O ex-procurador e ex-deputado federal Deltan Dallagnol questionou, na rede social X, se a imprensa teria tratado a Lava Jato com a mesma postura acrítica que, segundo ele, dispensa ao Supremo Tribunal Federal (STF) nos casos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, registros da época desmentem o argumento de Deltan e demonstram que a grande mídia apoiou amplamente a operação, dando-lhe visibilidade e sustentação política.
Veja a publicação de Deltan Dallagnol abaixo, respondendo à matéria da Veja, um dos principais veículos que articulou e promoveu a Operação Lava Jato na época.
Grande mídia foi peça-chave para Operação Lava Jato
O argumento de Deltan não se sustenta quando confrontado com a realidade dos fatos. A imprensa brasileira – especialmente os grandes veículos como Globo, Estadão, Veja e Folha – não apenas apoiou a Lava Jato, mas foi peça-chave na construção de sua narrativa.
Como destaca o jornalista Luis Nassif, a cobertura da Lava Jato foi meticulosamente orquestrada, “Veja manchetava o lixo na sexta, e o JN repercutia”, um dos esquemas que contribuiu para ampliar o impacto da Operação e legitimar as ações da força-tarefa de Curitiba.
Além disso, a Vaza Jato e a Operação Spoofing demonstraram que a operação tinha uma estratégia de comunicação alinhada com setores da imprensa para vazar informações seletivamente, direcionar a opinião pública e pressionar decisões políticas e jurídicas.
O conluio entre Moro e Dallagnol ficou evidente nas mensagens divulgadas, mostrando que havia uma colaboração ilegal entre os figurões, que remavam juntos para plantar acusações contra Lula e influenciar as eleições presidenciais de 2018.
Imprensa cuidadosa?
No entanto, um ponto a se considerar no argumento de Deltan é que, de fato, a imprensa tem adotado uma abordagem mais cuidadosa ao tratar de Jair Bolsonaro e das investigações que o envolvem.
Recentemente, a Folha de S.Paulo publicou que a “PGR turbina acusação contra Bolsonaro com conclusões que nem mesmo a PF bancou”, levantando preocupações sobre a atuação da Procuradoria-Geral da República e a necessidade de um olhar crítico sobre a condução das investigações.
Esse movimento é bem distinto do adotado durante a Lava Jato, quando a mídia manteve uma postura acrítica ou parcial, frequentemente favorável ao papel do Ministério Público.
Ao sugerir que a imprensa tratou a Lava Jato com rigor semelhante ao que hoje dispensa ao STF e às investigações sobre Bolsonaro, Deltan ignora a própria realidade da operação que comandou. Na tentativa de reescrever a história, posando como vítima de uma suposta perseguição da imprensa, o ex-procurador desmorona diante das evidências do papel central que os meios de comunicação desempenharam no fortalecimento da operação.
Veja abaixo alguns momentos em que o Jornal GGN aponta a complacência da grande mídia: