Banco Central, pelo fim da jornada 6×1, pela redução do juros, pelo imposto sobre os muito ricos, pela reforma agrária, pela aceleração da reindustrialização e incremento na infraestrutura logística com as novas parcerias com a China.
Trump tornou o Brasil o alvo da vez pelo papel que desempenha nos Brics e Lula como liderança internacional.
Aprofundar a sinergia inaugurada por Lula com o povo trabalhador é o objetivo presente.
Este é o cenário adequado para Lula inaugurar as caravanas patrióticas em defesa da soberania e do Estado democrático de direito, intensificando as visitas aos estados.
Paz, Soberania e Democracia no Brasil formam um tripé do Estado de direito.
Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.
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