O artigo Fuga da condenada mostra que Gonet e Moraes estão vencendo, de Moisés Mendes, publicado no Brasil 247 nesta terça-feira (3), mostra que setores da esquerda perderem o rumo de casa e já estão até imitando o linguajar dos direitistas. Mas o texto tem uma qualidade, traz uma verdade: Paulo Gonet é lavajatista, apoiou a operação que perseguiu e condenou Lula; Alexandre de Moraes foi um dos ministros do STF que votou pela prisão de Lula. Sim, eles estão vencendo, e com a ajuda da esquerda.

É estranho ter de ler títulos com a expressão “fuga da condenada”, lembra os embates que a esquerda teve com os direitistas que enchiam a boca para falar que Lula era um condenado. Parece que, pelo menos para parte da esquerda, chegou a hora da vingança. Fazer política com o fígado, porém, não é uma boa ideia.

É preciso usar a razão, lembrar que o Estado é burguês, seu alvo preferencial é classe trabalhadora e seus representantes. Não é o que faz Mendes, que inicia seu texto dizendo:

“Os dois parlamentares campeões de votos da direita e da extrema direita paulista desistiram dos seus mandatos, fugiram e vão morar fora do Brasil. Não é pouca coisa. É o começo da configuração de uma realidade que ameaça se expandir.”

Mais uma vez o autor acerta, essa realidade se expande, uma vez que o regime segue fechando. O STF passou a decidir quais políticos devem exercer seus mandatos. Imunidade parlamentar virou ficção. Segue o texto dizendo:

“Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli abriram a porteira para os próximos grandões cercados pelo sistema de Justiça. Não um Allan dos Santos, tampouco um Oswaldo Eustáquio, mas nomes do primeiro time do bolsonarismo. Com mandatos que somam 1,6 milhão de votos.”

Mendes deveria ponderar que, se fazem isso com os grandões, imagine com os anões. Se 1,6 milhão de votos foram anulados pelo STF, o que impede o órgão de anular uma quantidade muito maior de votos? O autor deveria se lembrar que a vitória de Lula contra Bolsonaro teve apenas 700 mil votos a mais do que isso.

Truculência

Moisés Mendes debocha de Allan dos Santos e Monark, diz que “o que os dois blogueiros foragidos fizeram, com êxito, e os manés do 8 de janeiro tentaram fazer, fugindo para a Argentina, Eduardo e Zambelli conseguem sem esforço com suas famas e imunidades”. Pessoas que estão sendo perseguidas por crime de opinião e ainda chamam o regime brasileiro de “democracia”.

Os manifestantes do 8 de janeiro estão sendo julgados e condenados de forma totalmente irregular. O caso deveria ir para a primeira instância; as pessoas estão julgadas em grupo. Nessas condições, afirmar que o STF está tentando salvar o Estado Democrático de Direito não deve nada aos cínicos de 1964, que diziam que Castelo Branco e demais generais estavam “salvando a democracia” no Brasil.

Quando Mendes escreve que “Eduardo é protegido pelo neofascismo de Estado de Trump e Zambelli tem o carteiraço da cidadania italiana. A fuga passa a ser uma alternativa para mais gente com poder”, está deixando de lado o porquê da fuga: a perseguição política.

O fato Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli terem “poder”, nada impede que sejam perseguidas. Pior, se pessoas assim podem ser perseguidas, o que não acontecerá com o trabalhador?

Mendes afirma que além da condenação de Carla Zambelli “abala a autoestima da extrema direita o fato de que a informação sobre a fuga circulou um dia depois de Gonet ter negado o pedido de libertação de Braga Netto. O general é preso preventivo desde 14 de dezembro”.

O que esse espetáculo todo está fazendo é aumentar a polarização. Não só a extrema direita, mas boa parte da população reprova cada vez mais o STF.

Se sentindo à vontade

O autor quer mais prisões e questiona “todos os que podem fugir, bem sentados na janelinha, continuarão com seus passaportes? Por que Zambelli ainda estava com o seu, apreendido em agosto de 2023 e depois devolvido?”. É vergonhoso que a esquerda se alinhe com as forças de repressão do Estado.

Mendes escreve como se pertencesse ao clube e como se o Estado fosse uma entidade neutra, desprovida de interesses. O fechamento do regime interessa para a burguesia, não importa se prendem este ou aquele político direitista, eles são descartáveis, o que vale é que o clima político esteja cada vez mais sob o autoritarismo necessário para que, futuramente, se promova mais ataques contra a população.

Sonhando acordado

No seu último parágrafo, Mendes escreve que “as fugas provam que o fascismo brasileiro finalmente levou a imposição do sistema de Justiça a sério. Podemos estar às vésperas de revoadas históricas”. O problema é levar a Justiça a sério.

Temos pessoas que se dizem de esquerda, mas que defendem abertamente as instituições mais reacionárias do Estado.

O que está acontecendo com a direita se voltará com ainda mais força contra a esquerda.

Setores da esquerda, por seu turno, não têm clareza do que está acontecendo. Tivemos o caso recente de um cantor que foi preso por fazer “apologia”, por se expressar. Partidos como PSOL estão protestando contra a prisão do MC Poze, mas eles mesmos dizem que a liberdade de expressão deve ser restrita. A polícia prendeu o cantor, pois achou que ele se expressou demais, ou de forma inapropriada.

Quem apoia a repressão vai ter que chorar amanhã. Os que acham certo que parlamentares sejam cassados, são os que vão reclamar quando chegar a vez, como por sinal, já ameaça o deputado psolista Glauber Braga.

Fortalecer o regime, suas instituições é cavar a própria cova. Parte da esquerda não consegue compreender o que está acontecendo, está tão atrelada ideologicamente com a burguesia, que já passou a cuidar de seu Estado, e até imitar o jeito que fala, pensa que tem algum controle no Estado porque elegeu um presidente, que mal consegue governar.

Uma coisa tem que ficar muito bem esclarecida, apoiar repressão é coisa de direita. Fortalecer o Estado é dar suporte para amanhã nos persigam implacavelmente.

 

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Last Update: 04/06/2025