A Coreia do Norte criticou duramente o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, após ele classificar o país como um “estado desonesto” em uma entrevista. Em uma declaração divulgada pela mídia estatal na segunda-feira, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores norte-coreano afirmou que os “comentários grosseiros e sem sentido” de Rubio apenas confirmam a hostilidade inalterada dos EUA em relação à República Popular Democrática da Coreia (RPDC).
“Os comentários de Rubio apenas mostram diretamente a visão incorreta da nova administração dos EUA sobre a RPDC [República Popular Democrática da Coreia]”, disse o porta-voz, reforçando que os comentários de Rubio não contribuem para os interesses dos Estados Unidos.
A reação de Pyongyang é a primeira crítica direta ao governo Trump, demonstrando que o regime de Kim Jong Un não está disposto a reconsiderar negociações sobre seus programas nucleares, apesar dos recentes acenos do presidente americano.
Divergências na diplomacia
Marco Rubio, senador republicano e membro influente do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA, fez a declaração sobre a Coreia do Norte em uma entrevista concedida na quinta-feira (29) à apresentadora Megyn Kelly, na SiriusXM, onde também incluiu o Irã na lista de “estados desonestos”. Embora essa classificação seja comum no discurso de autoridades americanas, a polêmica se intensificou após Trump ter se referido à Coreia do Norte como uma “potência nuclear” no mês passado. Tal expressão contraria a política histórica dos EUA de evitar qualquer reconhecimento implícito do status nuclear de Pyongyang.
O ex-presidente republicano, que já se encontrou três vezes com Kim durante seu primeiro mandato, tornando-se o primeiro presidente dos EUA em exercício a realizar uma cúpula com um líder norte-coreano. Trump sempre manteve um discurso ambíguo sobre o regime norte-coreano. Ele já descreveu Kim como um “cara inteligente” e recentemente reiterou seu interesse em retomar o diálogo com o líder asiático.
Avanços militares norte-coreanos
Apesar dos gestos de Trump, a Coreia do Norte continua reforçando suas capacidades militares. Na semana passada, Kim Jong Un inspecionou uma instalação de produção de material nuclear e pediu a ampliação das capacidades de combate nuclear do país. Segundo a mídia estatal norte-coreana, já houve três exibições de armamentos em 2025, incluindo mísseis balísticos de curto alcance, um novo míssil hipersônico de alcance intermediário e mísseis de cruzeiro estratégicos.
A prioridade de Kim parece ser um número estimado de 10.000-12.000 soldados norte-coreanos enviados para dar suporte aos esforços de guerra de três anos da Rússia contra a Ucrânia, a primeira grande participação do Norte em uma guerra estrangeira. A Coreia do Norte também forneceu uma vasta quantidade de artilharia e outras armas convencionais para a Rússia.
Em troca, a Coreia do Norte parece estar recebendo assistência econômica e militar da Rússia. Em junho passado, Kim e o presidente russo Vladimir Putin assinaram um pacto histórico prometendo assistência militar mútua se qualquer um dos países for atacado. Seul, Washington e seus parceiros temem que Putin possa dar a Kim tecnologias sofisticadas que podem aumentar drasticamente seus programas de mísseis nucleares.
Inércia diplomática
A crescente militarização da Coreia do Norte e sua retórica agressiva indicam que o país não pretende abrir mão de seu arsenal nuclear, tornando improvável qualquer retomada de negociações no curto prazo. Enquanto isso, os EUA seguem enfrentando desafios para definir uma estratégia eficaz em relação ao regime de Kim Jong Un, equilibrando interesses diplomáticos e pressões internas para conter a escalada militar norte-coreana.
A falta de diálogo e a escalada militar aumentam os riscos de instabilidade no nordeste asiático, com implicações para a segurança global. A comunidade internacional, incluindo aliados dos EUA como Coreia do Sul e Japão, observa com preocupação o desenrolar desse cenário, que pode levar a novos testes nucleares ou a uma crise diplomática mais profunda.