Luís Carlos Netto: Morre um dos últimos grandes economistas do Brasil, por André Perfeito

Morreu hoje pela manhã o economista Luís Carlos Netto, e com sua morte perdemos um dos últimos grandes economistas da velha guarda, economistas que tinham na ampla e profunda cultura os pilares do seu entendimento de economia e país.

Luís Carlos Netto não era uma pessoa fácil de entender. Tive o prazer de conhecê-lo e fui mais de uma vez me aconselhar com ele no seu escritório em Higienópolis e toda vez que falava com ele saia com um misto de certezas e dúvidas sobre o que fui perguntar.

Articulava com igual desenvoltura conhecimento técnico de economia e aspectos políticos dos problemas sociais, mas onde realmente brilhava meus olhos é que em tudo dizia era entremeado por uma visão de ser humano diabólica, algo que só alguém que viveu muito e sabe muito bem como funciona.

Como diz o ditado: o diabo não é o diabo porque é mau, mas porque é velho…

Ria da ingenuidade liberal e seus modelos de equilíbrio geral ao mesmo tempo que zombava das boas intenções de economistas de esquerda. Era irônico como um lorde inglês e mordaz como um paulistano de origem simples. Ouvir Luís Carlos era um jogo de xadrez, você tinha sempre que saber onde estava no tabuleiro.

Ele mesmo era uma figura contraditória, uma espécie difícil de categorizar. Afinal se de um lado era caridoso com seu conhecimento e discutia com paixão com todos sobre o Brasil para mim sempre foi impossível não lembrar que ele foi um dos que assinou o documento maldito do AI-5.

Mas como não se encantar com seu charme pessoal e inteligência astuta, das suas frases de efeito que em poucas palavras articulava raciocínios complexos e entregava mais que poderíamos esperar? Sempre que falei com ele tinha reverência e um respeito que dedico à poucos na minha vida. Luís Carlos era para mim uma espécie de Darth Vader. Um vilão adorável.

Pessoalmente devo à ele muito. Ele me indicou para ser Economista-Chefe do ano pela OEB, um gesto de generosidade que nunca imaginei que faria e nem esperava.

Luís Carlos vai fazer falta. Ele era uma ponte entre diversos mundos e este tipo de arquitetura que lembra os quadros de Escher é um evento raro.

Agora irá vislumbrar o eterno. Que consiga, enfim, encontrar a síntese das suas contradições.

André Perfeito é economista, mestre em Economia Política pela PUC/SP, lecionou como professor convidado na PUC/SP e FECAP.

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Última Atualização: 12/08/2024