Emocionada, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) usou a tribuna da Câmara nesta quinta-feira (12/6) para agradecer o título de Doutora Honoris Causa que ela recebeu, nesta semana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Fiquei muito comovida, e aceitei essa honraria com muita responsabilidade por entender que, ao receber esse título, nesse momento pude ali transcrever também um pouco da minha trajetória de muitas lutas, de muitas conquistas em defesa não só do estado do Rio de Janeiro, mas também do nosso povo”.

Benedita disse que também pode destacar sua trajetória política, pode relembrar que desde quando morou na favela por 57 anos da sua vida, teve o cuidado de participar coletivamente de todas as necessidades e demandas que a sua comunidade tinha. “Tive o cuidado de não estar à frente, mas estar ao lado coletivamente, para que nós pudéssemos ali nos defender sem saneamento, sem uma casa de alvenaria, sem uma escola próxima para nossas crianças, uma creche. Então, essa foi a minha primeira grande luta e o trabalho da mulher e a sua participação política no coletivo da comunidade para ali poder fazer chegar às autoridades um olhar com carinho para aquela comunidade”.

Com orgulho de quem sabe da importância da sua contribuição para a sociedade brasileira, em especial no enfrentamento do racismo e do machismo e na defesa dos direitos humanos e da inclusão social, Benedita da Silva, relembrou a trabalhadora doméstica que foi e dedicou essa homenagem também às trabalhadoras domésticas, às assistentes sociais, às manicures, às cabeleireiras, aos motoboys. “Durante a solenidade, citei um pouco de tudo aquilo que eu consegui ser na vida, graças a Deus, para defender honesta e dignamente o meu pão de cada dia”, contou.

Universidade da vida

“É importante aqui fazer esse registro porque eu aprendi primeiro na universidade da vida. Conheci a minha cidade nas lutas, nos momentos mais difíceis. Também não sou urbanista, mas ali eu estava consciente de que eu dedicava essa honraria a quem não tinha passado por uma universidade de engenharia, mas conseguiu levantar o seu barraco e fazer com que ele não caísse, a não ser o fato de não ter o poder público ali para fazer a contenção de encostas. Lembrar isso é muito bom”, afirmou.

Benedita disse ainda que se lembrou do motoboy de hoje, do camelô que foi ontem. “Lembrei-me também de todas essas pessoas que descem, todos os dias, das comunidades, que vão para o seu trabalho e que têm que sair de madrugada para poder chegar mais cedo, na hora, no seu trabalho. Muitas vezes a condução o atrasa e, às vezes, ele volta e perde o dia. Venho dessa história, venho dessa caminhada”, contou.

“Quero dizer que sou uma das que assistiu às vítimas das balas achadas, dos pretos e pretas e brancos e indígenas. Sou daquele tempo em que os indígenas iam vender ervas nas comunidades para nós. Sou daquele tempo!”, recordou. Portanto, continuou a deputada, faço uma homenagem para aqueles indígenas, aquelas senhoras, aquelas mulheres, aquelas rezadeiras, parteiras, como foi minha mãe. Tudo isso me fez sentir muito orgulho. Sou agradecida a todas aquelas pessoas que são discriminadas, oprimidas, abandonadas”.

Ela, mais uma vez, agradeceu esse título recebido na pessoa do Dr. Prof. Roberto Medronho, o magnífico Reitor da Universidade UFRJ, do Rio de Janeiro. “Quero dizer que cada um daqueles que pensou em fazer-me esta homenagem pode crer que fez uma homenagem a milhares e milhares de “beneditas” e de “beneditos da silva” da vida do nosso Brasil.

 

Veja a íntegra da cerimônia:

Vânia Rodrigues

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Last Update: 12/06/2025