O novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, do Republicanos, se pronunciou recentemente, em entrevistas concedidas a alguns órgãos de imprensa, sobre as condenações dos manifestantes do dia 8 de janeiro, que foram acusados de tentativa de golpe de Estado. Motta chamou as condenações de “exagero” e acenou para um apoio ao projeto de lei de anistia que tramita no Congresso. Ainda que a posição do deputado com relação aos presos não seja errada, a ironia está no fato dele ter sido eleito apoiado pela bancada do PT, que passou os últimos 2 anos fazendo campanha contra a anistia.
Na última sexta-feira (7), Motta declarou que “não pode penalizar uma senhora que passou ali na frente do palácio, não fez nada, não jogou uma pedra e receber 17 anos de pena para regime fechado”.
Essa declaração é correta. Não se pode penalizar todos os manifestantes por conta de supostos crimes cometidos por um ou outro. penalização coletiva é uma perseguição política e digna de ditaduras.
No entanto, o deputado do Republicanos, evidentemente, não está preocupado com os direitos democráticos dos trabalhadores. Como de praxe, a direita tem uma política oportunista, de ocasião.
Segundo Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), entrevista para a TV 247, na sexta-feira: “essa eleição indica uma guinada a direita, do Congresso em geral. O Hugo Motta falou que vai batalhar pela anistia do pessoal do 8 de janeiro. Já falou em independência do Congresso em relação ao STF. A tendência dele se aproximar do Bolsonaro é muito grande. O problema é o seguinte: se eles sentirem que o PT não vai ganhar a eleição, esse pessoal todo vai bandear para a direita.”
As declarações do novo presidente da Câmara apontam para uma aproximação com o bolsonarismo, contra o governo Lula. Mesmo que ele não seja categórico sobre a anistia, o que o colocaria frontalmente contra a posição do PT, partido do governo, suas falas apontam claramente nessa direção. Na mesma entrevista, Motta falou:
“O que aconteceu não pode ser admitido que aconteça novamente. Foi uma agressão às instituições, uma agressão inimaginável, ninguém imaginava que aquilo pudesse acontecer. Agora querer dizer que foi um golpe… Golpe tem que ter um líder, tem que ter pessoa estimulando, apoio de outras instituições interessadas, como as Forças Armadas, e não teve isso. Ali foram vândalos, baderneiros que queriam, com a inconformidade com o resultado da eleição, demonstrar sua revolta. Achando que aquilo poderia resolver talvez o não prosseguimento do mandato do presidente Lula. E o Brasil foi muito feliz na resposta, as instituições se posicionaram de maneira muito firme”.
Essa situação é mais um ponto da desmoralização do PT e do governo Lula junto a sua própria base. Nesses dois anos de governo Lula, as principais campanhas políticas que o PT realizou foram contra o aumento de juros pelo Banco Central e contra a anistia dos manifestantes do 8 de janeiro.
Porém, nas últimas semanas, o indicado do governo para o Banco Central declarou que seguirá a política de aumento de juros, exatamente como fazia o presidente do BC indicado por Bolsonaro. Agora, o presidente da Câmara eleito pelo PT anuncia que também irá seguir a política bolsonarista com relação ao 8 de janeiro.
A posição correta com relação ao 8 de janeiro é, efetivamente, a garantia de todos os direitos, principalmente o direito à manifestação, às pessoas que participaram daquele ato. Ainda assim, do ponto de vista do PT e do governo, é extremamente negativo para a sua relação com as próprias bases, voltar atrás permanentemente das políticas defendidas durante a campanha eleitoral.