Uma denúncia anônima alertou as autoridades sobre o risco de vandalismo em Brasília antes do ataque de bolsonaristas à sede da Polícia Federal (PF) em 12 de dezembro, dia da diplomação do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB). É o que mostra reportagem do jornal Folha de S. Paulo nesta terça-feira 21.

A denúncia, à qual a Folha teve acesso, contradiz a versão apresentada pelos bolsonaristas. Na época, a alegação é de que o quebra-quebra tinha sido uma “resposta” à prisão do indígena Serere Xavante, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no próprio dia 12.

Folha destaca que as autoridades não foram pegas totalmente de surpresa pelo ataque, organizado por “índios disfarçados”, segundo a denúncia enviada em 10 de dezembro – dois dias antes do ataque. Além da tentativa de invasão à sede da PF, o grupo queimou veículos em vias da capital federal.

Segundo a publicação, que teve acesso a um relatório feito pela Polícia Civil do Distrito Federal, os ônibus com os vândalos bolsonaristas saíram da cidade de Cascavel (PR) e região para uma suposta manifestação de apoio ao então presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os passageiros dos ônibus, porém, seriam os tais “índios disfarçados” que “estariam vindo para Brasília a fim de provocar um ‘quebra-quebra’ na manifestação”. Além disso, segundo o documento, “um dos motoristas teria visto armas de fogo na bagagem dos passageiros”.

A tensão na capital federal já vinha crescendo desde o fim das eleições presidenciais, em outubro de 2022, quando Bolsonaro foi derrotado por Lula. Apoiadores do ex-presidente montaram acampamentos em frente ao QG do Exército. A tensão cresceu na noite do vandalismo e culminou, quase um mês depois, nos atos golpistas do 8 de Janeiro de 2023.

Segundo a publicação, a PF também encontrou uma convocação estimulando um “cenário caótico” às vésperas da posse de Lula. O texto foi distribuído em contas de WhatsApp de bolsonaristas, chamando à “maior mobilização da história do Brasil”, em 10 de dezembro daquele ano, “para que o cenário caótico estabelecido a nível nacional seja impossível de ser resolvido sem a convocação das Forças Armadas”.

José Acácio Serere Xavante foi preso naquele 12 de dezembro, acusado de realizar atos antidemocráticos em vários pontos de Brasília, incluindo o hotel onde estavam hospedados Lula e Alckmin. O indígena deixou a prisão em setembro do ano passado, mas, em seguida, quebrou a tornozeleira eletrônica e fugiu. Meses depois, em dezembro de 2024, ele voltou a ser preso, ao ser encontrado na Argentina.

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Last Update: 21/01/2025