A Petrobras anunciou nesta segunda-feira, 2, uma redução de 5,6% no preço da gasolina nas refinarias. A medida deve ter impacto direto na trajetória da inflação e influenciar as expectativas econômicas para 2025, segundo analistas consultados pelo Valor Econômico.
A projeção é de que o corte contribua para uma diminuição de 0,1 ponto percentual no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do próximo ano.
Apesar de fatores pontuais que pressionam a inflação, como o reajuste na tarifa de energia elétrica, o movimento da estatal é interpretado por economistas como um vetor de desaceleração de preços.
A Terra Investimentos, por exemplo, revisou sua previsão para o IPCA de 2025 de 5,5% para 5,4%. A maior influência deverá ser registrada no índice de junho, cuja expectativa passou de 0,43% para 0,34%.
O economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), destacou que o impacto do reajuste pode se refletir diretamente no índice mensal de inflação.
“Considerando que a inflação de junho poderá ficar próxima de 0,30%, esse reajuste encolheria a inflação, que inicia o mês pressionada pelo aumento da conta de luz por causa da bandeira vermelha”, afirmou.
Braz também ressaltou que o preço da gasolina tem peso significativo na composição do IPCA e que a queda nas refinarias tende a repercutir no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), responsável por 30% da formação do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), utilizado como referência para contratos de aluguel.
Andrea Ângelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, também revisou suas projeções. Segundo ela, o preço da gasolina nos postos pode recuar até R$ 0,12, dependendo do grau de repasse por parte das distribuidoras e revendedoras. Diante desse cenário, a projeção para o IPCA de 2025 da Warren foi ajustada de 5,3% para 5,2%.
“Apesar da energia mais cara neste mês, o que realmente importa é como será a bandeira tarifária em dezembro de 2025, na comparação com o fim de 2024”, observou Ângelo.
O anúncio da Petrobras ocorre em um contexto de sinais mistos na economia brasileira. O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre apresentou resultado abaixo do esperado, enquanto o mercado de trabalho mantém indicadores considerados sólidos.
Para analistas, a combinação entre queda nos combustíveis, inflação corrente mais baixa e expectativas ancoradas favorece uma leitura de menor pressão inflacionária para os próximos meses.
Luis Felipe Vital, estrategista-chefe de macroeconomia da Warren, avaliou que o corte anunciado pela estatal contribui para o alívio nos índices de preços, embora tenha ponderado que o cenário ainda exige atenção.
“A redução nos preços dos combustíveis é positiva e contribui para aliviar a inflação, embora ainda existam riscos. O mercado deve continuar atento aos sinais do Banco Central, especialmente diante da ausência de uma orientação clara sobre os próximos passos da política”, afirmou.
O impacto do reajuste também é observado no comportamento das expectativas de mercado. Com a gasolina mais barata, analistas apontam que o cenário inflacionário se torna mais previsível, o que pode ter reflexos sobre a atuação da autoridade monetária e a percepção dos agentes econômicos quanto à condução da política monetária.
A decisão da Petrobras de revisar os preços ocorre em meio a uma política de monitoramento periódico dos custos de produção e das cotações internacionais do petróleo. Embora a estatal não adote formalmente uma política de paridade internacional, os reajustes têm seguido tendências globais, ainda que com variações em função de fatores internos e externos.
O corte nos preços da gasolina é o primeiro desde abril e representa uma mudança relevante no comportamento recente da estatal. O repasse ao consumidor final, no entanto, depende de variáveis como o custo do etanol anidro, misturado à gasolina, além das margens de distribuição e revenda.
Em paralelo, o governo federal acompanha os efeitos do reajuste como parte das medidas para controle da inflação. A redução nos combustíveis é considerada um fator importante no processo de descompressão dos preços e pode contribuir para melhorar o ambiente econômico no segundo semestre de 2025.
Especialistas avaliam que, mesmo diante de pressões setoriais como a energia elétrica, a queda nos combustíveis reforça a tendência de desaceleração inflacionária. O cenário, contudo, segue condicionado à evolução dos preços internacionais do petróleo, à dinâmica cambial e às decisões de política fiscal e monetária.
Com a mudança nas estimativas, o mercado financeiro opera com expectativas mais ajustadas para os indicadores do segundo semestre. A inflação acumulada em 12 meses continua em trajetória de desaceleração, e o recuo nos combustíveis pode fortalecer esse movimento. Para analistas, a coordenação entre política de preços, estabilidade cambial e comunicação do Banco Central será determinante para a consolidação do cenário previsto.
O comportamento da inflação nos próximos meses será acompanhado de perto por agentes do setor produtivo e instituições financeiras. O corte anunciado pela Petrobras pode funcionar como elemento moderador de pressões inflacionárias, ao mesmo tempo em que abre espaço para avaliações mais precisas sobre os rumos da política econômica.