O artigo Política de segurança de Castro é a morte, assinado pelo deputado Reimont Otoni (PT-RJ) e publicado no Brasil 247 nesta terça-feira (10), mostra que, na essência, o parlamentar concorda com a política de repressão do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro. Sua divergência é apenas quanto à forma de aplicá-la.
Logo no início, Otoni afirma: “O ataque da PM no Morro Santo Amaro, no bairro carioca do Catete, durante uma festa junina tradicional, autorizada pela própria PM, é mais uma evidência do fracasso e do horror que emergem da política de segurança do governador Cláudio Castro”.
De fato, essa política é um horror. Mas é importante notar que ela não é exclusividade do Rio de Janeiro. A Bahia, governada por Jerônimo Rodrigues, do mesmo partido de Otoni, aplica política semelhante. O resultado é o aumento constante da violência, tanto nas cidades quanto nas áreas rurais, com apoio explícito aos latifundiários contra os trabalhadores sem terra.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública e o Mapa da Segurança 2024, a Bahia registrou 1.699 mortes por ações policiais em 2023 — o maior número do país, representando cerca de 26,6% de todas as mortes por intervenção policial no Brasil. Em 2022, o número havia sido de 1.467. As polícias civil e militar baianas causaram 1.464 mortes durante operações naquele ano. Um levantamento publicado pelo The Guardian aponta um aumento de 313% nos homicídios cometidos por policiais na Bahia entre 2015 e 2022, alcançando o maior número absoluto entre os estados. Em 2023, estima-se que um em cada três homicídios de menores (com até 19 anos) foi causado por ações policiais — foram 289 vítimas nessa faixa etária.
Disfarce
Tentando dissimular a realidade, Otoni afirma que “nos últimos 10 anos, o estado do Rio de Janeiro ocupou, por seis anos, a triste liderança nacional de maior número de mortes em intervenções policiais”. O problema, no entanto, é que, em 2023, a Bahia liderou os índices com ampla vantagem: cerca de 1.500 mortes, contra aproximadamente 750 em São Paulo e 660 no Rio de Janeiro.
Repetindo o chavão de todos os governos burgueses, o deputado afirma que “é preciso combater o crime organizado, sim”. A “diferença”, segundo ele, é que esse combate deveria ser feito com “mais eficiência, inteligência e respeito aos direitos humanos”.
Na prática, Reimont Otoni defende a mesma política de segurança que Cláudio Castro.
O próprio parlamentar reconhece que “há centenas de anos, o Brasil mata pobres, negros e a população periférica sem conseguir reduzir um ponto percentual do crime, que só faz crescer e se disseminar pelo estado”. Se isso é verdade, a conclusão óbvia não seria aperfeiçoar o aparato repressivo, mas exigir o fim das polícias e a organização de comitês de autodefesa da população pobre e trabalhadora.
Justificativas
Otoni apresenta dados sobre a violência no Rio: “de janeiro a abril de 2025, o estado registrou números alarmantes de mortes violentas – que incluem homicídios, feminicídios, latrocínios etc.”. Mas, dessa forma, sua análise parte do efeito e não da causa. A violência é resultado direto da miséria, do desemprego e da desigualdade social. Sem resolver essas questões, a repressão policial só agrava a situação.
Quanto à questão do tráfico de drogas, em vez de repetir a ladainha do “combate ao tráfico”, um deputado de esquerda deveria defender a legalização das drogas. O “crime” do uso de drogas é uma imposição moral sem fundamento. Com a legalização, o tráfico perderia o sentido — e, com ele, boa parte da violência. Estudos indicam que a legalização da maconha retiraria 80% da receita das gangues em Salvador, por exemplo.
Depois de defender uma repressão “mais eficiente”, o deputado apela para a comoção com a morte de policiais. Afirma que “o fracasso do governo Cláudio Castro mata também a polícia, onde o Rio é igualmente líder. De janeiro a abril de 2025, o Brasil registrou 71 mortes de agentes de segurança. A maioria ocorreu em nosso estado, onde os casos dobraram”. Qual a finalidade desse tipo de consideração?
Otoni tenta pintar a polícia como vítima, como se estivéssemos diante de uma “guerra” entre dois lados. Mas isso é falso. As polícias, no Brasil, funcionam como verdadeiros esquadrões da morte, armados e treinados para aterrorizar a população pobre. No meio de uma denúncia sobre um massacre cometido durante uma festa junina, mencionar a morte de policiais soa como cinismo ou, na melhor das hipóteses, demagogia.
Câmeras e ilusões
O parlamentar finaliza defendendo o uso de câmeras nas fardas e viaturas. Diz que “não basta exonerar os responsáveis por este ou aquele episódio. É urgente adotar amplamente o uso de câmeras corporais”. Trata-se de mais uma política cosmética, que não enfrenta a raiz do problema. As câmeras não impedem que a polícia mate. Se funcionassem, o número de assassinatos nas periferias já teria diminuído — o que não acontece.
Há diversos estudos que questionam a eficácia do uso de câmeras como instrumento de controle da violência policial. Elas funcionam como instrumento de vigilância sobre a população, e não sobre os próprios policiais.
Por fim, Otoni afirma que o Estado deve se responsabilizar pelas ações das polícias e garantir investigações rigorosas e independentes. Mas todos sabem que isso nunca acontecerá. O povo trabalhador conhece bem o papel das polícias: são o braço armado do Estado burguês para esmagar os pobres — negros ou brancos, trabalhadores em sua maioria.
A única solução para a segurança da população é a organização independente da classe trabalhadora, pois o Estado capitalista só sabe tratar o povo com repressão. Não se reforma a repressão: combate-se e derrota-se por meio da mobilização popular.