Na mais recente edição do programa PT Conexões Brasil, transmitido ao vivo pela TvPT na última quarta-feira (31), a presidenta do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann recebeu os convidados Luís Vitagliano, mestre em Ciência Política pela Unicamp e doutor pela USP, e Pedro Tourinho, deputado federal (PT-SP). Na pauta, os impactos das redes sociais e das plataformas digitais na democracia, na representatividade e na alfabetização digital.

O debate revelou preocupações e propostas para lidar com os desafios que surgem nesta nova era, destacando as distorções causadas pela personalização da política e a urgência de uma reforma que privilegie o coletivo.

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Regulamentação e engajamento

Luís Vitagliano lembrou que as redes sociais e as big techs se defendem contra a regulamentação, alegando censura e impacto na liberdade. Mas a verdade é que elas têm um lado, uma visão de mundo, e buscam impor sua visão neoliberal sem regras e nem controle. “A liberdade tem muitas facetas. O que eles estão falando é justamente da possibilidade de trabalhar um negócio desregulado”, afirmou. O cientista político recordou ainda que a democracia é um processo de representação da maioria, mas “desde que a minoria seja resguardada nos seus direitos”.

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O deputado federal Pedro Tourinho iniciou sua intervenção dizendo que a internet, criada nos Estados Unidos, “nunca foi neutra”. Com o passar do tempo, algumas empresas foram sendo mais bem sucedidas que outras, o que gerou uma concentração de poder. “Hoje, temos uma meia dúzia de grandes empresas”. Tourinho lembrou que na China não há Google nem WhatsApp, mas ferramentas similares próprias, pois se tratam de instrumentos geopolíticos muito poderosos. Para ele, a regulação das redes é essencial, para que elas abriguem ideias mais democráticas.

Alfabetização digital

Gleisi Hoffmann rememorou a passagem recente do professor Fernando Horta pelo programa e de sua defesa da necessidade de uma alfabetização digital, “para as pessoas aprenderem a utilizar (a internet) e terem consciência crítica do que recebem”.

Tourinho concordou com a ideia, ao mesmo tempo que festejou a existência de ferramentas online, pois “é sempre melhor fazer o conhecimento circular do que deixá-lo sem circular”. No entanto, ressaltou que os donos das redes vêm se colocando acima de leis e até de chefes de Estado, como é o caso de Elon Musk, proprietário do X. Segundo o deputado, o desafio é saber trabalhar com esse paradoxo.

Para Vitagliano, a discussão sobre alfabetização digital é fundamental, mas é difícil de ser levada adiante em um contexto onde as big techs têm tanto poder de interferir nos debates. Segundo ele, “muito mais do que regulação, é preciso organização desse novo mundo” para fazer a pauta avançar.

Interesses setorizados e reforma política

A presidenta do PT abordou a segmentação de interesses nas redes, exemplificando com as campanhas presidenciais de Donald Trump, que “enviava mensagens direcionadas e, às vezes, contraditórias a diferentes públicos”. Segundo Hoffmann, a segmentação e a personalização da política gera distorções, como um congresso de direita ao lado de um presidente de esquerda.

Para ela, a saída é uma reforma política. “Se nós não fizermos, a tendência é piorar a representatividade. É urgente uma que privilegie o coletivo”, disse. E argumentou que o voto em lista, dado para o partido e no programa, é essencial para corrigir esse desvio.

Algoritmos e mobilização de base

“A extrema direita é muito melhor nas redes sociais. E isso tem a ver com os algoritmos”, provocou Gleisi. Luís Vitagliano concordou: “algoritmo e dinheiro têm tudo a ver, porque o dinheiro também faz com que o algoritmo avance”. Pedro Tourinho tem uma visão semelhante. Para ele, “o algoritmo do X é o do dono da empresa (…) Eu não tenho nenhum motivo para achar que a rede não tem nos algoritmos uma expressão dessa identidade”.

No entanto, o trabalho de base é um importante aliado do campo progressista. Segundo Vitagliano, se por um lado a esquerda precisa melhorar sua postura no ambiente digital, por outro ela tem uma grande capacidade de mobilização, “especialmente o PT, que está nas ruas e tem sua base social”.

O deputado Tourinho encorajou a militância a não desanimar e a continuar ocupando as redes sociais com clareza e coesão. Ele reforçou a necessidade de traduzir as lutas políticas para novos formatos, adaptando-se às mudanças na comunicação digital. E citou vitórias recentes como as campanhas contra o PL do estupro e a privatização das praias.

Avanços e desafios

Por fim, Luís Vitagliano reconheceu os avanços feitos pela esquerda, apesar dos desafios. E reforçou que, mesmo com passos pequenos, eles são significativos e contribuem para um progresso contínuo na luta por uma sociedade mais justa e democrática.

“Estamos melhores do que há 4 anos e do que estivemos há 8 anos. Perdemos uma eleição com fake news, com um esgoto de discussão política de baixo nível. Depois conseguimos vencer. O presidente Lula tá aí, sustentando um governo muito difícil, mas com muita firmeza”, concluiu o cientista político.

Da Redação

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Última Atualização: 01/08/2024