O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ex-articulador da política de pressões contra o Brasil no governo Donald Trump, declarou nesta terça-feira (4) que recebeu com “otimismo” a notícia do diálogo telefônico entre o presidente dos Estados Unidos, e o presidente Lula (PT). Morando nos EUA desde o início do ano, o parlamentar afirma ver na retomada das conversas um caminho promissor, desde que “guiado por princípios claros”, segundo publicou em seu perfil no X (antigo Twitter).
O entusiasmo do deputado, no entanto, contrasta com seu histórico recente e nada discreto. Eduardo foi um dos articuladores das barreiras comerciais impostas por Trump ao Brasil, exatamente as mesmas que agora o governo Lula tenta desfazer.
Segundo o Palácio do Planalto, Lula pediu ao presidente americano a redução das tarifas que ainda atingem produtos brasileiros e elogiou o recuo dos EUA ao retirar a sobretaxa de 40% incidente sobre itens como carne e café. O gesto foi recebido como positivo, mas segue aquém do necessário.
Mesmo após a primeira flexibilização, o governo brasileiro reforçou que ainda há tarifas pendentes e cobrou velocidade nas negociações. Trump, por sua vez, descreveu a conversa como “ótima” e mencionou ter tratado de “comércio” e “sanções”, um eufemismo para o conjunto de medidas punitivas impostas por Washington após “certas coisas que aconteceram”.
Essas “certas coisas” incluem não apenas o tarifaço comercial, mas também a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), além da revogação de vistos de autoridades brasileiras. As sanções foram justificadas pelo governo americano com base em decisões e investigações do STF, inclusive processos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pai de Eduardo.
Sanções: de instrumento de pressão a moeda de negociação
Eduardo agora reaparece para defender, com a tranquilidade de quem não participou do incêndio, as mesmas sanções que voltaram ao centro das negociações diplomáticas.
“Sanções nunca são um fim em si mesmas; são instrumentos legítimos para corrigir violações graves quando outras vias foram bloqueadas”, afirmou.
A ironia aumenta quando o deputado passa a endossar o diálogo entre Trump e o governo Lula, o mesmo que ele rotineiramente deslegitima. “Confiamos na liderança do presidente Trump para negociar com o Brasil um entendimento que proteja os interesses estratégicos dos Estados Unidos no hemisfério e, ao mesmo tempo, reconheça a urgência da restauração das liberdades civis e do Estado de Direito para o povo brasileiro”, disse.
Numa guinada retórica, Eduardo, que historicamente rejeita reconhecer a legitimidade do atual governo, concluiu que qualquer avanço nas relações bilaterais exige enfrentar “a atual crise institucional do Brasil”.
Uma crise que, vale lembrar, foi alimentada justamente pelo discurso que ele próprio ajudou a disseminar.