A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) volta a ser cercada de expectativa após sinalização negativa do último encontro. Nesta quarta-feira (19), será divulgada a decisão sobre o rumo da taxa básica de juros, a Selic. Por um lado, trabalhadores e sindicatos pedem a continuidade dos cortes, enquanto o mercado financeiro indica a manutenção do atual patamar de 10,5% ao ano.
Nesta terça-feira (18), as centrais sindicais organizam protestos em São Paulo e Brasília contra os juros altos. Há um ano, quando o atual ciclo de reduções foi iniciado, os sindicalistas já pediam um ritmo mais acelerado de cortes. No entanto, o que se viu foram cortes de 0,5% ao longo do período até a última reunião ocorrida em maio, quando o corte realizado foi de apenas 0,25% – o que já ligou o alerta da população.
Sem uma sinalização clara na última ata sobre o rumo da Selic, analistas tem indicado que a decisão deve se basear no Boletim Focus, que traz as expectativas do mercado financeiro. O último Boletim indica a manutenção dos juros em 10,5%, alterando uma previsão anterior que previa que no ano de 2024 os juros terminariam em 10%.
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Este cenário reflete a atual diretoria do Copom, composta pela maioria de indicados ainda na gestão Bolsonaro e comandados por Roberto Campos Neto. Estes diretores tem dado maior respaldo às expectativas do setor financeiro em detrimento aos setores produtivos e ao restante da população brasileira.
Nesse aspecto, as dúvidas quanto a um novo corte de 0,25% surgiram e deixou esta expectativa ainda mais distante com as indicações internacionais usualmente utilizadas para justificar as decisões internas.
Dessa forma, não será surpresa se em uma possível justificativa para manutenção do atual patamar de juros aparecerem a alta do dólar e os juros dos Estados Unidos (5,25% a 5,50%, patamar considerado o mais alto das últimas décadas para o país).
Outro ponto que será considerado é a subida da inflação, ainda que dentro da meta de 1,5% e 4,5% com centro de 3%. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cresceu 0,46% em decorrência da alta dos alimentos e a tragédia do Rio Grande do Sul. Com isso, a inflação acumula 3,93% em 12 meses. Ou seja, o mercado lança suspeita quanto ao impacto econômico e fiscal, pois o governo utiliza toda a sua capacidade em socorro à situação de calamidade que atingiu o estado gaúcho, e o financismo ainda sai ‘premiado’ com juros altos para garantir sua maior remuneração.