O retorno de Neymar ao Santos é, sem dúvida, a grande notícia do futebol brasileiro neste início de ano. A contratação do Danilo pelo Flamengo também é um fato importante, embora com as diferenças de o primeiro ser atacante e o segundo, um jogador de defesa, além de estarem em estágios diferentes de suas carreiras.
Neymar é o maior talento de sua geração e, mesmo tendo uma carreira bastante irregular, pode surpreender em sua volta cheia de detalhes próprios. Como os outros craques que retornaram ao Brasil ainda muito valorizados, a exemplo de Ronaldo e Romário, quando se pensava que as condições financeiras dos clubes brasileiros não permitiriam esse sonho, os torcedores de Corinthians, Flamengo e, agora, do Santos são agraciados.
Certa vez, disse aqui que acreditava ser difícil repatriar Neymar nesta temporada. Primeiro, pelos valores financeiros envolvidos na negociação, mas também por causa das opções de vida do jogador. Aventei a possibilidade de o retorno dar-se de modo provisório, por empréstimo do Al-Hilal, enquanto Neymar se recuperava de lesão grave na coxa. O contrato assinado com o Santos, válido por apenas seis meses, passa essa ideia, embora o encerramento do compromisso com o clube saudita tenha sido definitivo.
Como pano de fundo, temos a Copa do Mundo. Pensando bem, é o único título que falta na trajetória do Neymar, comprometida pelas constantes mudanças de clube e pelas contusões, que o fizeram passar longos períodos afastado dos gramados. Quanto à Copa de 2026, tudo vai depender do amadurecimento do jogador. No próprio Santos, Neymar deve buscar inspiração em Pelé, que deixou mostras de dedicação impressionante ao encerrar a carreira com o título mundial, no qual ele foi o protagonista principal, em meio a uma Seleção recheada de craques excepcionais.
Os tempos são outros, e a caminhada do Neymar mostra isso muito bem. Em suas constantes mudanças de clube, priorizou os valores monetários, em prejuízo do futebol em si. O prazo tão curto do contrato assinado com o Santos pode ser um complicador, pois terminará muito antes da Copa de 2026. Haverá renovação? É uma incógnita.
Recentemente, vi uma declaração exemplar de Romário em uma reportagem. Ele disse que sua volta ao Flamengo, após uma longa temporada na Europa, foi “menos por dinheiro e mais por alegria”. Nisso, vejo uma decisão acertada de Neymar, que abriu mão da parte final do seu contrato com os árabes do Al-Hilal para voltar ao clube da Vila Belmiro. O Baixinho, por sinal, já deu a bênção para o retorno do craque: “Vou torcer pra que ele volte com tudo, pra gente ter uma Seleção mais forte”.
A experiência de Ronaldo no Corinthians prova que o retorno de um atleta mais experiente pode, sim, ser muito positivo. Vários jogadores importantes fizeram retornos bem produtivos. Agora mesmo, o excelente Lucas Moura presenteou o São Paulo com dois golaços, inclusive um de cabeça, que não é o seu forte. Oscar, Philippe Coutinho, Alex Sandro são outros exemplos.
Já a chegada do Danilo ao Flamengo traz muitas expectativas. Os resultados podem ser muito bons, mas vai depender da sua adaptação em um “clube de massa”. Por isso, vejo alguns desafios. Ele vem sendo bastante criticado – ao meu juízo, injustamente – em razão do mau período que a Seleção vem atravessando nos últimos tempos.
Os mais de cinco anos passados na Juventus, uma das melhores escolas de futebol do mundo, o fizeram melhorar muito, como ele mesmo gosta de dizer, “como jogador e como gente”. O clube italiano é um dos que mais prezam pelo futebol arte, basta ver as contratações que a Juve fez ao longo de sua história. Esta “Velha Senhora” sempre priorizou a qualidade técnica.
Danilo tem sido visto por muitos apenas como um lateral-direito, mas na Juventus ele desempenhou várias funções, chegando a ser capitão da equipe. Pode perfeitamente ser aproveitado como zagueiro e, coincidentemente, abriu uma vaga no setor defensivo rubro-negro.
A situação do Danilo exige atenção. Os chamados “clubes de massa”, como é o caso do Flamengo, têm períodos férteis quando são administrados com sabedoria por seus dirigentes, pois a pressão da torcida é enorme. O jogador merece maior consideração por parte da mídia, porque soube aproveitar muito bem o seu período no futebol europeu, principalmente na extraordinária Juventus, e pode ser uma liderança fundamental para o Flamengo.
No varejo, é natural que haja muita movimentação na retomada do ano esportivo. O Cruzeiro perdeu muito cedo a paciência com o técnico Fernando Diniz. Enfim, os campeonatos estaduais retornam com seus times principais. •
Publicado na edição n° 1347 de CartaCapital, em 05 de fevereiro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Craques repatriados’