D. Quixote e a renovação das esperanças e ilusões

por Rodrigo Medeiros

O tema deste artigo versa sobre a necessidade de acreditarmos em transformações socioeconômicas e no progresso da vida coletiva. Esperança ou ilusão? Para tanto, evoco um personagem literário que transita entre a lucidez e a loucura com rara maestria. Refiro-me ao clássico ‘Dom Quixote de La Mancha’, de Miguel de Cervantes (1547-1616). Não estou defendendo a reedição da luta contra moinhos de vento. Buscarei ser breve nos meus comentários.

A representação de Dom Quixote como metáfora da alma ocidental se torna evidente quando observamos a sua busca incessante e incansável por ideais nobres, que o leva a lutar bravamente contra a decadência e a corrupção que permeiam a sociedade em que vive. Através das várias e emocionantes aventuras do cavaleiro andante, Cervantes apresenta as contradições e os conflitos que caracterizam a sociedade da época, refletindo com profundidade as inquietações e os anseios da alma ocidental que se ressentem das injustiças e das desigualdades que assolam os indivíduos.

As aventuras de Dom Quixote não se limitam apenas à luta física, mas também simbolizam uma busca inabalável pela verdade e pela justiça, demonstrando assim a constante e admirável luta pela realização de um ideal moral e ético que transcende o tempo e continua a ressoar nas lutas contemporâneas. A figura do cavaleiro idealista, que corajosamente desafia as convenções sociais e os limites impostos pela realidade cotidiana, representa de maneira eloquente as aspirações e os valores que compõem a essência da alma ocidental, tornando-se assim um símbolo atemporal das esperanças, anseios e dos sonhos da humanidade ao longo da história, uma fonte de inspiração para futuras gerações.

Lealdade e honra são valores fundamentais presentes na figura de Dom Quixote, que demonstra um compromisso inabalável com suas convicções. A generosidade e o altruísmo também são atributos que o protagonista representa, ao dedicar-se a proteger os mais fracos e desfavorecidos. A perseverança e a determinação de Dom Quixote em buscar um mundo melhor, mesmo diante da incompreensão e do ridículo, simbolizam a resiliência e a esperança que permeiam a alma ocidental.

Sobre a relação entre loucura e sanidade em Dom Quixote, é possível dizer que se trata de um dos aspectos mais complexos e fascinantes da obra de Cervantes. Dom Quixote oscila entre momentos de lucidez e momentos de completa loucura, o que levanta muitas questões sobre a natureza da sanidade e da loucura. Cervantes promove uma instigante reflexão sobre a linha tênue que separa a sanidade da loucura.

A sua obra desafia os conceitos tradicionais de sanidade e loucura, convidando-nos a questionar as fronteiras entre esses dois estados e a considerar a possibilidade de que a verdadeira loucura talvez resida na negação dos ideais e sonhos que motivam as ações de Dom Quixote. A obra de Cervantes transcende a mera narrativa e se torna um convite permanente à contemplação filosófica e à análise psicológica do ser humano e suas complexidades.

Termino este artigo citando uma passagem que considero muito interessante na obra de Cervantes: “quando não tens experiência nas coisas da vida, todas as coisas que apresentam alguma dificuldade te parecem impossíveis. Confia no tempo, que costuma dar doces saídas a muitas amargas dificuldades”. Feliz e próspero 2025.

Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)

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Last Update: 02/01/2025