A série Cem Anos de Solidão pode ser vista na Netflix. Fãs e críticos de cinema aprovam a adaptação da obra-prima de Gabriel García Márquez. Veja o que disse o especialista em cinema e colunista do programa Bom Para Todos, Luiz Zanin, na TVT News.

Adaptação de Cem Anos de Solidão agrada o público

O maior receio da legião de fãs do livro Cem Anos de Solidão é que a série não tratasse com carinho um dos maiores livros da literatura mundial. Mas, fãs e críticos que já assistiram aos 8 episódios desta primeira temporada de Cem Anos de Solidão na Netflix gostaram do que viram.

Luiz Zanin, crítico de cinema e colunista do programa Bom Para Todos, confessou que estava com medo sobre a qualidade da série, mas depois de assistir aos primeiros episódios, se surpreendeu com a qualidade.

“Pelo que vi até agora, meus medos eram infundados”, disse Zanin. “Eu adorei o início da série, adorei. Principalmente porque ela abre com as palavras exatas do primeiro parágrafo do livro”, explica o colunista do Bom Para Todos à apresentadora Talita Galli.

Zanin comenta que opção de fazer a narração da história de forma linear é um recurso que pode facilitar a compreensão da história. E faz um convite: “apaixonem-se pela série Cem Anos de Solidão e, quem ainda não conhece, vá até o livro, Cem Anos de Solidão é uma das grandes obras da literatura mundial”.

  • Vídeo: Zanin se surpreende positivamente com a série Cem Anos de Solidão

Além de Zanin, outros leitores de Gabriel García Márquez que já assistiram à série, gostaram da adaptação. É o caso da jornalista Alessandra Nalio. “Dar cara pros personagens que a gente só imaginou como seriam é maravilhoso”, relata a jornalista.

Série Cem Anos de Solidão disponível no streaming

Muitos anos depois, diante das telas, os apaixonados por Cem Anos de Solidão vão se recordar o dia da estreia da primeira adaptação do livro para o audiovisual.

A aguardada adaptação de Cem Anos de Solidão para série em streaming estreou no dia 11 de dezembro, na Netflix.

Composta por duas partes de oito episódios, a série faz a adaptação do clássico livro Cem Anos de Solidão, do premiado escritor colombiano, Gabriel García Márquez, vencedor do Nobel de Literatura de 1982. O livro é um dos mais famosos do mundo, com mais de 50 milhões de exemplares vendidos e traduzido para mais de 40 idiomas.

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Pôster de Cem Anos de Solidão na Netflix: destaque para o Coronel Aureliano Buendía.
Imagem: Divulgação/Netflix

Em vida, Gabriel García Márquez nunca permitiu a adaptação de sua obra-prima para o audiovisual. Outros livros do autor, como Amor nos Tempos do Cólera e Ninguém Escreve ao Coronel, ganharam versão para o cinema.

  • Vídeo: veja o trailer da série Cem Anos de Solidão no Instagram da TVT News

O argumento, segundo García Márquez, é que toda a fantasia da obra não conseguiria ser captada pelas câmeras.

Após a morte do escritor, em 2014, e intensas negociações com os herdeiros, a adaptação foi liberada para a Netflix. O filho mais velho, Rodrigo García, trabalha com audiovisual (cinema e séries) nos EUA, o que pode ter facilitado a negociação.

Em 2024, Rodrigo também justificou a publicação do livro póstumo Em agosto nos vemos que fora rejeitado pelo próprio García Márquez. Para o filho do autor, o pai era muito exigente com a própria criação e Em Agosto nos Vemos trazia ainda muito das qualidades do escritor e seria um presente para os leitores, no aniversário de 10 anos da morte de García Márquez. Sobre Em Agosto nos vemos, leia a resenha da jornalista Lívia Magalhães, publicada na revista-laboratório Babel, da USP, em junho.

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Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.
Foto: Mauro González /Netflix ©️2024

Como a Netflix fez a adaptação de Cem Anos de Solidão

Com direção dos cineastas colombianos Laura Mora e Alex García López, a série Cem Anos de Solidão representa um dos projetos audiovisuais mais ambiciosos do streaming na América Latina. A série foi inteiramente filmada em espanhol e na Colômbia, com o apoio da família de Gabriel García Márquez.

Para a cineasta Laura Mora, dirigir Cem Anos de Solidão é uma honra e um desafio. “Como cineasta e como colombiana, tem sido uma honra e um enorme desafio trabalhar em um projeto tão complexo e que carrega tanta responsabilidade como Cem Anos de Solidão“, afirma Laura.

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Era a história da família, escrita por Melquíades inclusive nos detalhes mais triviais, com cem anos de antecipação. Foto: Mauro González /Netflix ©️2024

De acordo com Laura, o objetivo foi “sempre buscar entender a diferença entre a linguagem literária e a audiovisual, e poder construir imagens que contenham a beleza, a poesia e a profundidade de uma obra que impactou o mundo inteiro. Fizemos isso com amor e respeito pelo livro, com o apoio de uma equipe técnica e humana excepcional”, explica a diretora.

O colega de direção, Alex García López, conta que “dirigir este projeto foi um desafio e uma aventura; afinal, na vida, correr riscos é necessário para dar sentido ao que fazemos. Ao mergulhar na adaptação de Cem Anos de Solidão, minha intenção era criar algo autêntico que carregasse a estatura de uma produção internacional, porque a história merece.”

Diretores contam como foi adaptar Cem Anos de Solidão para série

Durante a 22ª Festa Literária Internacional de Paraty, na Mesa “Do Livro às Telas: Cem Anos de Solidão”, os roteiristas da série da Netflix contaram como foi o desafio de adaptar para o audiovisual a obra que marcou gerações.

“Sempre que precisávamos encontrar o caminho, voltávamos ao livro. Todas as respostas estavam lá”, dizem roteiristas da adaptação de Cem Anos de Solidão

Durante o evento em Paraty, as roteiristas Natalia Santa e Camila Brugés, além de Francisco Ramos, vice-presidente de Conteúdo da Netflix na América Latina, falaram sobre sobre o processo criativo e as complexidades de levar o universo literário de Gabriel García Márquez às telas.

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Úrsula teve de fazer um grande esforço para cumprir a promessa de morrer quando estiasse.
Foto: Mauro González /Netflix ©️2024

As roteiristas compartilharam o que as inspirou a se envolver nesse projeto ousado, revelando os desafios e nuances de adaptar Cem Anos de Solidão para as telas. “É um imenso desafio dar vida a personagens que habitam o imaginário de tantas pessoas. Nossa missão foi honrar a riqueza da obra, sem perder de vista sua profundidade e magia,” comentou Natalia Santa.

“A série precisava capturar as emoções que o livro desperta, sem esquecer que estamos lidando com uma linguagem diferente. O desafio foi equilibrar a fidelidade à obra original com a criação de uma experiência visual impactante,” disse Camila Brugés, destacando a responsabilidade de adaptar o romance. “A grande vantagem é que sempre que tínhamos qualquer dúvida e precisávamos reencontrar os caminhos, bastava voltar ao livro e todas as respostas estavam lá”, acrescentou.

Francisco Ramos destacou a importância do legado que a adaptação deixaria. “Desde o início, alinhamos com a família García Márquez alguns pilares do projeto: ele teria gravação em espanhol e produção na Colômbia. Esses elementos não apenas preservam a essência da obra, mas garantem que o legado ressoe, promovendo um impacto cultural e econômico significativo para o audiovisual colombiano”, explicou.

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Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. Foto: Mauro González /Netflix ©️2024

Baseada na obra-prima de Gabriel García Márquez, a série acompanha as gerações da família Buendía no mítico vilarejo de Macondo, no qual as loucuras do amor, das guerras e das maldições ancestrais se entrelaçam em uma narrativa fantástica e envolvente que é uma metáfora da história latino-americana.

A adaptação pretende capturar a essência do romance e, ao mesmo tempo, tratar dos temas universais que tornaram o livro de Gabriel García Márquez um clássico atemporal lido por chefes de estado a estudantes por todo o planeta.

Série Cem Anos de Solidão na Netflix impulsiona venda do livro

O anúncio da exibição de Cem Anos de Solidão já aumentou a venda dos livros. De acordo com Jean Faria, gerente de compras da Livraria da Vila , uma das maiores redes de livrarias do país, com 21 lojas em diferentes regiões do Brasil, as vendas de Cem Anos de Solidão aumentaram em 42,85%.

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Cem Anos de Solidão na Netflix aumentou as vendas da obra de García Márquez nas livrarias.
Foto: Vitória Machado/TVT News

“Após o anúncio da série, o título se tornou o segundo mais vendido de Literatura Clássica na Livraria da Vila”, explica Faria. De acordo com o gerente, Cem Anos de Solidão só perde para Em Agosto Nos Vemos, também de García Márquez.

“Houve aumento de 42,85% nas vendas das edições do Cem Anos de Solidão“, conta o gerente da rede de livrarias que oferece três diferentes edições da obra de Gabriel García Márquez, incluindo uma edição comemorativa, em capa dura, dos 50 anos da publicação do livro. As outras duas edições são em brochura.

Para o gerente da livraria, a adaptação de livros para o audiovisual ajuda na vendas. “Houve um grande aumento nas vendas do livro É Assim Que Acaba após a estreia do filme nos cinemas. Assim como também teve aumento nas vendas do livro Ainda Estou Aqui, de 2015, do autor Marcelo Rubens Paiva, após divulgação das matérias e premiações em torno do filme”, explica Jean Faria.

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No dia do batizado, Amaranta colocou neles as pulseiras com os respectivos nomes e vestiu-os com roupas de cores diferentes, marcadas com as iniciais de cada um, mas quando começaram a ir à escola optaram por trocar a roupa e as pulseiras e a se chamarem eles mesmos com os nomes ao contrário.
Foto: Mauro González /Netflix

Qual a importância de Cem Anos de Solidão?

O livro de Gabriel García Márquez é uma das obras mais importantes da literatura latino-americana e mundial. É o mais famosa e traduzido livro do movimento conhecido como realismo fantástico (também conhecido como realismo mágico ou realismo maravilhoso).

O realismo fantástico é um movimento literário tipicamente latino-americano e reúne autores da América Latina que publicaram obras com características semelhantes: contam histórias da América Latina, muitas vezes inspiradas em acontecimentos da realidade, mas narradas de forma tão mágica que não poderiam ser possíveis.

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O Coronel Aureliano Buendía promoveu trinta e duas revoluções armadas e perdeu todas. Teve dezessete filhos varões de dezessete mulheres diferentes, que foram exterminados um por um numa só noite, antes que o mais velho completasse trinta e cinco anos. Escapou de quatorze atentados, setenta e três emboscadas e um pelotão de fuzilamento. Foto: Mauro González /Netflix ©️2024

Entre os exemplos, uma peste de insônia que infecta toda a cidade, uma chuva de quatro anos, onze meses e dois dias ou um quarto em que a tinta não seca nunca dentro dos tinteiros, mas que é só visível para quem enxerga um velho cigano.

Além das qualidades da narração e estrutura literária, o livro permite diversas interpretações. Uma delas, é que Macondo, a cidade dos espelhos, seria uma metáfora da América Latina e que as repetições de nomes e de eventos, como os peixinhos de ouro vendidos para se transformarem em novos peixinhos de ouro ou a mortalha de Amaranta, que é costurada durante o dia para ser descosturada pela noite, simbolizam os eventos cíclicos pelos quais passa a América Latina.

Há passagens explícitas, como a chegada da Companhia Bananeira, referência à multinacional latifundiária estadunidense United Fruit Co., que explorou a mão de obra latino-americana. Em Cem Anos de Solidão, depois de não querer negociar com os trabalhadores em greve, a Companhia Bananeira promove o massacre dos trabalhadores e os atira ao mar.

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.. pois estava previsto que a cidade dos espelhos (ou das miragens) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no instante em que Aureliano Babilônia acabasse de decifrar os pergaminhos e que tudo o que estava escrito neles era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra.
Foto: Netflix ©️2024

As estirpes condenadas a cem anos de solidão que não merecem ter uma segunda oportunidade na terra seriam os latino-americanos, frustrados nas cíclicas tentativas de emancipação e de caminhar pelas próprias pernas.

Veja a resenha completa do livro Cem Anos de Solidão.

Uma dica para facilitar a leitura de Cem Anos de Solidão é ter, sempre à mão, a árvore genealógica da família Buendía. Imprima a imagem abaixo para facilitar sua leitura da obra-prima de Gabriel García Márquez.

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Árvore genealógica da família Buendía: use par facilitar a leitura. Imagem: Wikmedia Commons

Leia a Sinopse da série Cem Anos de Solidão Netflix

Após se casarem contra a vontade dos pais, os primos José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán abandonam o vilarejo onde moram para buscar um novo lar, mesmo temendo que os filhos nasçam com rabos de porco. Acompanhados por amigos, o casal chega às margens de um rio de pedras pré-históricas, onde fundam a cidade que batizam de Macondo. Diversas gerações da estirpe dos Buendía marcarão o futuro dessa cidade, atormentada pela loucura, amores impossíveis, guerras sangrentas e o medo de que uma terrível maldição os condene, inevitavelmente, a cem anos de solidão.

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Dispensou a pensão vitalícia que lhe ofereceram depois da guerra e viveu até a velhice dos peixinhos de ouro que fabricava na sua oficina de Macondo. Foto: Mauro González /Netflix ©️2024

Publicado em 1967, Cem Anos de Solidão é um dos livros mais emblemáticos de Gabriel García Márquez, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982 e um dos principais nomes do Realismo Mágico (ou Realismo Fantástico). Leia aqui a resenha sobre Cem Anos de Solidão

Considerado uma obra-prima das literaturas hispano-americana e universal, o romance aclamado pelo público já teve mais de 50 milhões de exemplares vendidos e foi traduzido para mais de 40 idiomas.

O que é o Realismo Mágico

Gabriel García Márquez e Cem Anos de Solidão são considerados os principais representantes do Realismo Mágico, ou do Realismo Fantástico.

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No domingo, com efeito, chegou Rebeca. Não tinha mais de onze anos. Tinha feito a penosa viagem desde Manaure, com uns traficantes de peles que receberam o encargo de entregá-la, junto com uma carta, na casa de José Arcadio Buendía, mas que não puderam explicar com precisão quem era a pessoa que lhes havia pedido o favor. Foto: Mauro González /Netflix

O Realismo Mágico é um movimento literário que se desenvolveu, principalmente, na América Latina. que mistura o real e o fantástico. Trata de temas que aconteceram na realidade, mas narrados de forma tão mágica, como o rastro de sangue que percorre toda a cidade até chegar à mãe do personagem assassinado ou a chuva que caiu em Macondo.

“Choveu durante quatro anos, onze meses e dois dias (…) O céu desmoronou-se em tempestades de estrupício e o Norte mandava furacões que destelhavam casas, derrubavam paredes e arrancavam pela raíz os últimos talos das plantações”

Na literatura latino-americana, esse estilo reflete a rica tradição oral e as lendas da região, ao mesmo tempo em que lida com as realidades políticas e sociais, muitas vezes

Créditos

Fotos da produção: Mauro González e Pablo Arellano /Netflix
Legendas das fotos da produção: trechos de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez (1967). Reproduzidos da edição em português da Editora Record

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Last Update: 16/12/2024