A eleição de quatro mulheres para a presidência das seções estaduais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) representa uma conquista histórica e simbólica para o movimento sindical brasileiro. O avanço reforça o compromisso da Central com a luta por igualdade de gênero e maior representatividade das mulheres nos espaços de poder.
Foram eleitas até agora: Valéria Morato em Minas Gerais, Ana Cristina no Amazonas, Sueli Cardozo em Roraima e Niedja Santana em Rondônia. Quatro lideranças femininas que se somam à construção de um sindicalismo mais plural, combativo e sensível às demandas das trabalhadoras brasileiras.
Em Minas Gerais, a dirigente Valéria Morato destaca que foi alcançada a paridade qualificada na direção estadual da CTB: “Não apenas temos representação igual em números, mas também em cargos. É o resultado de muito diálogo e conscientização com as entidades filiadas. Ter a continuidade do mandato de uma mulher na presidência estimula que os sindicatos cetebistas tenham em suas direções mulheres em funções estratégicas.”
A importância dessas conquistas se conecta à realidade nacional. Segundo o Censo de 2022, as mulheres já são 51,5% da população brasileira — mais de 104 milhões de pessoas. Mas essa maioria nem sempre se traduz em presença nos espaços de decisão. É nesse cenário que a eleição de mulheres à frente de centrais sindicais ganha ainda mais relevância.
Para Sueli Cardozo, presidenta da CTB-Roraima, essa presença feminina é estratégica: “Além de inspirar outras mulheres a ocuparem posições de liderança, essa presença contribui para um sindicalismo mais representativo. Entre as demandas prioritárias está o direito à creche, condição concreta para que as mulheres possam participar plenamente da política, do trabalho e da vida sindical.”
Sueli lembra que 66% da Direção Executiva da CTB-RR é composta por mulheres, um dado significativo em um contexto ainda marcado pela sub-representação feminina. “Sem políticas públicas que garantam o cuidado compartilhado, muitas mulheres continuam à margem. Lutar pela ampliação da oferta de creches públicas e de qualidade é também lutar pela autonomia feminina.”
Já a professora Ana Cristina, eleita presidenta da CTB no Amazonas, afirmou que sua vitória “representa mais do que uma conquista pessoal — é a afirmação de que as mulheres trabalhadoras podem e devem ocupar os espaços de poder e decisão no movimento sindical”.
Ana Cristina destaca o desafio de romper com estruturas historicamente dominadas por homens. “Essa vitória sinaliza que é possível desafiar o machismo estrutural e liderar com coragem, sensibilidade e firmeza. Vamos fortalecer a organização sindical com perspectiva de gênero, de classe e de raça, colocando as pautas das mulheres no centro das decisões.”
Em Rondônia, a nova presidenta, Niedja Santana, encara sua eleição como um marco em um estado com forte conservadorismo e pouca participação feminina na direção sindical. “Ter uma mulher como presidenta de uma central aqui, principalmente na região Norte, é um desafio — e também um símbolo de que a mulher pode ocupar espaços com força e qualificação. É o começo de um caminho que precisa ser aberto para muitas outras companheiras.”
A secretária da Mulher Trabalhadora da CTB-SP, Celina Areas, avalia que essas vitórias demonstram um avanço concreto da Central. “A CTB foi fundada incluindo em seu nome as mulheres. De lá pra cá, seguimos lutando por igualdade real nas direções. Ainda não conseguimos isso plenamente, mas estamos avançando. A eleição dessas quatro companheiras é um passo firme rumo à paridade qualificada.”
Celina defende que esse processo seja ampliado e incorporado como diretriz em toda a Central. “Nossa proposta é que, no Congresso Nacional da CTB, em agosto, seja aprovada a paridade qualificada de gênero em todas as direções da Central. Vamos lutar para que mais estados elejam mulheres presidentas, e assim, tornemos realidade o que já está no nome da nossa Central: Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.”
A CTB reafirma seu compromisso com um sindicalismo que reflita a diversidade da classe trabalhadora e que coloque a igualdade de gênero como eixo estruturante de sua ação política e organizativa. A eleição dessas quatro mulheres é um sinal de mudança — e também um chamado à ação para que esse número cresça nos próximos anos.