No dia 15 deste mês, foi publicada uma coluna no portal Poder 360 na qual seu escritor, o colunista Artur Romeu, descreve o que acredita que seja a destruição da liberdade de imprensa no Brasil e no resto do mundo. A matéria é intitulada de Jornalismo em tempo de erosão democrática.
A preocupação de Romeu, no entanto, não está exatamente na liberdade de imprensa, mas sim, naquilo que ele chama de “colapso do nosso ecossistema informacional”, que teria começado com a chamada “desinformação” pela internet, o que faria com que o jornalismo, que para ele se trata do jornalismo da imprensa burguesa no Brasil, fosse mais importante para o momento em que vivemos.
O artigo de Romeu tenta passar a ideia de que, no Brasil, o que persegue a imprensa, ou, em suas palavras, a “a ascensão de uma cultura política hostil à imprensa”, partiria de indivíduos que teriam proferido “ataques” à imprensa por meio de ofensas nas redes sociais. Ele chega a citar um documento da Coalizão em Defesa do Jornalismo, da qual o Repórteres Sem Fronteira (RSF), organização na qual o próprio Romeu é diretor do escritório para a América Latina. No documento em questão, são compilados mais de 57 mil supostos “ataques” à imprensa, principalmente ataques direcionados a jornalistas mulheres.
O problema é, isso são de fato ataques à imprensa? Durante seu texto, Romeu pede para que fique a cargo do Judiciário “a urgência de responsabilizar exemplarmente quem violenta o jornalismo e coibir as tentativas de assédio judicial contra a imprensa, que se multiplicam em ações movidas principalmente por autoridades visando a silenciar vozes críticas”.
Romeu, porém, não diz que, hoje, o principal inimigo da liberdade de imprensa no Brasil é justamente o Judiciário. Para se ter uma ideia, o Partido da Causa Operária ficou meses sem acesso às sua contas em várias redes sociais por ordens de Alexandre de Moraes, em processo que corre em segredo de justiça até hoje.
Não faz sentido clamar por liberdade de imprensa e, ao mesmo tempo, pedir para que o Judiciário tome conta do assunto. Levando em conta que, para além dos pedidos para calar o jornalismo, o que, aí sim é um problema de liberdade de imprensa, os supostos “ataques” nas redes sociais nada mais são do que a manifestação da liberdade de expressão.
Liberdade de expressão e de imprensa são quase que dois nomes para a mesma coisa.
Como dissemos acima, o que mais preocupa os dois direitos é, no Brasil, o Judiciário, em especial, o Supremo Tribunal Federal. Órgão que é controlado pelo imperialismo, o grande inimigo da liberdade de expressão em todo o mundo. Neste momento, inclusive, o STF se configura como o governo de fato do Brasil e persegue todos os que se opõem a seus desmandos, seja na direita, seja na esquerda.
Para além do imperialismo, propriamente dito, “Israel” é também um dos grandes problemas para a liberdade de expressão em todo o planeta. Isso porque toda a imprensa pró-imperialista tem veiculado as mentiras fabricadas por “Israel” e tem escondido o genocídio na Palestina.
É interessante notar que, durante seu texto, Artur Romeu diz que “em 2024, foram ao menos 54 jornalistas mortos no mundo em razão da sua atividade”. No entanto, fontes indicam que esse número seria de 122 jornalistas, considerando que “Israel” assassinou, em 2024, 85 profissionais, sendo 3 no Líbano e 82 na Palestina.
No entanto, o RSF, organização da qual Romeu é diretor, considera que o número é consideravelmente menor, totalizando 18 assassinatos cometidos por “Israel” no Líbano e na Palestina.
É interessante notar também que, diferente das denúncias de “ataques” à imprensa nas redes sociais, o que “Israel” faz é assassinar aqueles que poderiam contar ao mundo o que acontece no genocídio da Palestina, um método que realmente ataca a imprensa com o objetivo de atemorizar os jornalistas e os eliminar fisicamente.
A prática é muito mais perigosa do que simples declarações, como Jair Bolsonaro (PL) estava acostumado a fazer quando era presidente e como vários líderes da extrema direita fazem. Colocar o foco do perigo à liberdade de imprensa em declarações e ofensas verbais mascara o perigo real que a imprensa, principalmente a imprensa independente, sofre.
É importante destacar também que, por mais ofensivos que sejam as ofensas nas redes sociais ou em entrevistas, o que acontece na Palestina e no Brasil, por meio do STF, é feito por instituições do Estado capitalista. A censura é uma arma de classe que a burguesia utiliza para, dentre outras coisas, impedir o desenvolvimento de ideias contrárias a sua dominação.
Já no fim do texto, Romeu argumenta que um outro problema pelo qual passa a imprensa é a falta de financiamento, já que a propaganda que antes víamos nos jornais e nas redes de televisão, hoje estão na Internet. A solução para o autor, no entanto, estaria em receber financiamento da Usaid, agência do imperialismo norte-americano que vem sendo desmontada no governo de Donald Trump. É no mínimo curioso que alguém peça para uma agência estrangeira que fez inúmeros acordos com a ditadura de 1964, vide o acordo “MEC-Usaid”, para proteger a liberdade de imprensa no Brasil.
No entanto, em outras matérias e entrevistas, Artur Romeu já defendeu várias vezes a Usaid, inclusive agora diante do desmonte por parte de Donald Trump, o que coloca em xeque sua defesa dos direitos de liberdade de imprensa e liberdade de expressão.
O que propõe Artur com o financiamento da Usaid, assim como quando pede para que o Judiciário aja “exemplarmente” em defesa da imprensa, ou quando pede para que as inteligências artificiais e redes sociais sejam regulamentadas (por que não revisar a concessão dos sinais de rádio e televisão no Brasil, que estão nas mãos das mesmas pessoas desde antes da ditadura?), na verdade, é um disfarce para justamente impedir a liberdade de imprensa.