O aumento de 0,25% na taxa Selic anunciado pelo Copom na noite desta quarta-feira (18/06) vai gerar um gasto adicional de R$ 12,2 bilhões ao governo federal, segundo cálculos do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Apenas nos últimos 12 meses (concluídos em abril de 2025) o governo gastou R$ 928,4 bilhões com os juros da dívida – o equivalente a 7,71% do PIB.
“Esses quase R$ 1 trilhão drenados da União para os juros com os títulos da dívida pública equivalem a mais de cinco vezes o orçamento para a Educação e mais de três vezes os recursos para a Saúde”, afirma o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale.
Um jogo em favor da financeirização
De acordo com comunicado divulgado após a reunião, o Copom citou como fatores de influência o acirramento das tensões geopolíticas e as incertezas internas em relação à política fiscal, além do mercado interno aquecido.
Em entrevista ao Contraf-CUT, o economista Ladislau Dowbor, professor titular de pós-graduação da PUC-SP, afirma que o Brasil é refém da financeirização, termo que define a influência do setor financeiro na economia, e que valoriza mais o capital em detrimento das atividades produtivas e dos ganhos reais para as famílias.
“Com isso, grande parte do dinheiro que as famílias e o setor produtivo obtêm, a partir do trabalho, é drenado por meio de taxas de juros cobradas no Brasil”, ressaltou.
Dados do Banco Central mostram que, no mês de fevereiro, a taxa média de juros para as famílias e empresas chegou a 43,7% ao ano – segundo Dowbor, a média anual da taxa de juros na Europa ou na China “é algo entre 4% e 6%. Nenhuma família aguenta a prática dos níveis do sistema financeiro brasileiro”.
Ladislau calcula que esse sistema de drenagem retira das famílias brasileiras o equivalente a R$ 1 trilhão (10% do PIB), enquanto são drenados outros 3% do PIB das empresas e do Estado, cerca de 8% do PIB do Estado.
“Se considerarmos os ganhos com a isenção de impostos sobre lucros e dividendos, que não temos como calcular exatamente, mais a evasão fiscal, que representa cerca de 6% do PIB, por baixo, podemos dizer que o sistema da financeirização drena 25% do PIB, ou seja, um quarto de todos os esforços produtivos do país são captados por gente que não produz nada”, pontuou.
O economista registrou também que a maior parte desses recursos são obtidos por grupos internacionais, como Black Rock, States Street, Vanguard, JPMorgan e Goldman Sachs. “Esse é o tamanho do desafio hoje: que o dinheiro volte a ser útil e alimente o processo produtivo”, concluiu.