Crise no Sudão tem mais de 200 mortos em apenas três dias

Os ataques das Forças de Apoio Rápido Sudanesas (FARS) no estado sudanês do Nilo Branco resultaram na morte de mais de 200 pessoas nos últimos três dias. Enquanto o grupo paramilitar perde terreno para o Exército do Sudão, seus líderes tentam atrasar a formalização de uma carta política que pode abrir caminho para a criação de um governo separatista. O estado do Nilo Branco se tornou um dos principais campos de batalha do conflito, com ataques concentrados em vilarejos ao redor do distrito de al-Gitaina.

Testemunhas relatam que os paramilitares lançaram uma ofensiva no domingo (16), disparando indiscriminadamente contra civis com todo tipo de armamento, causando um grande número de mortos e feridos. Simultaneamente, enquanto massacram populações inteiras, os líderes das FARS se reúnem com aliados políticos e grupos armados no Quênia para assinar uma carta que propõe a formação de um “Governo de Paz e Unidade”, que administraria os territórios sob controle das FARS. Essa manobra repete o velho esquema imperialista de divisão territorial para enfraquecer governos nacionais.

O Exército sudanês intensificou suas ofensivas contra as FARS e retomou grande parte de Cartum Norte, incluindo Kafouri, um distrito rico que servia de reduto para a liderança rebelde. Em 12 de janeiro, os militares já haviam reconquistado a estratégica cidade de Wad Madani. O comandante do Exército, Fattah al-Burhan, anunciou planos para a formação de um “governo de guerra”, assim que a capital Cartum estiver sob total controle.

O conflito sudanês tem sido alimentado pela interferência imperialista, que fomenta divisões internas para viabilizar intervenções sob pretextos humanitários. A ONU e seus serviçais atuam como mediadores, enquanto financiam e fortalecem grupos rebeldes conforme sua conveniência. Sob o disfarce de “negociações de paz”, promovem a desestabilização do Sudão, perpetuando massacres e destruindo a soberania do País.

Diante das atrocidades cometidas pelas FARS, até mesmo os EUA foram obrigados a reconhecer os crimes e impuseram sanções ao líder do grupo, general Mohammad Hamdan Dagalo. O ex-secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, denunciou execuções sumárias, estupros em massa e outros atos de terrorismo contra civis, principalmente contra homens e meninos, além da prática de violência sexual seletiva contra mulheres e meninas de grupos étnicos específicos.

O Sudão, apesar de suas imensas riquezas minerais — incluindo petróleo, gás natural, ouro, prata e urânio — continua sendo um País essencialmente agrário, onde metade da população vive abaixo da linha da pobreza. Essa abundância de recursos atrai a cobiça dos países imperialistas, que lucram com o caos e aplicam a tática de “dividir para conquistar”. O Sudão já foi fragmentado em 2011 com a criação do Sudão do Sul, e agora enfrenta novas ameaças de balcanização.

No mês passado, a Rússia vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, proposta por Serra Leoa e Inglaterra, que buscava impor um cessar-fogo no Sudão sob o pretexto de facilitar ajuda humanitária. EUA e Inglaterra criticaram o veto russo, alegando que a resolução havia sido aprovada pelo governo sudanês, mas o próprio Ministério das Relações Exteriores do Sudão elogiou a decisão russa. O veto impediu que a diplomacia imperialista equiparasse as forças rebeldes ao governo oficial e criasse uma nova brecha para intervenções estrangeiras.

Atualmente, a ONU segue promovendo “negociações indiretas” entre o governo oficial e os rebeldes, com a mediação de Ramitane Lamamra, em Genebra. Enquanto isso, as FARS continuam seus ataques, deixando um rastro de mortes e destruição, ao mesmo tempo em que articulam sua nova tentativa de fragmentar o Sudão. A violência, longe de ser um problema meramente interno, é um sintoma direto da interferência imperialista que transforma o país em um campo de batalha para seus interesses econômicos e estratégicos.

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