Criada no final do ano passado, a CPI das Bets no Senado recebeu mais atenção na última semana com os depoimentos dos influenciadores Vírginia Fonseca e Rico Melquíades, mas ainda deve enfrentar dificuldades para aprovar requerimentos e ouvir personagens-chaves no mundo das apostas onlines.

Sob reserva, integrantes do colegiado apontam um movimento de senadores para esvaziar os trabalhos, com articulações nos bastidores para impedir depoimentos e obstruir as sessões de votação, e criticam decisões do Supremo Tribunal Federal que permite aos depoentes não prestarem esclarecimentos à CPI.

Há cerca de um mês do seu fim, falta de quórum nas reuniões é apontada como um indício do boicote por parte dos parlamentares. O colegiado é composto por 18 senadores, entre titulares e suplentes, mas na maioria dos encontros, apenas três ou quatro comparecem.

O tempo reduzido também é um impasse. A relatora, Soraya Thronicke (Podemos-MS), defende prorrogar os trabalhos por 130 dias, mas o pedido não encontra apoio. No final de abril, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), ampliou o prazo da investigação em 45 dias e o relatório final precisa ser entregue no dia 14 de junho.

Em entrevista a CartaCapital, a senadora matogrossense disse apostar no fôlego da última semana para costurar um acordo que permita postergar o término da investigação. “A intenção é entregar um trabalho digno. O pedido de prorrogação é apoiado por 29 senadores. Não é possível negar a vontade de mais de um terço da Casa”, avalia. Se não obtiver sucesso, Thronicke cogita acionar o STF para prorrogar os trabalhos.

Apesar de insistir na tecla de mais tempo para a CPI, Thronicke afirma que tem trabalhado na elaboração do parecer final. A expectativa é que o texto responsabilize os influenciadores com base em infrações no Código de Defesa do Consumidor e que traga propostas legislativas para combater o vício em apostas.

Na reta final, o foco neste momento é ouvir donos de bets e personagens investigados pela Polícia pela divulgação de sites clandestinos, a exemplo das advogadas Deolane Bezerra e Adélia Soares. Ambas possuem liminares que as desobrigam de comparecer ao colegiado, mas a cúpula da CPI tem recorrido para derrubar as decisões.

Deolane chegou a ser presa duas vezes em 2024 durante a apuração que mira uma suposta organização criminosa que atuaria em jogos ilegais e lavagem de dinheiro. Adélia é investigada por suspeitas de auxiliar estrangeiros a explorar apostas ilegais no Brasil. A Justiça Federal chegou a autorizar sua condução coercitiva, mas a ordem foi anulada pelo ministro Dias Toffoli.

Outro alvo da relatora Ednaldo Rodrigues, ex-presidente da CBF afastado do comando da entidade por ordem do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro na última quinta-feira. Nenhum pedido de convite ou convocação de Ednaldo foi aprovado pelo colegiado e a possibilidade de ouvi-lo é considerada remota entre os senadores.

Interrogados na última semana como testemunhas, Rico e Virgínia também pediram ao Supremo para não comparecer, mas obtiveram na Corte apenas o direito de permanecerem em silêncio para não se autoincriminarem.

Primeira a depor, Virgínia – que acumula 80 milhões de seguidores nas redes sociais – foi à comissão com um moletom com o rosto de uma das filhas e um copo com o nome da sua marca de cosméticos. Logo após a sessão, publicou stories falando do caso e anunciou uma promoção em seus produtos.

A influenciadora e empresária Virginia durante a CPI das Bets no Senado. Foto: Andressa Anholete/Agência Senado

Para um integrante da comissão, ouvido sob reserva, a postura adotada pela influenciadora foi inadequada. “Nós estávamos lá para inquiri-la, não julgar as vestimentas. Ela tentou passar uma imagem que não colou. Tanto que as redes sociais estão cheias de críticas a essa estratégia, inclusive comparando-a com aquele episódio da Suzane von Richthofen em entrevistas”.

O depoimento dela foi alvo de críticas nas redes sociais, mas isso não abalou os senadores já que fez a CPI das Bets ser mais conhecida. A oitiva fez a TV Senado bater o recorde de audiência no ano, com 135 mil telespectadores simultâneos nas plataformas digitais, e a busca pela comissão no Google teve alta de 5.000% em relação ao dia anterior.

Rico, que foi interrogado na quarta-feira, chegou a reclamar da abordagem feita pelos senadores, apontando uma diferença em relação ao tratamento dado à Virgínia.

Como mostrou CartaCapital, o influenciador confessou práticas ilegais envolvendo a divulgação de casas de apostas e se comprometeu a pagar 1 milhão de reais em multa para encerrar uma investigação contra ele na Justiça de Alagoas. Os valores devem ser devolvidos aos cofres do estado de forma parcelada: 600 mil de uma só vez e 400 mil em oito prestações.

Com mais de 10 milhões de seguidores, Rico é patrocinado pela ZeroUm Bet, casa de apostas que opera no Brasil graças a uma liminar. A empresa foi criada em julho do ano passado por Deolane para explorar o mercado de apostas online no País, mas depois passou a ser comandada por um empresário piauiense.

Ao todo, além de Virginia e Rico, mais 18 influenciadores foram convocados ou convidados a depor. Cabe ao presidente da comissão, senador Dr. Hiran (PP-RR), definir o calendário de atividades.

Existem pedidos para que sejam convocados os influenciadores Jojo Todynho, Gkay, Viih Tube e Eliezer do Carmo. Também há requerimentos para os cantores Gusttavo Lima, Wesley Safadão e o humorista Tirulipa.

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Last Update: 18/05/2025