O déficit comercial dos Estados Unidos cresceu 14% em março, alcançando o valor recorde de US$ 140,5 bilhões, conforme dados divulgados pelo Escritório de Análise Econômica do Departamento de Comércio nesta terça-feira, 6.

O aumento foi impulsionado por um movimento das empresas para antecipar a importação de produtos, em resposta às tarifas anunciadas pelo governo do ex-presidente Donald Trump.

As importações totais cresceram 4,4% e atingiram US$ 419 bilhões, enquanto as exportações subiram 0,2%, para US$ 278,5 bilhões. O saldo negativo teve impacto direto no Produto Interno Bruto (PIB), que apresentou contração anualizada de 0,3% no primeiro trimestre, marcando o primeiro recuo em três anos.

O crescimento das importações incluiu altas de US$ 22,5 bilhões em bens de consumo, impulsionados por produtos farmacêuticos oriundos da Irlanda. As importações de bens de capital aumentaram US$ 3,7 bilhões, com destaque para acessórios de informática.

Também houve incremento de US$ 2,6 bilhões em veículos e autopeças. Em contrapartida, as importações de suprimentos industriais caíram US$ 10,7 bilhões, com destaque para uma queda de US$ 10,3 bilhões em formas metálicas acabadas e de US$ 1,8 bilhão em ouro não monetário.

Economistas indicaram que os dados refletem movimentos de capital decorrentes da política tarifária. O professor Brian Bethune, do Boston College, afirmou que entre dezembro de 2024 e março de 2025 houve um aumento de US$ 92,5 bilhões no volume de ouro e prata mantido fora do território dos EUA, o que ele classificou como um “estacionamento” de economias em ativos não produtivos.

A valorização dos custos de importação ocorre no contexto das tarifas impostas a produtos chineses. Desde o início de abril, alíquotas adicionais foram aplicadas a determinados itens, elevando a carga tributária de parte dos produtos a até 145%.

Segundo o Departamento de Comércio, as importações da China atingiram em março o menor nível desde 2020. As compras provenientes de outros países, como México, Vietnã, Reino Unido, Irlanda e Alemanha, atingiram valores recordes.

O déficit comercial de bens com a China caiu de US$ 26,6 bilhões em fevereiro para US$ 24,8 bilhões em março. Também foi registrada redução no déficit com o Canadá, que passou de US$ 7,4 bilhões para US$ 4,9 bilhões. O déficit com o México manteve-se estável. Já o superávit com o Reino Unido apresentou retração.

Economistas destacaram que as importações da União Europeia, especialmente da Irlanda, cresceram substancialmente e podem apresentar queda em abril.

A economista Veronica Clark, do Citigroup, observou que, enquanto as tarifas adicionais de 40% a 50% foram adiadas para julho, alguns países asiáticos podem ampliar ainda mais suas exportações para os EUA.

As exportações de bens subiram 0,7% e chegaram a US$ 183,2 bilhões, o maior valor desde julho de 2022. O avanço foi impulsionado por um aumento de US$ 2,2 bilhões em suprimentos e materiais industriais, incluindo gás natural e ouro não monetário.

As exportações de veículos e autopeças cresceram US$ 1,2 bilhão. Por outro lado, as vendas externas de bens de capital caíram US$ 1,5 bilhão, com destaque para a retração de US$ 1,8 bilhão nas remessas de aeronaves civis.

As exportações de serviços, por sua vez, recuaram US$ 0,9 bilhão, atingindo US$ 95,2 bilhões. O segmento de viagens foi o principal responsável pela queda, com retração de US$ 1,3 bilhão.

Analistas atribuem esse resultado à diminuição do número de visitantes internacionais, especialmente do Canadá, como resposta às tarifas comerciais, à política migratória e a declarações do ex-presidente sobre possíveis anexações territoriais.

O dólar norte-americano acumulou desvalorização de 5,11% no ano frente a moedas de parceiros comerciais. Na terça-feira, a moeda operava em baixa em relação a uma cesta de moedas. Paralelamente, os mercados financeiros registraram queda nas ações em Wall Street e variação nos rendimentos dos títulos do Tesouro.

Autoridades do Federal Reserve iniciaram uma reunião de dois dias para deliberar sobre a política monetária. A expectativa do mercado é de manutenção das taxas de juros. No entanto, analistas acompanham a coletiva de imprensa do presidente do banco central, Jerome Powell, em busca de sinais sobre a retomada do afrouxamento monetário.

O impacto do déficit comercial sobre o desempenho da economia norte-americana foi expressivo. Segundo o governo, a diferença entre exportações e importações reduziu 4,83 pontos percentuais do PIB no trimestre, o que contribuiu diretamente para a retração da atividade econômica.

Trump, que vê as tarifas como um mecanismo para gerar receita e fortalecer a indústria nacional, ainda não anunciou novos acordos comerciais em seu segundo mandato.

Economistas avaliam que a antecipação das importações pode ter efeito temporário, com possibilidade de desaceleração até maio, o que pode contribuir para a recuperação do PIB no segundo trimestre.

No entanto, alertam que uma queda nas exportações pode limitar esse efeito, caso haja prolongamento dos boicotes comerciais e turísticos por parte de outros países.

As perspectivas de curto prazo permanecem condicionadas à evolução das relações comerciais internacionais e às decisões de política econômica nos Estados Unidos.

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Last Update: 06/05/2025