Em meio ao inverno, Gaza enfrenta uma tragédia silenciosa que atinge seus moradores mais vulneráveis: bebês e crianças pequenas. Nos últimos meses, o frio intenso, aliado à falta de abrigos adequados e à escassez de recursos básicos, causou a morte de dezenas de recém-nascidos na região, expondo a dimensão devastadora do cerco imposto por Israel e da guerra que já dura 15 meses.

No dia 25 de dezembro de 2024, três bebês com menos de um mês de vida foram levados mortos ao Hospital Nasser, em Khan Younis. Vítimas das baixas temperaturas, que chegam a bater 7ºC, esses bebês viviam em tendas improvisadas no campo de deslocados de Al Mawasi, no sul da Faixa de Gaza. A região, que abriga milhares de palestinos deslocados por bombardeios, é marcada por condições insalubres e abrigos incapazes de proteger as famílias contra o frio cortante do inverno.

Segundo informações do Hospital Nasser, apenas entre outubro e dezembro de 2024, 325 recém-nascidos foram internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) devido a complicações agravadas pelo frio. A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou que as crianças em Gaza estão expostas a riscos extremos, como infecções respiratórias e hipotermia, especialmente nas tendas improvisadas que não conseguem proteger contra as baixas temperaturas.

“As condições excepcionais pelas quais estamos passando nos últimos 14 meses, assim como a queda nas temperaturas agora, estão deteriorando ainda mais as condições de vida em tendas desgastadas e tornam essas crianças mais propensas à hipotermia”, explica Mohammad Abu Tayyem, pediatra de MSF no Hospital Nasser.“As condições excepcionais pelas quais estamos passando nos últimos 14 meses, assim como a queda nas temperaturas agora, estão deteriorando ainda mais as condições de vida em tendas desgastadas e tornam essas crianças mais propensas à hipotermia”, explica Mohammad Abu Tayyem, pediatra de MSF no Hospital Nasser.

“Mesmo antes de suas vidas começarem fora do útero, os bebês já correm risco de doença e morte”, diz Pascale Coissard, coordenadora de emergência de MSF.

As dificuldades enfrentadas pelas famílias palestinas são agravadas pelas restrições impostas por Israel à entrada de ajuda humanitária na região. De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), apenas 24 caminhões com materiais de abrigo entraram em Gaza entre 1º e 26 de dezembro, um número drasticamente insuficiente para atender às necessidades urgentes de quase 2 milhões de deslocados.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) também destacou preocupação com as condições desumanas enfrentadas pelas crianças em Gaza. Relatórios da agência apontam que muitas famílias não têm acesso a itens básicos, como cobertores e combustível para aquecimento. A situação se agrava com a previsão de temperaturas ainda mais baixas nas próximas semanas.

As condições de vida precárias também foram evidenciadas por inundações recentes, que destruíram mais de 1.500 tendas na região, deixando milhares desabrigados. Crianças descalças e sem roupas adequadas enfrentam ruas cheias de esgoto a céu aberto, elevando os riscos de doenças graves.

Organizações internacionais e entidades humanitárias têm reiterado pedidos por um cessar-fogo imediato e pela abertura de corredores humanitários seguros. O MSF ressaltou que a insuficiência de suprimentos e o bloqueio à entrada de ajuda tornam a situação insustentável. Um cessar-fogo permanente é apontado como a única solução viável para aliviar o sofrimento do povo palestino e garantir o acesso irrestrito à ajuda humanitária essencial.

Com a chegada do inverno, o mundo assiste a mais uma dimensão do genocídio palestino, enquanto famílias inteiras lutam não apenas contra o frio, mas contra a negligência internacional e a continuidade da agressão israelense. A urgência de uma solução política para o conflito Israel-Palestina não é apenas uma questão de direitos humanos, mas uma tentativa de salvar vidas que hoje são ceifadas pelo frio, pela fome e pela violência.

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Last Update: 13/01/2025