Por Elias Tavares

O PSDB está morto. E não foi um colapso repentino, mas um declínio anunciado, um processo lento de esvaziamento que começou no auge do poder e terminou na irrelevância. De Fernando Henrique Cardoso a José Luiz Datena, o partido passou por uma trajetória impressionante: de protagonista absoluto da política brasileira a um espectro sem identidade. O tucano, outro símbolo da modernidade e da estabilidade econômica, simplesmente perdeu o rumo, ficou para trás e agora vê seu próprio fim sem ter forças para reagir.

A ASCENSÃO RÁPIDA E O DOMÍNIO POLÍTICO

A história do PSDB é, inicialmente, uma história de sucesso. Fundado em 1988 como uma dissidência do PMDB, o partido rapidamente se consolidou como uma força reformista, se colocando como alternativa ao fisiologismo da época. Mas o grande ponto de virada aconteceu em 1994, com o Plano Real. Como ministro da Fazenda de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso foi o grande nome do plano que estabilizou a economia e pavimentou sua eleição para a Presidência da República.

Naquele mesmo ano, Mário Covas venceu a disputa pelo governo de São Paulo, garantindo ao PSDB o controle dos dois maiores orçamentos do país. Os tucanos não estavam no topo. E, com a reeleição de FHC e Covas em 1998, consolidaram sua hegemonia. O partido comandava o Brasil e sua maior economia regional, sempre se posicionando como o contraponto ao PT de Lula.

O COMEÇO DO FIM: O CANSAÇO DOS MESMOS NOMES

A primeira grande fissura ocorreu quando o PSDB se acomodou. Enquanto Lula construiu um PT que soube se renovar e trazer novas lideranças, o PSDB ficou refém de uma dança de cadeiras entre os mesmos nomes.

José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves foram os principais candidatos tucanos nas eleições presidenciais de 2002, 2006, 2010 e 2014. Cada um deles teve seu momento de protagonismo, mas nenhum conseguiu romper com a narrativa de que o partido representava sempre a mesma coisa. Enquanto isso, a polarização entre PSDB e PT manteve os tucanos relevantes, mas não os tornou mais fortes.

A derrota de Alckmin em 2018 foi humilhante. Com apenas 4,76% dos votos, o ex-governador de São Paulo viu sua candidatura ser engolida pela ascensão de Jair Bolsonaro. O Brasil havia mudado, e o PSDB não percebeu.

JOÃO DORIA: A ILUSÃO DA RENOVAÇÃO

Em 2016, João Doria tentou trazer um novo fôlego ao partido ao vencer a eleição para a prefeitura de São Paulo no primeiro turno. Dois anos depois, derrotou Márcio França e assumiu o governo do estado. Parecia que o PSDB poderia se reinventar, mas as disputas internas foram mais fortes do que qualquer tentativa de modernização.

Doria entrou em guerra com os próprios tucanos e sua vitória em 2018 foi apertada, diferente da estabilidade de anos anteriores. A racha interna enfraqueceu ainda mais o partido e abriu espaço para novas forças políticas. O PSDB, que antes dominava São Paulo, perdeu o protagonismo para nomes como Rodrigo Garcia, que sequer conseguiu chegar ao segundo turno em 2022.

O ÚLTIMO SUSPIRO: DATENA EA DERROTA HUMILHANTE EM SÃO PAULO

O golpe fatal veio em 2024. Sem nomes de peso e completamente desorganizado, o PSDB tentou, às pressas, lançar José Luiz Datena para a prefeitura de São Paulo. A estratégia fracassou de maneira histórica. Pela primeira vez, o partido não conseguiu eleger um único vereador na cidade que sempre foi sua fortaleza.

Esse foi o momento simbólico do fim: o PSDB, que governou São Paulo por décadas, que lançou nomes como Covas, Serra, Alckmin e Doria, que dominou a política paulista como poucos, simplesmente desaparecidos.

O QUE SOBROU DO PSDB?

Internamente, o partido virou um campo de batalha. Aécio Neves e Eduardo Leite disputam o que restou da legenda, enquanto antigos caciques abandonaram o barco. Geraldo Alckmin, um dos maiores nomes da história tucana, já está no governo Lula.

E no meio desse vácuo, Gilberto Kassab poderia ocupar o espaço. O PSD, construído com paciência e estratégia, virou uma nova referência de centro no Brasil, enquanto o PSDB definia. O partido que já governou o Brasil, São Paulo e tantos estados e municípios se tornou irrelevante.

Agora, restam duas opções: ou o PSDB se dissolve no PSD de Kassab, ou tenta uma fusão com o MDB, tornando-se um apêndice sem vida própria. Mas qualquer que seja o caminho, o destino já está selado: o PSDB, como os conhecidos, chegou ao fim.

O tucano, que um dia voou alto, agora é apenas poeira na história da política brasileira.

Elias Tavares é cientista político.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN.

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Last Update: 10/02/2025