Depoimento na CPMI aponta prevaricação e facilitação de fraudes contra aposentados no Governo Bolsonaro

Defensora Pública afirma que Governo Bolsonaro sabia desde 2019 de descontos ilegais no INSS

 

Na primeira reunião da CPMI do INSS que marcou o início da fase de depoimentos, a coordenadora da Câmara de Coordenação e Revisão Previdenciária da Defensoria Pública da União (DPU), Patrícia Bettin Chaves, confirmou que os descontos irregulares em aposentadorias já eram de conhecimento de entidades e órgãos ligados ao governo Bolsonaro desde 2019. Segundo ela, o tema era debatido em um grupo de trabalho criado naquele ano pelo Ministério Público Federal, com participação da Controladoria-Geral da União (CGU), do Ministério da Previdência, do INSS, da Dataprev e do Tribunal de Contas da União (TCU).

Deputados do PT na comissão afirmaram que esse fato comprova a diferença na condução do caso entre os governos Bolsonaro e Lula. Além da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal a partir de informações da CGU, os parlamentares lembraram que, sob o Governo Lula, o esquema foi desarticulado, os descontos foram interrompidos e a União assumiu a responsabilidade pela devolução dos valores. Até agora, mais de 80% dos aposentados e aposentadas que contestaram a legalidade dos descontos já foram ressarcidos.

“A verdade é que no governo anterior não houve nenhuma ação concreta para acabar com o roubo aos aposentados e aposentadas. Pelo contrário, normas foram modificadas para viabilizar esse assalto”, declarou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

Facilitação das fraudes

O parlamentar gaúcho destacou que, durante o Governo Bolsonaro, foram adotadas medidas que facilitaram o credenciamento de entidades fantasmas, responsáveis por grande parte dos descontos indevidos. Já o deputado Alencar Santana (PT-SP) observou que o Ministério Público Federal cobrou, em 2020, e em três ocasiões em 2021, normas para regulamentar os descontos associativos em aposentadorias e pensões. O INSS, porém, não respondeu.

Alencar questionou a defensora pública se o fim da revalidação anual, a medida adotada no Governo Bolsonaro, contribuiu para o aumento das fraudes. Patrícia Chaves respondeu que sim. Perguntada ainda se uma autoridade que tomou conhecimento das irregularidades e nada fez poderia ter cometido crime de prevaricação, ela confirmou positivamente.

Suspeita de prevaricação

Nesse momento, Alencar perguntou ao senador Izalci (PL-DF) se ele não teria cometido crime de prevaricação ao levar, no final de 2018, denúncias sobre descontos irregulares ao então presidente eleito Jair Bolsonaro, e depois não ter informado ao Ministério Público. O senador admitiu esse fato durante um debate ao vivo com o deputado petista na CNN Brasil.

Alencar apresentou no colegiado, cópia de uma emenda assinada pelo senador Izalci à medida provisória (MP 817/2019), propondo o fim do recadastramento das entidades.

“Explique-se (senador Izalci). Na outra audiência o senhor disse que isso era mentira. O senhor apresentou essa emenda, que acabou sendo implementada em 2022 (pelo Governo Bolsonaro), acabando com o recadastramento e, como disse a defensora pública, facilitando o roubo”, rebateu Alencar Santana. O senador não respondeu.

Veto à transparência

O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), recordou que, na época, a oposição (atual governo) apresentou emenda à medida provisória sobre a revalidação dos descontos, para “vedar a transmissão de informações pessoais, trabalhistas e funcionais de segurados e beneficiários do INSS”. A proposta buscava impedir a exploração comercial desses dados, mas foi vetada pelo então presidente Jair Bolsonaro.

Questionada por Randolfe, a defensora pública afirmou que a medida teria dificultado a prática dos descontos irregulares.

Conclusão

Ao final da oitiva, o deputado Paulo Pimenta avaliou que o depoimento da coordenadora da Defensoria Pública da União (DPU) demonstrou que, se medidas de fiscalização e controle tivessem sido adotadas, a fraude contra aposentados e pensionistas poderia ter sido evitada.

“Para resumir: o escândalo explodiu a partir de 2019. Houve um Grupo de Trabalho (GT) que não tomou nenhuma medida concreta durante todo o governo anterior. Nesse período, houve uma explosão de entidades fantasmas credenciadas e de descontos não autorizados. As medidas que facilitaram o golpe – ausência de autorização individual e fim da renovação anual dos descontos – foram todas adotadas pelo governo Bolsonaro”, concluiu Pimenta.

 

Leia mais: CPMI do INSS: depoente confirma que fraude bilionária explodiu no governo Bolsonaro

Héber Carvalho

 

 

Artigo Anterior

Auxílio Gás será ampliado para botijão ser acessível em todo o país

Próximo Artigo

Brasil endossa neutralidade do Canal e amplia negócios com Panamá

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!