O grupo Socialist Worker, do Reino Unido, publicou em seu sítio, no 16 de abril, um artigo com o título Mulheres trans são mulheres, resistem à decisão da Suprema Corte.
A matéria se baseia em uma decisão ocorrida nessa quarta-feira (16), na qual os juízes decidiram que a definição legal de mulher é baseado no sexo biológico. Segundo o Socialist Worker, “a decisão da Suprema Corte só vai encorajar os direitistas que querem atacar os direitos das pessoas trans e das mulheres”. Trata-se de uma conclusão falsa, pois os ataques aos setores oprimidos da sociedade independem da existência de leis.
A insistência desses setores da esquerda a resolverem tudo pela via judicial só tem conferido mais poder para as instituições do Estado e aumentado a repressão. Em nome dos direitos dos “trans”, novos crimes foram inventados e pessoas estão sendo presas. A censura se instalou por todo o planeta. Por conta de uma palavra, ou um gesto, qualquer indivíduo pode ser cancelado, ter suas redes sociais canceladas, ser multado, perder emprego ou mesmo a liberdade.
Segundo o artigo, “o juiz Lord Hodge concluiu que o significado dos termos ‘sexo’, ‘homem’ e ‘mulher’ na Lei da Igualdade de 2010 se refere ao ‘sexo biológico’”. A decisão alega que qualquer outra interpretação tornaria a lei incoerente e impraticável. O que nem é difícil de compreender, pois os identitários já cadastraram algo em torno de trinta gêneros diferentes.
O Socialist Worker defende que a “decisão é um ataque à já limitada Lei de Reconhecimento de Gênero, que permite que pessoas trans+ obtenham certificados de reconhecimento de gênero após passar por etapas burocráticas”. Aqui, o termo “burocráticas” é uma crítica, pois, para o identitarismo, bastaria alguém declarar o que é para ser admitido como tal. Ou seja, o gênero de uma pessoa é aquilo que se passa em sua cabeça.
Para os identitários, existe, por exemplo, uma categoria que surgiu nos anos 1990, o “gênero fluido”, que, segundo consta, é uma identidade não binária caracterizada pela variação de identidade ao longo do tempo. Essas pessoas podem se sentir como homem ou mulher, ambos, nenhum, ou a combinação desses diferentes momentos. A “fluidez” não segue um padrão fixo e pode ser influenciado por fatores sociais, emocionais ou pessoais.
Os identitários do Socialist Worker alegam que “uma pessoa com um Certificado de Reconhecimento de Gênero no gênero feminino não se enquadra na definição de ‘mulher’ segundo a Lei da Igualdade de 2010”. Para eles, é um erro que a “definição de sexo na Lei da Igualdade de 2010 deixe claro que o conceito de sexo é binário: uma pessoa é mulher ou homem”.
Ora, a biologia…
O texto reclama que a decisão “é sustentada pelo ‘determinismo biológico’”. E que visão dominante de sexo e gênero foi resumida pelo cientista Robert Winston, que teria afirmado categoricamente que não se pode mudar de sexo: “Seu sexo está presente em cada célula do corpo. Você tem sexo cromossômico. Você tem sexo genético. Você tem sexo hormonal”. (grifo nosso)
É importante explicar o termo “visão dominante”, pois, para os identitários, se trata de uma falsificação. Os identitários buscam burlar a realidade, pois, para eles, tudo é uma “disputa de narrativa”. Em outras palavras, qualquer um poderia questionar se a Terra é realmente redonda, alegando que esta é apenas a “visão dominante”.
Outra falsificação no texto diz que “esse tipo de visão pressupõe que diferenças biológicas determinem o que significa ser homem ou mulher”. Mas não é disso que se trata, não se está discutindo o que significar do ser, mas uma disposição biológica que é incontornável.
O próprio texto é obrigado a reconhecer que não se pode mudar o sexo cromossômico; mas, ao mesmo tempo, apela para o fato de que as pessoas podem, e mudam, seu equilíbrio hormonal. Trata-se de uma evidente contradição, pois se os cromossomos não definem o gênero, por que o equilíbrio hormonal definiria? Para que se faz uso desse recurso?
Ao mesmo tempo, em que afirmam que “a ideia de que ser homem ou mulher é redutível à biologia é falsa”, pregam os tratamentos hormonais, que atuam justamente sobre aspectos biológicos para a afirmação de gênero.
Para tentar sustentar essa posição reacionária, o artigo apresenta exemplos sem pé nem cabeça. Dizem que “mesmo que definamos sexo biológico como anatomia reprodutiva, ele ainda não é binário. Muitas mulheres têm níveis naturalmente altos de testosterona, e uma em cada 1.500 pessoas tem características intersexuais”. Os exemplos apenas reforçam que níveis hormonais ou intersexualidade são variações biológicas.
Dentre os argumentos estapafúrdios, encontramos este que “a biologia humana não é fixa e imutável — não importa o que os transfóbicos queiram que acreditemos”. Em primeiro lugar, ninguém está discutindo imutabilidade; e, segundo, é um truque muito gasto esse de tratar como “transfóbico” aqueles que contestam essas posições infundadas dos identitários.
A eliminação das mulheres
Da metade para o final do texto, o Socialist Worker tenta utilizar alguns exemplos supostamente antropológicos, afirmando que “muitas sociedades antigas não tinham ideias rígidas sobre um binário de gênero”. Tentam recorrer a como a humanidade vivia na pré-História etc. Tudo isso para dizer que “não há contradição entre a libertação das mulheres e a libertação trans+”.
Temos que dizer que, no entanto, o identitarismo está em contradição, sim, com a libertação das mulheres, pois essa doutrina, financiada principalmente pelo imperialismo, tenta fazer desaparecer a mulher, que este não seria um sexo real, mas apenas um constructo, uma construção, uma derivação ou resultado de processos históricos e sociais.
As mulheres passaram a ser tratadas como “pessoas que menstruam”, “pessoas que engravidam”. Identitárias como Djamila Ribeiro afirma não ser feminista, mas uma “feminista negra”. E qual é a importância disso?
As mulheres correspondem à metade da população mundial, a opressão que sofrem e a luta pelos seus direitos constituem um grande problema para o imperialismo, que fomenta a ideologia identitária para dividir e enfraquecer esse movimento.
Apagando a figura a mulher, desaparecem junto suas lutas e reivindicações.
Por outro lado, vale salientar que a esquerda abandonou completamente a luta pelo socialismo, e se atolou no identitarismo, além de servir como linha auxiliar do imperialismo na implementação de políticas cada vez mais repressivas. Tudo em nome da liberdade e da democracia, claro.