
Nesta semana, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede Sustentabilidade-SP), foi alvo de ataques e ofensas durante uma audiência parlamentar no Senado Federal, .O senador Marcos Rogério (PL-RO) afirmou que era necessário separar a mulher da ministra, dizendo que “a mulher merecia respeito, mas a ministra, não”.
O episódio reacendeu o debate sobre o machismo no Congresso Nacional, tema que permanece presente no cotidiano de mulheres parlamentares, apesar de ocuparem cargos de poder e influência. Senadoras e deputadas relatam que, mesmo dentro do Parlamento, enfrentam obstáculos como interrupções constantes, deslegitimação das falas, intimidações e, em casos extremos, agressões físicas.
CANALHA! Senador Plínio Valério disse que tinha vontade de ENFORCAR a Marina Silva, um ABSURDO desse não pode passar batido. pic.twitter.com/8qxdL2YxC8
— André Janones (@AndreJanonesMG) March 20, 2025
Ao g1, A deputada Delegada Katarina (PSD-SE) classificou o machismo no Legislativo como “violência velada” que visa minar a presença e a força das mulheres. Segundo ela, esse tipo de agressão não é apenas explícito, mas também sutil e persistente.
Com 34 anos de mandato, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que já foi vítima de agressões físicas e ameaças dentro do Congresso. Em uma ocasião recente, foi ameaçada por um colega que sugeriu ações violentas contra opositores. Jandira destaca que projetos relacionados a gênero costumam sofrer rejeição automática, mesmo quando o termo é utilizado em contextos neutros, como “gênero alimentício”.

A desigualdade de gênero no Parlamento brasileiro é evidente nos números. Mulheres ocupam apenas 18% das cadeiras na Câmara dos Deputados e cerca de 20% no Senado, contrastando com os 51,5% da população feminina no país, segundo o IBGE. A senadora Daniella Ribeiro (PP-PB) citou episódios em que foi convidada a ceder seu lugar para homens, mesmo exercendo cargos elevados, e lembrou ofensas que desmereceram sua função legislativa.
Embora não tenha testemunhado agressões explícitas, a senadora Teresa Leitão (PT-PE) ressaltou que percebe um desconforto quando mulheres contestam homens no plenário. Ela defende avanços estruturais para fortalecer a participação feminina, como cotas para candidaturas e mais tempo de televisão.
Desde 2013, foram registradas 86 denúncias formais de violência política de gênero na Câmara dos Deputados, incluindo interrupções, ameaças e constrangimentos. A partir de 2021, a Lei contra violência política de gênero passou a punir esses atos com penas que podem chegar a quatro anos de prisão, além de multa e proibição de propaganda eleitoral depreciativa.
O caso de Marina Silva evidencia o desafio enfrentado pelas mulheres na política. Durante a audiência, o senador Marcos Rogério (PL-RO) interrompeu repetidas vezes a ministra, cortando seu microfone e afirmando que ela deveria “se pôr no seu lugar”. Marina rebateu dizendo que não seria uma “mulher submissa”. Em resposta, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) fez distinção entre a mulher e a ministra, dizendo que a primeira merecia respeito, mas a segunda, críticas.