A repercussão da CPI das Bets nas redes sociais, especialmente após a convocação dos influenciadores Virginia Fonseca e Rico Melquíades, revelou um cenário marcado pela sociedade do espetáculo e pela ausência de vozes progressistas.

Segundo análise do Manchetômetro, páginas de entretenimento e perfis ligados à direita lideraram com folga as interações tanto no Facebook quanto no Instagram, enquanto a esquerda não figurou entre os principais agentes do debate digital.

“Isso pode ser um sinal de que o debate da CPI das Bets foi capturado por um foco nas celebridades envolvidas, em vez de um debate mais substancial sobre como as apostas online afetam os direitos difusos de famílias brasileiras”, afirma o relatório produzido no âmbito do projeto Política nas Redes, do IESP-UERJ.

A análise reuniu postagens públicas feitas entre os dias 12 e 15 de maio de 2025, identificadas por meio da plataforma SOMAR, com os termos “Vírginia”, “Rico Melquíades” e “CPI das Bets”. Foram analisadas mais de 7.400 publicações, que geraram 5,3 milhões de interações nas duas redes.

Direita mobilizada, esquerda ausente

No Facebook, entre os 20 perfis com maior número de interações, nove eram de direita, com destaque para páginas como Unidos com Bolsonaro. No Instagram, a presença da direita também se destacou com três perfis, enquanto nenhuma página de esquerda apareceu entre os principais.

“Ao observarmos a cobertura, notamos que a direita conquistou o maior número de páginas e de reações às publicações, enquanto a esquerda não apareceu para o debate. Foram nove perfis de direita. Em relação a reações, foram 82.167 interações nas páginas de direita, atrás apenas dos perfis de Fofoca”.

O campo progressista, portanto, foi eclipsado do debate, mesmo diante de uma pauta com implicações éticas e sociais sérias, como a atuação de influenciadores na promoção de jogos de azar e seus impactos sobre o público jovem.

Entre a crítica e o espetáculo

A análise semântica das postagens mais populares identificou dois grandes blocos narrativos. O Cluster 0 reúne textos mais críticos, com desconfiança em relação à atuação de Virginia Fonseca, e destaque para vozes que cobram responsabilidade social dos influenciadores, como a ex-nadadora Joanna Maranhão.

Já o Cluster 1 adota um tom mais simpático e emocional, valorizando momentos de “humor”, como o pedido de selfie feito pelo senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), isso enquanto no mesmo espaço, uma ministra de Estado é desrespeitada e silenciada.

No geral, cerca de 81% dos comentários estiveram concentrados em apenas 10% das postagens, o que evidencia que o debate foi guiado por poucas vozes com grande capacidade de alcance, sobretudo páginas como Alfinetei e Leo Dias, que lideraram no Instagram.

Páginas jornalísticas como G1, Folha de S.Paulo, Estadão e BBC também estiveram presentes entre as mais comentadas, mas com bem menos força de engajamento. O relatório sugere que esse dado reforça a ideia de que o debate foi capturado por uma lógica de espetáculo, em detrimento de uma discussão mais profunda sobre o papel das apostas online e sua regulação.

Nesta terça-feira, A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Bets sugeriu o indiciamento da influenciadora Virgínia Fonseca e outros 14 influenciadores pelos crimes de publicidade enganosa e estelionato. Saiba mais aqui >> Virgínia, Deolane e outros são indiciados pela CPI das Bets.

Acesse o relatório completo aqui:

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Last Update: 10/06/2025