O escândalo da criptomoeda de Javier Milei, na Argentina, que ficou conhecido como “criptogate”, ganhou novos capítulos: a ligação do presidente com o criador da criptomoeda $LIBRA, de recentes 30 anos, e que engoliu, definitivamente, as chances do líder argentino de se dissociar do caso.

Após o fracasso na tentativa de justificar o apoio ao golpe da criptomoeda $LIBRA, na última semana, e que repercutiu em cenas vazadas de uma censura da equipe de governo à entrevista à televisão argentina [relembre aqui], além de explicitar o combinado do que poderia ou não ser perguntado a ele, ainda pipocou nas relações de Milei no meio, mais especificamente, com Hayden Mark Davis, o dono da criptomoeda.

A criptomoeda foi promovida por Milei em uma mensagem no X (antigo Twitter), no dia 14 de fevereiro, que foi posteriormente excluída. O valor da moeda subiu rapidamente, mas logo despencou, deixando milhares de investidores no prejuízo, com perdas estimadas em quase US$ 90 milhões [entenda o episódio aqui].

Quem é Hayden Mark Davis

Davis é CEO da Kelsier Ventures, uma empresa de consultoria e investimentos em criptomoedas e negócios digitais. Inicialmente, com o colapso da criptomoeda, o empresário responsabilizou a Kelsen Ventures e afirmou que iria reinvestir US$ 100 milhões para voltar a dar liquidez à $LIBRA. E também criticou o presidente pela retirada da publicação de apoio do ar.

Mais recentemente, veio à público uma entrevista dada pelo irmão de Davis revelando que houve um “pré-contrato” fechado entre Milei e o jovem empresário, recém-ingressado no jogo financeiro. Segundo o noticiário argentino, há registros de que Milei o recebeu na Casa Rosada no dia 30 de janeiro deste ano, pouco antes do lançamento da criptomoeda.

Publicamente, Davis já informou que a visita do dia 30 de janeiro era para tratar especificamente do lançamento de $LIBRA e que ele era uma espécie de “conselheiro” recorrente de Milei, tendo sido recebido pelo mandatário diversas vezes.

Neste encontro do dia 30, Milei afirmou que Davis o estava assessorando sobre tecnologia blockchain e inteligência artificial para impulsionar o desenvolvimento tecnológico argentino. Mas negou que Davis seria um conselheiro do presidente.

Nos últimos dias, o escândalo levantou suspeitas sobre a influência de Davis no governo argentino.

Após a polêmica, o jovem empresário chegou a afirmar que conseguiu “salvar” US$ 100 milhões da $LIBRA e disse que estes recursos seriam “da Argentina” e que aguardava as “instruções” de Milei para onde aplicar.

Mais uma prova: vaza entrevista de irmão de Davis

A entrevista tornada pública neste final de semana, do irmão do empresário, Gideon Davis, complica mais as explicações de Milei. “A Argentina, em um grande salto, acaba de assinar conosco um ‘Loi’ para nos ajudar com as criptomoedas”, falava Gideon. “Loi” é um pré-contrato ou carta de intenções que, segundo o irmão do empresário, foi “assinado por Javier Milei” para a promoção do negócio de criptomoedas, por meio de uma outra empresa, chamada “Cube Exchange”.

A referida entrevista foi retirada do ar pelo entrevistador: um norte-americano, Tony Sablan, que publica conteúdos no Youtube. Mas trechos da entrevista foram gravados por internautas, que republicaram as falas, que além de comprovar o apoio de Milei a $LIBRA, também citava um projeto maior dos empresários de “tokenização” da Argentina.

De lá para cá, outras informações divulgadas pelo noticiário argentino levantam suspeitas de que os fundos dessas operações de criptomoedas seriam destinados a financiar os grupos de extrema-direita na Argentina.

Enquanto isso, o Ministério Público argentino investiga os crimes econômicos cometidos no golpe da criptomoeda e a relação de Milei e de Davis, com vistas a identificar se cometeram abuso de autoridade, fraude, tráfico de influência e corrupção passiva.

O promotor federal Eduardo Taiano está no comando das investigações e solicitou relatórios ao Banco Central e ao Google para coletar informações e, por meio da Promotoria Especializada em Crimes Cibernéticos, indícios relacionadas ao escândalo, incluindo vídeos e postagens que foram retirados do ar e que podem trazer respostas ao caso.

Ao mesmo tempo, advogados nos Estados Unidos já prepararam ações judiciais coletivas contra a criptomoeda. E a oposição ingressou com centenas de pedidos de impeachment contra o presidente argentino.

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Last Update: 24/02/2025