O que você vai ler dificilmente passará despercebido no meio político — não pelo resultado em si, que alegrará alguns e frustrará tantos outros, mas pela incompreensão que inevitavelmente o cercará. Antes de mergulharmos nos números, é preciso esclarecer alguns pontos.

Ao acessar as análises que divulgamos aqui, você participa da construção de um mosaico de compreensão política. Neste momento, não nos interessa tratar da análise política como um todo, oferecendo respostas definitivas, algo em que, aliás, não acredito ser possível. Nosso foco é examinar partes específicas dos cenários políticos, investigando minuciosamente seus detalhes.

É essa construção que realizamos no Instituto Methodus: conhecer os detalhes para, posteriormente, dentro da disputa política, compreender o todo. Assim, obtemos uma visão estratégica dos cenários que se desenham — e sobre os quais, em breve, trataremos.

A pesquisa Vozes da Classe Média funciona como uma lente que nos aproxima das pequenas peças, que formam o grande mosaico do pensamento de nossa sociedade. Cada uma delas revela nuances e dimensões que, em outras camadas sociais, dificilmente seriam percebidas.

Entre elas, o medo desponta como uma força decisiva na escolha eleitoral deste grupo. Ao seu lado, estão a percepção de justiça ou injustiça na prisão domiciliar do ex-presidente e a desesperança despertada pelas cheias de maio de 2024, que expôs um profundo desalento em relação ao futuro.

Quando reunimos cada uma dessas peças, o desenho começa a se revelar. É nesse processo, parte a parte, que vamos construindo um mosaico eleitoral sólido, capaz de ir além do senso comum e oferecer uma visão mais completa do cenário que está por vir. Esse estudo busca compreender a atuação performática e normativa do ato de votar, na qual o cidadão julga com base em concepções internalizadas de responsividade, representação e justiça.

Na simulação em que avaliamos os possíveis candidatos ao Senado do Rio Grande do Sul, é preciso considerar que o resultado foi influenciado por essas e por diversas outras dimensões que compõem a escolha política atualmente.

Com base nos dados da pesquisa Vozes da Classe Média, o cenário para o Senado no Rio Grande do Sul revela uma disputa concentrada neste momento, em quatro nomes que, juntos, somam 75,7% das intenções de voto. Paulo Pimenta (PT) lidera com 22,3%, seguido de perto por Manuela D’Ávila (sem partido), com 21,1%. Na sequência, aparecem Marcel Van Hattem (NOVO), com 18,8%, e Sanderson (PL), com 13,5%, que dividem o mesmo campo à direita, fragmentando um eleitorado mobilizado pela crença na “ditadura de toga” e por críticas ao sistema político.

Nesse recorte, observa-se que as preferências da classe média não estão ancoradas apenas na imagem dos candidatos, mas sim, influenciadas por dimensões subjetivas, como medo, percepção de injustiça e sentimento de desesperança diante do futuro — fatores que moldam o voto de forma transversal e podem influenciar a disputa até o período eleitoral.

A pesquisa foi realizada com 600 entrevistas digitais, aplicadas por meio de plataformas acessadas via smartphones, tablets e computadores. O recrutamento dos respondentes ocorreu de forma orgânica e dirigida, durante a navegação cotidiana em ambientes digitais.

A amostra foi calibrada com base nas variáveis sexo, idade, escolaridade, renda e região, assegurando a representatividade do eleitorado gaúcho. A margem de erro é de ±4 pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.

O público-alvo da pesquisa é composto por eleitores com ensino médio ou superior completos, mais de 35 anos e inserção ativa no mercado de trabalho. Esse grupo representa aproximadamente 40% do eleitorado do Rio Grande do Sul e é especialmente sensível às variações econômicas e à efetividade das políticas públicas, sobretudo nas áreas de segurança, emprego, educação e desenvolvimento regional.

A pesquisa utilizou a Methodus ID – Inteligência Digital, metodologia exclusiva do Instituto Methodus para coleta, calibração e análise de dados via plataformas digitais, com foco em representatividade eleitoral.

Publicado originalmente pelo Instituto Methodus em 14/08/2025

Por José Carlos Sauer

José Carlos Sauer é graduado em Filosofia e mestrando em Filosofia Política pela PUC-RS. Com 25 anos de experiência em campanhas eleitorais no Brasil, é diretor do Instituto Methodus e consultor especializado em comportamento político. Atua com excelência na condução de pesquisas de opinião, interpretação de dados e desenvolvimento de análises estratégicas.

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Last Update: 15/08/2025