A Polícia Federal (PF) segue investigando o rastro do dinheiro que, de acordo com o tenente-coronel João Silva, foi entregue pelo general Carlos Alberto Gomes, preso no último sábado (14), para viabilizar ações clandestinas. Segundo Silva, os recursos foram obtidos “junto ao pessoal do setor agrícola”, conforme informações do Globo.
A prisão do militar aconteceu em sua residência no Rio de Janeiro e está relacionada à tentativa de golpe de Estado. A PF apontou que há indícios de que Gomes ajudou a financiar um plano para assassinar e sequestrar autoridades.
Entre as evidências, a delação de João Silva revelou que Gomes transportou o montante em “uma sacola de vinho” e o entregou ao major Rafael de Oliveira. O dinheiro foi usado para adquirir um celular com pagamento em espécie, posteriormente utilizado por integrantes das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”.
Esse grupo, segundo a PF, monitorou autoridades em 2022 após a vitória de Lula nas eleições. No dia 15 de dezembro, o major Oliveira comprou um celular em Goiânia por R$ 2,5 mil, à vista, com a transação sendo realizada por sua esposa. Além disso, cinco recargas de R$ 20 foram feitas de forma sequencial em uma drogaria de Brasília, também com pagamento em espécie.
Em documentos apreendidos, a PF encontrou registros da operação “Punhal verde e amarelo”, que detalhava a utilização de “seis telefones celulares descartáveis”. O relatório indicava que esses aparelhos foram usados em uma ação clandestina no dia 15 de dezembro de 2022, planejada para prender ou executar o ministro Alexandre de Moraes.
Segundo a PF, os celulares tinham chips habilitados em nomes de terceiros e estavam associados a codinomes de países para garantir anonimato durante a ação criminosa.
“Pessoal do setor agrícola”
A investigação também se concentra em identificar quem é o “pessoal do setor agrícola” citado por João Silva. Durante a prisão de Gomes, celulares e “centenas de pen drives” foram apreendidos com Flávio Botelho Peregrino, assessor do general, e estão sendo analisados.
Documentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) já haviam apontado a participação de produtores rurais em atos antidemocráticos e bloqueios de rodovias logo após a derrota de Bolsonaro. O relatório da Abin detalhou como o Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA), formado por produtores rurais, participou de ações para contestar o resultado das eleições, financiando o transporte de manifestantes e ações extremistas, como os ataques de 8 de janeiro.
Além disso, um áudio de João Silva, enviado em 16 de novembro, reforçou o papel de empresários do setor agrícola no financiamento dessas atividades. Na gravação, Silva afirma que “empresários do setor agrícola” estavam “financiando” e “colocando carro de som em Brasília”.
Em outro diálogo, uma investigada relatou que empresários do setor agrícola financiaram três mil ônibus para transportar manifestantes a Brasília: “Pessoal do setor agrícola lá de Goiânia, dos arredores de Brasília e tudo. O setor agrícola botou aí um apoio aí pra três mil ônibus”, disse. A PF continua avançando nas investigações, cruzando informações e analisando os dados obtidos.
No entanto, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que reúne 340 deputados federais e senadores, solicitou urgência nas investigações e destacou que “ações isoladas” não devem “comprometer a imagem de um setor econômico composto por mais de 6 milhões de produtores”.