Três policiais militares e outros três foragidos foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo e transformados em réus pela Justiça pelo assassinato de Vinicius Gritzbach, delator do PCC morto em uma ação no aeroporto de Guarulhos digna de filmes da máfia. Os procuradores solicitaram ainda a conversão da prisão dos PMs de temporárias para preventivas, sem prazo de soltura. Segundo a denúncia, Gritzbach foi morto por vingança. Os mandantes seriam Emilio Gongorra, o “Cigarreira”, e Diego Amaral, o “Didi”. O cabo Denis Martins e o soldado Ruan Rodrigues foram os executores e contaram com o apoio logístico do tenente Fernando Genauro, motorista na fuga. Kauê Amaral serviu como “olheiro” e teria avisado os sicários da movimentação da vítima no aeroporto. Em fevereiro, a Justiça converteu em réus oitos policiais civis, entre 12 suspeitos, por envolvimento com a criminalidade. Os acusados, sustenta o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, se uniram ao PCC para transformar o aparato de segurança em instrumento de enriquecimento ilícito e proteção à facção.
O sonho acabou
Foragidas da Justiça brasileira, Raquel Lopes, Rosana Maciel, Cristiane da Silva e Michelly Paiva zarparam para os Estados Unidos em busca do sonho bolsonarista da eterna impunidade. As três primeiras haviam sido condenadas por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro e a quarta responde a um processo no STF pelo mesmo motivo. As “guerreiras da liberdade” estavam certas do asilo “político” sob o governo Trump, mas descobriram que, para os atuais ocupantes da Casa Branca, os brasileiros são todos iguais, estejam ou não dispostos a fazer a genuflexão diante do mestre. As quatro foram presas depois de ingressarem no país de forma ilegal e, provavelmente, serão deportadas para o Brasil, onde responderão por seus crimes. Podem rezar ao pneu.
Futebol/ A Chita na Libertadores
O presidente da Conmebol reforça o racismo contra brasileiros

Burrice ou má-fé? Não se sabe o que moveu Domínguez – Imagem: Juan Manuel Herrera/OAS
Não se sabe se foi burrice, má-fé ou os dois. Após proferir um discurso genérico contra o racismo no sorteio dos grupos da Copa Libertadores, o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, mal respirou antes de enfiar o pé na jaca. Ao responder sobre a possibilidade de o torneio ficar sem times brasileiros, em caso de boicote como reação às ofensas dirigidas por torcedores paraguaios a Luighi, do sub-20 do Palmeiras, o cartola disparou: “Seria como o Tarzan sem a Chita”. A reação de incredulidade dos dirigentes brasileiros presentes na cerimônia levou Domínguez a remendar o soneto. “Em relação às minhas recentes declarações, quero expressar minhas desculpas. A expressão que utilizei é uma frase popular e jamais tive a intenção de menosprezar nem desqualificar ninguém.” Só faltou recorrer ao matreiro subterfúgio de quem não se arrepende do que fala: peço desculpas a quem se sentiu ofendido.
Memória/ Vai-se um democrata
Cláudio Lembo personificou o verdadeiro espírito republicano

O ex-governador sempre repudiou a mesquinhez da “elite branca” – Imagem: Ricardo Stuckert/PR
Ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo morreu na madrugada da quarta-feira 19. Um dos fundadores do antigo PFL, partido ao qual estava filiado quando ocupou o Palácio dos Bandeirantes, era um político com inegável vocação democrática. Criticava a mesquinhez da elite brasileira, mantinha um excelente diálogo com adversários da esquerda e chegou a se manifestar contra a prisão de Lula em 2018.
À época, o então professor de Direito disse que o Brasil vivia uma “democracia frágil”, e acrescentou que “fraudar, impedir, dificultar a candidatura de Lula seria uma aberração”. Não por acaso, o presidente manifestou pesar pela morte do amigo de longa data. “Lembo foi símbolo de Política escrita assim, com P maiúsculo. Representante do campo conservador, sempre tivemos diferenças e, ao mesmo tempo, uma capacidade de diálogo franco, aberto e generoso”, escreveu Lula no X.
Doutor em Direito, Lembo teve uma sólida carreira acadêmica e chegou a ser reitor da Universidade Mackenzie. Como vice-governador, assumiu as rédeas do estado em março de 2006, quando o titular, Geraldo Alckmin, se afastou para disputar a Presidência da República. Sua breve gestão ficou maculada, contudo, pelos ataques do PCC e pelo violento revide da polícia paulista. Diante do apelo de empresários por uma repressão ainda maior, não hesitou em criticar o sadismo da casa-grande: “Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa”.
O Supremo freia a farra das armas
Provocado pelo governo Lula, o Supremo Tribunal Federal derrubou oito leis municipais e estaduais que flexibilizavam o acesso a armas de fogo. A decisãomais recente ocorreu na sexta-feira 14, quando a Corte declarou inconstitucional uma norma de Roraima que facilitava o porte para os CACs (caçadores, atiradores e colecionadores). Todos os julgamentos tiveram resultado unânime. O STF também invalidou legislações de Mato Grosso do Sul, Paraná, Alagoas, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e uma do município mineiro de Muriaé. Outras três ações ajuizadas pela Advocacia-Geral da União ainda serão analisadas pelos ministros.
Alcântara/ Remoções forçadas
CIDH condena o Brasil por violar direitos de quilombolas

Lula já havia se comprometido a titular as terras das comunidades – Imagem: Ricardo Stuckert/PR
Na quinta-feira 13, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil pela remoção forçada de 171 comunidades quilombolas de Alcântara, no Maranhão, para a instalação de um centro de lançamento de foguetes. O tribunal concluiu que as autoridades brasileiras falharam ao não titular as terras e não adotar medidas para “reverter a situação de discriminação estrutural em que se encontram as comunidades”.
Segundo a sentença, o Estado deverá pagar uma indenização de 4 milhões de dólares às comunidades afetadas, destinando o valor à associação que representa as vítimas. Também terá de titular os 78.105 hectares das comunidades e realizar consultas prévias, livres e informadas sobre todas as medidas que as impactem.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, disse que o governo Lula “respeita o sistema interamericano de direitos humanos e tomará as medidas necessárias para atender ao que foi estabelecido na decisão”. Em setembro passado, ele mediou um acordo para a titulação das terras, mas isso não impediu a condenação do Brasil pela Corte.
EUA/ Afronta à Justiça
Trump ignora decisão de juiz e deporta venezuelanos para El Salvador

Os deportados foram levados a um megapresídio construído por Bukele – Imagem: CECOT/Presidência de El Salvador
Donald Trump voltou a desafiar a Justiça dos EUA ao deportar mais de 200 venezuelanos para El Salvador, evocando uma lei do século XVIII. No sábado 15, o juiz James Boasberg, do Distrito de Colúmbia, havia ordenado a suspensão, por 14 dias, de todas as deportações determinadas pelo governo com base na Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798. Essa legislação prevê a expulsão de estrangeiros que ameacem a segurança do país em tempos de guerra, sem a necessidade de garantia do devido processo legal. O republicano alegou que os voos estavam em trânsito e fora do espaço aéreo americano quando a decisão judicial foi divulgada.
“Ops!… tarde demais”, debochou o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ao confirmar que recebeu, na megaprisão Cecot, 238 venezuelanos acusados de integrar a gangue Tren de Aragua, além de outros 23 suspeitos de associação com a Mara Salvatrucha (MS-13). Muitos deles nem sequer foram julgados. Na segunda-feira 17, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que, caso se comprove a inocência dos presos, Bukele poderia deportá-los para a Venezuela – uma admissão velada de que o governo Trump não tem certeza do envolvimento deles com o crime organizado. Com capacidade para abrigar 40 mil detentos, Cecot é alvo frequente de denúncias por violações aos direitos humanos.
Desastre petrolífero
Um vazamento de petróleo contaminou rios na província costeira de Esmeraldas, no noroeste do Equador, próximo à fronteira com a Colômbia, comprometendo o abastecimento de água para 500 mil habitantes. Na quinta-feira 13, um oleoduto rompeu-se após um deslizamento de terra, derramando dezenas de milhares de barris de petróleo e poluindo pelo menos cinco rios que desembocam no Pacífico. Em entrevista à emissora de tevê Ecuavisa, o biólogo marinho Eduardo Rebolledo, da Universidade Católica de Esmeraldas, afirmou que “não há mais formas de vida” nos rios Caple e Viche, onde “flui uma mistura de petróleo com água”.
Guerra da Ucrânia/ Zelensky no escanteio
Putin aceita cessar-fogo parcial negociado com Washington

O presidente ucraniano parece não ter sido chamado para negociar – Imagem: Shealah Craighead/Casa Branca Oficial
Após uma conversa por telefone com Donald Trump, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, concordou em interromper os ataques à infraestrutura energética da Ucrânia por 30 dias, mas apresentou exigências para aceitar um cessar-fogo total. “Uma condição fundamental para evitar uma maior escalada e trabalhar em direção a uma resolução política e diplomática deve ser a interrupção completa da ajuda militar estrangeira e do apoio de inteligência a Kiev”, afirmou o Kremlin.
Trump revelou o teor do telefonema de duas horas em sua plataforma, a Truth Social. “Concordamos com um cessar-fogo imediato em toda a infraestrutura energética, com o entendimento de que trabalharemos rapidamente para alcançar um cessar-fogo completo e, finalmente, pôr fim a esta guerra horrível entre a Rússia e a Ucrânia”, escreveu o presidente dos EUA. Escanteado na negociação, restou ao líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, aceitar a trégua parcial, embora tenha manifestado ceticismo quanto a uma paz duradoura: “Todo esse jogo (de Putin) é para nos enfraquecer o máximo possível”.
Publicado na edição n° 1354 de CartaCapital, em 26 de março de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’