A escritora J. K. Rowling se juntou ao movimento de fake news nas redes sociais contra Imane Khelif, afirmando que ela é um homem.
O pai da boxeadora argelina Imane Khelif, atacada em massa nas redes sociais pela extrema direita, saiu em defesa da filha em entrevista. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, discordou da participação da filha nos Jogos. Donald Trump e Elon Musk se juntaram.
Em entrevista ao canal francês BFMTV, Omar Khelif mostrou a certidão de nascimento da filha. “Aqui está o registro civil de família. Khelif Imane, uma mulher, está escrito aqui, esse documento não mente, ele foi registrado em 1999”.
“Minha filha é uma garota, ela foi criada como uma mulher. É uma menina forte. Eu a criei para que ela trabalhe muito e seja corajosa”, defendeu.
“Ela tem muita força de vontade no trabalho e no treino. A adversária italiana que ela afrontou era incapaz de vencer minha filha porque minha era mais forte e ela era mole”.
Na quinta-feira, a italiana Angela Carini abandonou o ringue após levar um soco de Imane, sem apertar a mão da adversária ao final da partida.
“Eu subi no ringue para combater. Eu não me dei conta mas um soco me doeu muito e eu disse basta”, declarou a pugilista. “Eu não sou ninguém para julgar ou tomar uma decisão, se esta mulher está aqui há uma razão”.
Líderes da extrema direita global se sucederam nas condenações a Imane. “Tapa na cara da ética do esporte e da credibilidade”, disse Matteo Salvini, vice-presidente do conselho italiano. “Uma vergonha”, reagiu Donald Trump. “Eu manteria os homens fora dos esportes femininos”, criticou o candidato à presidência americano.
“Os atletas apresentando características masculinas não deveriam ser autorizados a participar das competições femininas. Não se trata de discriminar ninguém, mas de proteger os direitos das atletas femininas a participar com armas iguais”, criticou Giorgia Meloni. O partido da primeira-ministra, o Irmaos da Italia, é conhecido por diversas figuras que advogam contra direitos femininos, principalmente ao aborto.
A escritora J.K. Rowling, conhecida por criar “Harry Potter”, também se envolveu nos ataques transfóbicos. Ela afirmou que Imane seria um “homem batendo em uma mulher”.
“Assista a isso, depois explique por que você está OK com um homem batendo em uma mulher em público para seu entretenimento. Isso não é esporte. Do trapaceiro intimidador de vermelho até os organizadores que permitiram que isso acontecesse. Isso são homens se deleitando com seu poder sobre as mulheres”, escreveu a escritora.
Watch this (whole thread), then explain why you’re OK with a man beating a woman in public for your entertainment. This isn’t sport. From the bullying cheat in red all the way up to the organisers who allowed this to happen, this is men revelling in their power over women. https://t.co/u32FcDTy9p
Imane nasceu sem útero, nem ovários, assim como sem testículos ou pênis, o que é caracterizado como pessoa “intersexo”, em razão de uma doença congenital, razões pelas quais foi declarada menina ao seu nascimento.
O comitê olímpico hungaro se alinhou aos discursos do primeiro-ministro de extrema direita do país Viktor Orban. “Apenas as concorrentes com características biológicas exclusivamente femininas devem ser autorizadas a concorrer na categoria feminina”. Imane enfrenta uma pugilista do país neste sábado.
“As pessoas que mentem fazem uma campanha feroz contra ela são os inimigos de Deus. Esse documento foi redigido em seu nascimento”, disse o pai da atleta.
“Imane Khelif é um exemplo da mulher argelina. Ela é uma das heroínas da Argélia. Se Deus quiser, ela vai nos honrar com uma medalha e vai levantar a bandeira nacional em Paris”.
“Esse é nosso único objetivo”.
Nas redes sociais, internautas reagiram comovidos pela posição do pai da argelina. “É de vomitar que o pai deva se justificar. É uma vergonha o que está acontecendo”, reagiu Hamid Chabani no Instagram.
“Que tristeza se sentir obrigado a se justificar”, publicou Nathalie Rousseau.
“Um pai que deve se justificar. Que vergonha, mas em que mundo vivemos?”
O Comitê Olímpico Internacional se pronunciou em defesa da participação de Imane nos Jogos. “A boxeadora argelina nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher, lutou no boxe como mulher, tem um passaporte feminino”.
Alessandra Carini se desculpou pelas declarações sobre Imane, dizendo que a beijaria caso a reencontrasse.
