Pesquisadores da USP e Unicamp identificaram um novo opioide que mistura nitazeno a drogas sintéticas e já está sendo vendido em São Paulo, com efeitos mais devastadores que a heroína ou o fentanil. A droga, conhecida como K ou spice, preocupa devido ao seu alto potencial de expansão e destruição.
Uma equipe de reportagem da Globo flagrou, em um terminal de ônibus na zona leste da capital paulista, dezenas de pessoas consumindo essa droga, o que acontece diariamente no local. “Você fuma e desliga. Fica apagado por cerca de uma, duas horas”, disse um usuário entrevistado. Muitas das pessoas perdem empregos e lares devido ao vício, como relatado por um jovem de 23 anos.
Segundo Maurício Yonamine, professor de toxicologia da USP, “esses nitazenos são cerca de 10 a 20 vezes mais potentes que o fentanil”.
A quantidade de drogas K apreendidas pela polícia civil aumentou significativamente nos últimos anos, de alguns gramas em 2020 para 157 quilos em 2023. Esse aumento reflete a crescente preocupação com a saúde pública e os desafios enfrentados pelas autoridades na contenção dessa epidemia.
A rede pública de saúde tem sentido o impacto, com 36% dos pacientes da unidade mantida pelo governo paulista para tratar dependentes químicos relatando uso de drogas K recentemente. Em 2022, foram registrados 1.099 casos suspeitos de intoxicação por drogas sintéticas.
Veja um trecho da reportagem da Globo:
Pesquisadores da USP e Unicamp que analisam drogas apreendidas em São Paulo encontraram um novo opióide misturado com as drogas sintéticas conhecidas como K: o nitazeno, que é mais perigoso do que a heroína e do que o fentanil. https://t.co/r5U9ZtLpr7 #JN pic.twitter.com/eIwZ2FrIwr
— Jornal Nacional (@jornalnacional) July 20, 2024
Thiago Marques Fidalgo, professor de psiquiatria da Unifesp, alerta que esses entorpecentes podem desencadear transtornos mentais graves, como esquizofrenia e transtorno bipolar, além de aumentar a agressividade e a tensão muscular.
O nitazeno, sintetizado na década de 1950 para uso farmacêutico, nunca foi aprovado para medicina devido à sua alta potência e desconhecimento de seus efeitos em humanos. “Nunca foi utilizado para humanos em grande quantidade. A gente não tem essa informação”, explicou Yonamine.
“O vício me tirou tudo: a vontade de viver, a vontade de sonhar. Nem me olhar no espelho eu consigo mais”, contou à Globo outro usuário. As autoridades continuam a combater a manipulação e distribuição dessas substâncias, principalmente provenientes de países asiáticos e europeus.