Câmera corporal grava momento em que PM atira em suspeito de costas — Foto: Reprodução TV Globo

Desde 2022, os policiais militares do Rio de Janeiro precisam usar câmeras corporais (COPs) nos uniformes, principalmente em ações como operações, prisões e confrontos. O programa Fantástico, da TV Globo, divulgou uma análise de 200 processos criminais que mostram como essas gravações expõem desde abusos de agentes até situações dramáticas envolvendo policiais mortos ou cumprindo seu trabalho.

Nos últimos dois anos, a Polícia Militar do Rio abriu mais de 2,6 mil investigações para apurar possíveis irregularidades registradas pelas câmeras. Um desses casos ocorreu na Zona Norte, onde dois policiais foram acionados para perseguir um grupo que praticava assaltos.

Na abordagem, ao encurralarem o carro dos suspeitos em uma rua sem saída, um policial desceu da viatura atirando no veículo. Pouco depois, mais disparos foram ouvidos, mas não foi possível identificar quem atirou. Um dos suspeitos saiu do carro com as mãos levantadas, mas, mesmo assim, o policial insistiu para que ele saísse do veículo, embora já estivesse fora.

O homem, que afirmou ser trabalhador, sentou no chão e, ao levantar de costas para os policiais, foi baleado pelo sargento João da Silva. Apesar de o sargento ter deixado sua câmera na viatura, o equipamento do colega gravou toda a ação.

Na conversa registrada pela câmera, o outro policial relatou ao telefone: “O sargento se excedeu um pouquinho, deu nas costas do cara quando o cara desceu. Eu só dei nas pernas, nas rodas, entendeu?”. Mais tarde, na delegacia, as câmeras flagraram os policiais combinando uma versão diferente: “Então. Mas ó: ele tentou evadir e desviou. Então fugiu (…) Entenda bem. O senhor não mirou nele. O senhor mirou no veículo”, disse um deles.

O outro completou: “Quem foi que deu tiro nele, eu não sei. Não sei se foi da minha arma, se foi do… Foda é querer apreender minha arma né?”. A vítima, que confessou ter roubado uma bolsa durante a madrugada, foi condenada a seis anos de prisão. Já o sargento João foi afastado do trabalho nas ruas enquanto a corregedoria apura o caso.

Além dos desvios de conduta, outro problema identificado foi a ausência de gravações em muitos casos. Em um levantamento de quase 800 processos, 61% das imagens solicitadas pela Justiça não foram entregues.

Em 200 ocorrências, os vídeos foram apagados porque os agentes não ativaram o botão “ocorrência”, responsável por salvar as gravações por até um ano. Em outros episódios, os policiais sequer usavam as câmeras durante as ações.

Recentemente, a Polícia Militar anunciou mudanças no sistema das câmeras após uma investigação do Ministério Público do Rio identificar um esquema apelidado de “tour da propina”. Segundo o MP, agentes manipulavam as câmeras para ocultar crimes, virando as lentes para o lado, cobrindo-as com as mãos ou até mesmo deixando os equipamentos nas viaturas ou em bases policiais, evitando que as práticas ilegais fossem registradas.

Além disso, uma das gravações mostrou a tentativa de suborno de uma mulher após um homem ser preso em Copacabana, Zona Sul do Rio, por furtar R$ 400 em itens de um supermercado. O suspeito ofereceu R$ 1 mil. Ao entregar ao policial, ela recebe voz de prisão: “Agora você vai pra delegacia também. Sou polícia, irmão. Não sou vagabundo, não. Não aceito arrego de ninguém, não”, disse o agente.

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Last Update: 02/12/2024