Em 24 de novembro de 2024, eu me deparei com uma notícia que não é mais surpreendente para os analistas políticos, mas que é de registro histórico para a composição de um quadro político que exponha o processo de alteração na qualidade da situação em que se encontra o sistema capitalista e, portanto, demonstre as tendências políticas de maior capacidade de condução da sociedade em que nos encontramos.
Essa notícia foi divulgada em um dos principais órgãos de propaganda do imperialismo e do sistema financeiro internacional, a revista britânica The Economist, com o título “A Alemanha agora está desesperada”.
Esse título poderia muito tranquilamente ser expandido para Os neoliberais do continente europeu estão desesperados. A Alemanha de fato representa de forma bem ilustrada aquilo que é uma tendência política profundamente evidente nos demais países do continente, mas que se verifica em diversos países do mundo.
O país vem de anos com sucessivos resultados medíocres do crescimento do seu PIB nos últimos anos e que desembocaram em resultados mais atuais completamente desastrosos. Em 2023, amargou uma contração de -0,3% e espera-se que feche o ano de 2024 na casa de -0,2%.
Toda essa situação caótica, provocou a desintegração do governo do social-democrata, Olaf Scholz, obrigando-o a convocar novas eleições, onde muito provavelmente sairá derrotado.
A Alemanha enfrenta um processo de desindustrialização seguido de escassez energética, com o protecionismo norte-americano e a concorrência chinesa no horizonte.
Uma situação aproximada se verifica em vários países: na França, que teve um crescimento de 0,8% em 2023 e espera-se que seja 1,1% em 2024; no Reino Unido, que cresceu 0,3% em 2023 e espera-se que cresça 1,1% em 2024; na Itália, espera-se o mesmo percentual de crescimento do ano de 2023 para 2024, 0,7%.
A Rússia, que enfrenta os países da OTAN em território ucraniano, tem o crescimento do PIB estimado em 3,6%. Dos grandes países do continente europeu, somente a Espanha se aproxima desse percentual, com a perspectiva de crescimento na casa de 3%.
A sustentação do regime político ucraniano para uma guerra contra a Rússia tem causado um enorme descontentamento popular nos países europeus, pois a população não engole o fato de ter que financiar uma guerra que não tem sentido e que apenas tem causado prejuízos, desestabilidade inflacionária, crescimento da dívida pública, escassez e elevação dos preços de insumos e energia.
Para se ter noção, o percentual da dívida pública dos principais países da Europa com relação ao PIB se encontra na seguinte situação: Itália (134,8%); França (109,9%); Espanha (105,5%); Reino Unido (99,97%) e Alemanha (62,9%).
Sobre a Alemanha, podemos nos questionar: a manutenção do percentual da dívida pública com relação ao PIB nesse patamar ocorre sob qual custo?
Tudo isso tem levado a contração e estagnação econômica, somada a implementação de anos de política neoliberal de retirada de direitos sociais dos trabalhadores.
França e Reino Unido tiveram que convocar eleições parlamentares também de forma antecipada pela própria desagregação e impopularidade de seus governantes. Mesmo após passarem por esse processo, a impopularidade de suas medidas de destruição das condições econômicas de sobrevivência dos trabalhadores perdura.
Cada vez mais o regime político instituído na Europa aprofunda seu processo de desagregação e desintegração, ficando cada vez mais difícil manobras que garantam sua salvação com prazos maiores.