O Governo Federal anunciou, na última semana, que o período de estiagem da Amazônia este ano será o mais severo em duas décadas, além de aprovar o repasse de R$ 11,7 milhões para combater a seca que já dominou o noticiário ao longo da semana. Afinal, a seca de rios colocou 53 municípios em situação de emergência.

O programa Nova Economia da última quinta-feira (22) contou com a participação de professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luís Carlos, e a ex-vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Maria José, para debater os impactos da seca na região, além de oportunidades desperdiçadas de desenvolvimento e desafios que a região apresenta.

Maria José afirma que não se fala mais sobre um modelo que substitua a Zona Franca de Manaus, até porque as dificuldades do Amazonas agora estão mais expostas devido à questão da seca e não há estudos para reduzir a dependência do modelo econômico.

“A Zona Franca de Manaus, tendo como sua principal vertente o polo industrial de Manaus, ainda é a principal fonte de renda, desenvolvimento e arrecadação do estado, porque, muito embora ela esteja concentrada na cidade de Manaus, mesmo com incentivos, é uma arrecadação significativa, que proporciona o repasse para os municípios e consegue democratizar um pouco o processo de desenvolvimento”, afirma a presidente do Confecon.

Infraestrutura

A grande questão, na avaliação de Luís Carlos, é a falta de infraestrutura sustentável para a integração regional, problema que resulta nos demais associados ao não desenvolvimento local.

“No olhar nosso, o desafio é a falta da rodovia BR 319, é uma rodovia que passa no meio da Amazônia e está sendo destruída no entorno dela. Há uma falta de enfrentamento da questão ambiental na proteção da floresta. Temos negligenciado a Amazônia em todas as questões de desenvolvimento de infraestrutura, uma infraestrutura mais contemporânea, mais moderna, e não aquela infraestrutura dos erros da transamazônica”, pontua o docente.

Em relação aos rios, outro engano comum é o de que existe uma rede de hidrovias na região, tendo em vista que a sazonalidade impacta o volume de água dos rios e inviabiliza o transporte em épocas de secas, além do isolamento aéreo, tendo em vista o alto preço das passagens interestaduais.

“Para vocês terem uma ideia, às vezes uma passagem aérea Porto Velho-Manaus-Porto Velho, que é do ladinho, chega a ser mais cara do que Manaus-Lisboa-Manaus. É inaceitável esse tipo de coisa, mas é o que acontece, é a realidade que nós vivemos aqui”, continua Luís Carlos.

Mais um problema logístico: a falta de infraestrutura do aeroporto de Manaus, ainda que ele seja o terceiro maior aeroporto de cargas do país, atrás apenas de Guarulhos e Campinas, ambos em São Paulo.

Consequentemente, segundo o professor, torna-se um desafio desenvolver a indústria local, que já arca com expressiva arrecadação tributária, além de ter de enfrentar o sobrepreço causado pelo custo do transporte da produção.

Bioeconomia

De acordo com estimativas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o mercado global de bioeconomia deverá atingir US$ 7,7 trilhões até 2030. Mas a Amazônia, que poderia responder por expressiva fatia deste mercado, até tem algumas iniciativas, porém que estão aquém da demanda global.

A logística para a produção e transporte de produtos feitos no interior do estado segue despontando como um dos principais empecilhos, até porque mesmo a comercialização de mercadorias para cidades vizinhas representa uma viagem de dois dias de barco.

“Então, ainda não temos uma alternativa que gere empregos a um nível suficiente para suprir aqui a necessidade da região e, considerando assim o interior, né, ele é muito difícil a gente gerar adensamento de cadeias produtivas no interior devido a, principalmente, a questão logística”, explica Maria José.

Luís Carlos acrescenta ainda que faltam investimentos em pesquisa, apesar de a região contar com diversos centros de pesquisa e com a Rede Bionorte, que integra todas as universidades públicas da Amazônia Legal.

“Para surgir o empreendimento, tem que ter um capital de inovação. De alguma maneira, o capital brasileiro está muito centrado no Sudeste. O capital de risco que está associado à inovação não está aqui na região. Tivemos um período desafiador há pouco tempo atrás, quando o orçamento para biotecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia do governo anterior era zero. Com orçamento zero, não há  política pública que se sustente”, continua o docente.

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Última Atualização: 24/08/2024