O senador Fabiano Contarato (PT-ES) voltou a escancarar sua disposição em operar como um infiltrado da extrema direita dentro do Partido dos Trabalhadores. Em entrevista recente à TV 247, o senador capixaba fez campanha aberta por uma guinada ainda maior do PT à direita, utilizando como pretexto o velho chavão da “segurança pública”. O parlamentar, que já foi delegado por quase três décadas, repetiu o programa característico do bolsonarismo na política nacional nos últimos anos: de que é preciso endurecer as penas, ampliar os mecanismos de repressão e — como não poderia deixar de ser — explorar demagogicamente a questão da corrupção para atingir objetivos reacionários.
O senador deu voz à cantilena mais rasteira da extrema direita ao afirmar que “as pessoas pobres estão morrendo dentro das cadeias. E um político condenado por corrupção vai cumprir prisão domiciliar. Isso é inaceitável”. Essa frase, que caberia perfeitamente na boca de Sérgio Moro ou de Deltan Dallagnol, coloca o senador em total sintonia com o golpismo judicial que destruiu o Brasil na década passada.
Ao dizer que a prisão domiciliar de políticos é “inaceitável”, Contarato sugere que os tribunais do regime burguês deveriam ser mais duros justamente com os perseguidos políticos. Ou será que, segundo ele, o presidente Lula deveria ter morrido na cadeia, para que as prisões fossem “aceitáveis”?
A esquerda não pode esquecer que o presidente do partido que Contarato supostamente representa no Senado foi condenado, sim, por “corrupção”. A acusação, no entanto, foi um pretexto forjado por uma operação a serviço do imperialismo e da direita nacional, que resultou em sua prisão política por 580 dias.
Historicamente, a agitação anticorrupção serve como instrumento para atacar os setores populares organizados e instaurar regimes autoritários, como se viu com o golpe de 2016, mas décadas antes, em 1964 também. É exatamente esse o projeto que Contarato ajuda a reabilitar com declarações oportunistas, embaladas em um discurso moralista.
O senador, por acaso, é reincidente em seu alinhamento com a extrema direita. Em plena marcha do genocídio promovido por “Israel” contra o povo palestino, quando mais de 55 mil palestinos — em sua maioria mulheres e crianças — já haviam sido assassinados por bombardeios e bloqueios criminosos, Contarato teve a desfaçatez de aprovar no Senado uma moção reafirmando a “amizade” entre o Brasil e a ditadura sionista. No momento em que o mundo inteiro denuncia os crimes de guerra da entidade artificial no Oriente Médio, o senador petista estende a mão ensanguentada do Estado sionista, demonstrando total alinhamento com os interesses do imperialismo.
A nova campanha de Contarato em favor da repressão, camuflada sob o falso dilema da “segurança pública”, é uma investida contra o próprio princípio elementar do pensamento socialista. Para a esquerda, o “crime” não é um problema de polícia, mas de sociedade.
Não há como debater a violência sem apontar o dedo para os responsáveis por ela: os banqueiros, os grandes capitalistas e seus representantes no aparelho do Estado. Enquanto o povo estiver sendo superexplorado, com salários miseráveis, desemprego estrutural e condições de vida indignas, o chamado “crime” continuará sendo uma via concreta de ascensão social para a juventude dos bairros mais pobres.
O “bandido”, como a direita gosta de rotular, é, antes de tudo, vítima da miséria generalizada imposta pelo regime. Vítima de um sistema que rouba a vida do povo, não apenas nos becos, mas nos tribunais, no Congresso e nos palácios.
Se há um assalto em curso no Brasil, ele é comandado por dentro da lei: o maior roubo que assola o País é a rapina da dívida pública, que consome metade de todo o orçamento nacional para alimentar os cofres dos banqueiros nacionais e estrangeiros. A criminalidade nas ruas é, antes de tudo, um reflexo da ação dos piores salteadores do planeta contra o País, que atuam apoiados por Fernando Haddad no Ministério da Fazenda e Gabriel Galípolo no Banco Central, arbitrando uma política econômica e monetária que não faz outra coisa além de arrancar até o último centavo do povo para abastecer os tubarões monopolistas.
Mas a direita — da qual Contarato se faz porta-voz — não quer resolver esse problema. Pelo contrário, quer ampliá-lo, quer prender cada vez mais gente, quer usar o sistema prisional como depósito de seres humanos descartáveis.
Prender o pobre, reprimir a juventude negra e justificar o aparato repressivo do Estado: essa é a função da “segurança pública” nos moldes defendidos pelo bolsonarismo e endossados pelo senador petista. Ao declarar que a esquerda deve se engajar na pauta da segurança pública sem apresentar qualquer crítica ao Estado policialesco, Contarato mostra que está mais preocupado em agradar a classe dominante do que em defender os interesses do povo.
Em vez de se opor ao encarceramento em massa, defende penas mais duras. Em vez de denunciar a violência policial, quer equipar ainda mais as forças de repressão. Em vez de lutar pela libertação dos explorados, quer alimentar a máquina de moer gente.
O senador petista reforça todas as posições mais reacionárias do bolsonarismo. Pior ainda: ao fazer isso de dentro do PT, desmoraliza a esquerda. Defender o povo é incompatível com alimentar a máquina de repressão do Estado.
Ao insistir nessa política, Fabiano Contarato se revela como o que já ficou evidente há muito tempo: um elemento estranho dentro do PT. Sua atuação no Senado é a reprodução — agora com crachá petista — das palavras de ordem da Lava Jato, do bolsonarismo e do imperialismo. Trata-se de um parlamentar que despreza a luta de classes, criminaliza os pobres e faz propaganda da repressão como se isso fosse compatível com qualquer projeto popular.
A esquerda precisa denunciar de maneira intransigente esse tipo de infiltração. Não se trata de diferença de opinião ou debate interno. Contarato não está “propondo um debate”: ele está empurrando o partido para o mesmo terreno que destruiu o Brasil em 2016. Suas posições não têm nada de progressistas. São reacionárias, moralistas e perigosas.
Seu papel hoje é sabotar o campo por dentro. Contarato deve ser criticado com veemência, exposto e isolado politicamente.