Cuba acusou nesta sexta-feira (12) os Estados Unidos de promover uma escalada de “terrorismo marítimo” no Caribe ao apreender um navio petroleiro venezuelano em águas internacionais, em ação que Havana classificou como parte da guerra econômica conduzida por Washington contra a ilha.
“Essa ação faz parte da escalada dos Estados Unidos para impedir o legítimo direito da Venezuela de utilizar e comercializar livremente seus recursos naturais com outras nações, incluindo o fornecimento de hidrocarbonetos para Cuba”, afirmou o ministério das Relações Exteriores de Cuba, em nota.
Para Havana, a apreensão do navio viola aprofunda a política de “máxima pressão e asfixia econômica” imposta pelos Estados Unidos.
Segundo o comunicado oficial, a operação tem impacto direto sobre o sistema energético cubano e “consequentemente, no cotidiano do nosso povo”, ao dificultar o fornecimento de combustível proveniente da Venezuela em meio à crise elétrica enfrentada pela ilha.
No mesmo comunicado, a chancelaria cubana afirmou que a apreensão do petroleiro representa “a aplicação do corolário Trump da Doutrina Monroe” e constitui “um ataque à proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz”.
O governo cubano acrescentou que a apreensão do petroleiro não é um episódio isolado, mas a continuidade de uma política adotada já no primeiro mandato de Donald Trump.
Entre 2017 e 2021, Washington impôs sanções secundárias, perseguiu navios e empresas envolvidas no transporte de petróleo venezuelano e adotou medidas destinadas a “obstaculizar o livre comércio dos recursos petrolíferos venezuelanos”.
À época, os Estados Unidos ampliaram sanções contra a PDVSA, penalizaram armadores e seguradoras e passaram a monitorar rotas marítimas no Caribe, afetando diretamente o fornecimento de combustível a Cuba.
NYT descreve Cuba como efeito central da pressão dos EUA sobre Caracas
A leitura apresentada por Havana encontra respaldo também em análises publicadas pela imprensa dos Estados Unidos.
Reportagens recentes do New York Times apontam que a escalada de sanções e ações diretas contra a Venezuela é tratada, dentro da Casa Branca, como um instrumento para pressionar indiretamente o governo cubano.
Segundo o New York Times, a estratégia do governo Donald Trump contra a Venezuela tem como efeito — e objetivo assumido nos bastidores — enfraquecer Cuba.
Reportagens publicadas nesta semana indicam que a ofensiva contra Caracas, que inclui sanções ampliadas e a apreensão de um navio com petróleo venezuelano destinado à ilha, é vista na Casa Branca como um caminho indireto para pressionar Havana.
Essa avaliação é explicitada por autoridades e ex-autoridades dos Estados Unidos ouvidas pelo jornal.
Juan S. Gonzalez, ex-principal assessor da Casa Branca para assuntos do Hemisfério Ocidental, afirmou que a estratégia parte da premissa de que o cerco à Venezuela produziria efeitos diretos sobre Cuba.
“A teoria de mudança deles envolve cortar todo o apoio a Cuba. Sob essa abordagem, quando a Venezuela cair, Cuba virá em seguida”, disse.
O New York Times aponta que essa leitura é defendida há anos por Marco Rubio, atual secretário de Estado e conselheiro de Segurança Nacional, que vê o enfraquecimento do governo cubano como um subproduto desejável da pressão sobre Caracas.
Em declarações anteriores citadas pelo jornal, Rubio afirmou que “qualquer coisa que seja ruim para uma ditadura comunista é algo que eu apoio”.
Filho de imigrantes cubanos radicados na Flórida antes da Revolução de 1959, Rubio construiu sua trajetória política com uma plataforma centrada no enfrentamento aos governos de Cuba e da Venezuela, defendendo sanções, isolamento diplomático e o endurecimento da política externa dos Estados Unidos no Caribe e na América Latina.
Segundo o jornal, essa agenda lhe garantiu forte apoio no eleitorado conservador do sul da Flórida e o aproximou da base republicana alinhada a Donald Trump.
Nesse contexto, avalia o New York Times, a política de pressão contra a Venezuela aparece, dentro da própria Casa Branca, não apenas como uma resposta ao governo de Caracas, mas como parte de uma estratégia mais ampla que articula interesses geopolíticos, eleitorais e ideológicos no hemisfério.