Um estudo liderado pela brasileira Letícia Lima, do Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Autônoma de Barcelona (ICTA-UAB), revela que a seca extrema de rios na Amazônia pode isolar 50% das comunidades, com a maior parte localizada no Amazonas.
O estudo, publicado no Communications Earth and Environment e divulgado pelo Observatório do Clima, aponta que nas terras indígenas o isolamento pode chegar a 54%.
Os pesquisadores analisaram as secas de 2005, 2010 e 2016 e concluíram que as estiagens estão durando pelo menos um mês mais que o normal.
Outra conclusão do estudo é que os formuladores de políticas públicas para o enfrentamento dos eventos extremos na região não estão preparados para lidar com o problema.
Letícia disse que os formuladores de políticas públicas estão despreparados, pois as ações foram emergenciais e insuficientes.
“Essa é a nova realidade da Amazônia. Os cientistas alertam há anos que a bacia amazônica enfrenta um aumento substancial na frequência e intensidade de eventos extremos devido às mudanças climáticas, além de mudanças severas em seu sistema hidrológico devido ao desmatamento e degradação florestal”.
De acordo com a pesquisadora, as secas passadas e a mais recente, 2023-2024, mostram que os impactos nos ecossistemas se estendem gravemente à população amazônica.
Além do isolamento total das comunidades por semanas ou até meses, os eventos extremos dificultam o acesso dos ribeirinhos aos alimentos, combustível e suprimentos médicos por causa dos impactos no transporte hidroviário.
Conforme o estudo, produtores que abastecem os mercados locais e áreas urbanas próximas têm dificuldade em transportar pelos rios o que colhem e pescam.
Os pescadores também são prejudicados por causa da morte dos peixes – os baixos níveis de água e as temperaturas mais altas aumentam a matéria orgânica e diminuem o nível de oxigênio. As escolas são fechadas.
Os pesquisadores dizem que a diminuição dos baixos níveis de água superficial e subterrânea pioram a qualidade da água, “tornando-a temporariamente imprópria para consumo”.
“Estudos anteriores mostraram evidências de aumento nas internações no estado do Acre durante os meses de 2005, associadas tanto a doenças transmitidas pela água quanto a doenças respiratórias devido à poluição do ar por causa de incêndios florestais”, diz um trecho do artigo.
Na publicação, o grupo também discorda da necessidade de asfaltamento da BR-319 como forma de evitar o isolamento.
Para os cientistas, está comprovado que estradas são impulsionadoras de desmatamento e degradação florestal, dois fatores que produzem material que muda o ciclo hidrológico que pode prejudicar ainda mais os regimes de chuvas na Amazônia.
“Finalmente, a construção e pavimentação de estradas sem um planejamento adequado e medidas de mitigação frequentemente resultam em perdas econômicas e impactos sociais nas comunidades locais”.