Desde segunda-feira (29), os governos do Brasil, Colômbia e México estão em negociações para elaborar um comunicado conjunto sobre a crise política na Venezuela. O objetivo é incluir um posicionamento claro sobre o resultado das recentes eleições presidenciais, anunciadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) na madrugada de segunda-feira (30).
As negociações enfrentam obstáculos devido a divergências entre os três países, e uma comunicação telefônica entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Gustavo Petro e Andrés Manuel López Obrador pode ocorrer nesta quinta-feira (1º), segundo o jornal O Globo.
Diferenças nas exigências de verificação eleitoral
Fontes diplomáticas indicam que o texto ainda não foi divulgado devido a uma forte resistência do governo mexicano em aceitar certos termos propostos pelos colombianos e brasileiros. Para o Brasil, a participação do México é crucial para fortalecer o comunicado.
Um ponto central das discussões é a maneira de expressar a necessidade de verificar as atas de votação, conforme solicitado por Brasil e Colômbia. A Colômbia defende uma verificação “internacional”, enquanto o Brasil prefere uma verificação “imparcial”. Essas diferenças refletem a importância da semântica na diplomacia.
Reações e desafios regionais
Em Bogotá, o governo de Gustavo Petro divulgou uma nota solo, alertando sobre a possibilidade de polarização violenta na Venezuela. O colombiano também expressou preocupação com a comunicação entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Ele teme que a situação na Venezuela possa evoluir para uma guerra civil, similar ao que ocorreu na Colômbia. Petro também pediu ao governo dos EUA que suspenda sanções que afetam os venezuelanos.
No México, há uma discordância entre o presidente Andrés Manuel López Obrador e a presidente eleita Claudia Sheinbaum. O atual gestor não reconhece as denúncias de fraude eleitoral, enquanto a política exige “transparência” no processo eleitoral.
Apoio internacional e crises diplomáticas
A crise na Venezuela é uma das mais graves dos últimos 25 anos de chavismo, e a região está dividida. O Brasil evita medidas que possam levar a uma ruptura, como aconteceu com o Chile. Muitos governos que criticaram o resultado do CNE estão em contato constante com o Brasil, buscando ajuda para lidar com a situação na Venezuela.
Recentemente, a chanceler argentina, Diana Mondino, solicitou assistência ao chanceler brasileiro Mauro Vieira devido à situação na embaixada argentina em Caracas, onde seis colaboradores de María Corina estão refugiados.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) tentou aprovar uma resolução para exigir a apresentação das atas eleitorais, mas não obteve os 18 votos necessários. Brasil e Colômbia se abstiveram, enquanto o México esteve ausente.
Países como Argentina, Chile, Panamá, Canadá, EUA, Paraguai, Peru e Uruguai votaram a favor. O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, criticou a falta de transparência e reiterou sua visão de que a Venezuela é uma ditadura.