Um artigo da Revista Nature publicado nesta quinta, 17 de abril de 2025, aborda o impacto potencialmente catastrófico do fim do financiamento global de saúde por parte dos Estados Unidos. Sob o título “25 milhões de mortes: o que aconteceria se os EUA encerrassem o financiamento global da saúde“, o artigo mostra a magnitude das consequências estimadas.

Através de modelos, cientistas procuram mensurar o efeito de cortes no financiamento americano em programas cruciais para tuberculose, HIV, planejamento familiar e saúde materno-infantil. A estimativa é de que, sem o gasto anual de aproximadamente US$ 12 bilhões que os EUA destinaram à saúde global em 2024, cerca de 25 milhões de pessoas poderiam morrer nos próximos 15 anos.

Os Estados Unidos têm sido historicamente o maior doador para iniciativas de saúde em países pobres, contribuindo com quase um quarto de toda a assistência global para a saúde. Esses investimentos foram cruciais para ganhos consistentes em saúde pública por mais de uma década.

O artigo destaca o progresso significativo alcançado, como a redução de 51% nas mortes por HIV globalmente entre 2010 e 2023, e a queda de 23% nas mortes por tuberculose entre 2015 e 2023.

No entanto, a administração do então presidente Donald Trump já havia implementado cortes bilionários no financiamento para a saúde global, incluindo o desmantelamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o congelamento de contribuições para ajuda externa, algumas das quais foram temporariamente restauradas. Pesquisadores têm se dedicado a estudar o impacto potencial desses cortes de financiamento.

O impacto em vários programas

O artigo detalha o impacto específico no programa Plano de Emergência do Presidente dos EUA para Alívio da AIDS (PEPFAR), que atua em 55 países, incluindo a entrega de tratamentos, testes e intervenções de prevenção. Modelos indicam que, sem o PEPFAR, haveria 15 milhões de mortes adicionais por AIDS até 2040 em comparação com a continuidade do programa. Mais de 60% dessas mortes ocorreriam em seis países africanos, como Moçambique, Nigéria e Uganda.

Adicionalmente, cerca de 14 milhões de crianças a mais se tornariam órfãs como resultado dessas mortes por AIDS, revertendo uma tendência de declínio esperada. Estima-se também que 26 milhões de pessoas a mais poderiam ser infectadas com HIV sem o PEPFAR. A dependência do suporte financeiro dos EUA varia significativamente entre os países; em Uganda, por exemplo, 65% do financiamento para pesquisa em HIV provém dos Estados Unidos.

Em relação à tuberculose, o número global de infecções por Mycobacterium tuberculosis também deve aumentar sem o financiamento dos EUA. Pesquisadores analisaram o impacto de cortes na USAID e nas contribuições dos EUA para o Fundo Global de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária em 79 países de baixa e média renda. Embora a magnitude exata da redução nas contribuições dos EUA para o fundo ainda não esteja clara, as projeções apontam para 69 milhões de infecções adicionais por M. tuberculosis e 2 milhões de mortes a mais até 2040. Katherine Horton, epidemiologista da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, que contribuiu para a modelagem sobre tuberculose, ressalta o tremendo progresso feito em saúde global nas últimas décadas e o risco de perder muito desse avanço.

Em suma, o artigo apresenta um panorama alarmante das potenciais consequências da cessação do financiamento americano para a saúde global. As modelagens indicam um aumento significativo de mortes e infecções por doenças como HIV e tuberculose, além de um retrocesso em ganhos de saúde pública arduamente conquistados. Os pesquisadores enfatizam a importância do financiamento dos EUA e alertam para o impacto “devastador” que os cortes poderiam causar, especialmente em países mais dependentes desse apoio. O artigo serve como um forte apelo à manutenção do investimento em saúde global para evitar uma crise humanitária de proporções significativas.

Os modelos matemáticos

John Stover, um modelador de doenças infecciosas da Avenir Health, utilizou modelos matemáticos para estimar os resultados de saúde caso todo o financiamento dos EUA para a saúde global fosse interrompido e não substituído, comparando-os com a manutenção do financiamento de 2024 até 2040. Os resultados dessa pesquisa foram publicados em um preprint no servidor SSRN e ainda não passaram por revisão por pares.

Andrew Vallely, um epidemiologista clínico do Instituto Kirby na Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, considera que os modelos utilizados são robustos e bem estabelecidos, descrevendo os achados como “devastadores” e um “alerta” para a comunidade global de saúde.

James Trauer, outro modelador de doenças infecciosas da Universidade Monash em Melbourne, também avalia que esses modelos são provavelmente os melhores disponíveis para prever os efeitos diretos dos cortes de financiamento nesses diversos programas.

Leia o artigo da Nature aqui.

Este texto foi construído com ajuda de I.A.

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Last Update: 17/04/2025