Com início programado para o próximo domingo 15 , a Copa do Mundo de Clubes promete ser mais uma fonte de renda para a FIFA. Com participações dos campeões continentais entre 2021 e 2024, além de alguns clubes convidados, o torneio satisfaz um pedido antigo do presidente da instituição, Gianni Infantino, e que parece ter perdido força ao longo do tempo.
Em relação ao formato, a competição conta com a participação de 32 equipes dos cinco continentes, incluindo quatro times brasileiros (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras), que se enfrentam nos moldes do mundial de seleções. Entre campeões e os melhores ranqueados na lista da própria FIFA — essa “regalia” é exclusiva da Conmebol e da UEFA — sai o vencedor deste troféu inédito.
A fim de se adaptar à disputa, a CBF concordou em paralisar o campeonato nacional por algumas semanas para que os clubes dediquem-se exclusivamente à competição. Isso porque se, por um lado, a temporada europeia chegou ao fim, por outro, a nova competição chega no meio do calendário brasileiro — que por si só já é considerado um problema (mas isso é um outro debate).
Por tratar-se de um novo torneio no calendário futebolístico, o Super Mundial poderia tornar-se um elefante financeiro nos cofres da FIFA — mas tal possibilidade não aconteceu e, por fim, uma parceria importante foi consolidada. Diante da relevância dos direitos de imagem, o Observatório das Transmissões de Futebóis incorpora o campeonato ao levantamento das exibições dos principais campeonatos estaduais, nacionais e continentais, tanto do futebol feminino quanto do futebol masculino.
A parceria entre DAZN e FIFA
A plataforma inglesa de streaming de eventos esportivos, criada em 2016, chegou ao Brasil em 2019, comprando os direitos televisivos de alguns campeonatos secundários, como a Copa Sul-Americana e a Série C do Campeonato Brasileiro. Atualmente, mesmo reformulando sua estratégia no mercado nacional, a empresa está presente em nove países (Brasil, Estados Unidos, Espanha, Canadá, Itália, Japão, Áustria, Suíça e Alemanha) e se tornou a detentora dos direitos de transmissão a nível mundial do Super Mundial. Com isso, quem quer exibir a competição não precisa negociar com a FIFA, mas com a detentora.
A própria FIFA afirmou em seu anúncio oficial que o acordo “marca o início de uma parceria entre a entidade e a DAZN em termos de transmissão”. Sobre o assunto, o jornal norte-americano The New York Times relatou que as cifras da parceria podem chegar a 1 bilhão de dólares – valor distante da projeção inicial da FIFA, que era de 2 bilhões de dólares.
A partir do acordo entre a Federação e a plataforma de streaming, a DAZN conseguiu a permissão para sublicenciar os direitos de transmissão da competição com outros países. No caso do Brasil, os 63 jogos foram divididos entre o Grupo Globo (TV Globo e SporTV) e a LiveMode, agência de marketing esportivo que negocia os direitos de imagem dos torneios exibidos pela Cazé TV por meio do YouTube.
O Super Mundial em comparação com Intercontinental de Clubes
O produto do Mundial de Clubes não é desconhecido do público, porém, o novo formato promove algumas mudanças em relação ao torneio Intercontinental, também promovido pela entidade. Formado por campeões das principais copas continentais, este torneio de “tiro curto” possui poucos jogos, em formato de mata-mata, ocorrendo anualmente em dezembro.
Antecedendo a Copa do Mundo de Seleções, a cada quatro anos, o mundial de clubes será premiado como campeão mundial, assim como o vencedor do torneio Intercontinental. Na edição de 2024, o Botafogo foi o representante da América do Sul por ter sido vencedor da Libertadores, arrecadando cerca de 6,2 milhões de reais pela participação, enquanto o campeão, Real Madrid, faturou cerca de 30,9 milhões.
Na edição que inaugura o Super Mundial, as premiações são maiores. Entre os brasileiros participantes, cada um deles deve faturar cerca de 15 milhões de dólares – convertendo para o real, esse valor deve chegar aos 86 milhões.
As cotas de premiação por participação mudam conforme o continente da equipe — enquanto europeus poderão receber até 38 milhões de dólares pela participação, equipes da Oceania receberão apenas 3,55 milhões de dólares por participar do torneio. Ao todo, a FIFA planeja distribuir entre os participantes cerca de um bilhão de dólares — na conversão, o valor deve ficar próximo dos 5,8 bilhões de reais.
O Intercontinental nas transmissões
O Observatório das Transmissões de Futebóis busca investigar as transmissões dos principais campeonatos nos últimos anos. Sendo um dos principais produtos da FIFA, o Intercontinental ou o Mundial de Clubes, como era conhecido anteriormente, é um produto com bastante mercado entre as possíveis transmissoras.
Desde 2012, quando a base de dados do Observatório começou, o Intercontinental no Brasil é exibido principalmente pelo Grupo Globo. De 2012 a 2025 (onde os direitos de transmissão do Intercontinental ainda não foram negociados), o único ano em que o Grupo Globo não transmitiu o campeonato foi 2021 — quando o Grupo Bandeirantes (Band e BandSports) transmitiram a competição com exclusividade.
Nos outros anos, o Grupo Globo liderou as transmissões, mas em alguns momentos dividiu o torneio com outros canais: a antiga FoxSports (hoje parte do Grupo Disney), o próprio Grupo Bandeirantes (Band e BandSports) e nos últimos anos com a Cazé TV.
Em 2012 e 2013, a Band dividiu os direitos com o Grupo Globo, enquanto a antiga FoxSports também transmitiu o torneio com a Globo entre 2013 e 2018. A Cazé TV (por intermédio da Live Mode) transmite o torneio com o Grupo Globo desde de 2022.
Nesse período vale também a menção à FIFA+ (streaming da própria FIFA), que transmitiu o Intercontinental de 2022. O FIFA+ não foi descontinuado pela Federação e deve voltar a figurar nas transmissões importantes por conta da DAZN – afinal, o acordo entre FIFA e DAZN promove a inclusão do FIFA+ no streaming, além de outros conteúdos, como partidas históricas do esporte, por exemplo.
O monopólio do Grupo Globo nas transmissões de competições da FIFA também demonstra a força da CBF na entidade — afinal, as três estavam diretamente ligadas por conta de um presidente histórico da Confederação: Ricardo Teixeira.
CBF e FIFA: o histórico de envolvimento em polêmicas.
Em 2012, a revista piauí publicou uma reportagem sobre os anos de Ricardo Teixeira à frente da Confederação. Um dos maiores cartolas do mundo na época, ele era reconhecido por seu pragmatismo e sua influência dentro da própria FIFA. Ricardo ficou quase 30 anos na presidência da CBF e aprofundou as ideias deixadas por um outro presidente histórico, que comandou a FIFA: João Havelange.
João é o responsável pela criação do que conhecemos por futebol atualmente. Um brasileiro “visionário” que percebeu no esporte uma possibilidade de criar uma indústria econômica rentável e bem-sucedida. Enquanto João tinha as ideias, Ricardo era o responsável por aplicá-las em território nacional.
Introduções à parte, Ricardo era muito bem recebido na FIFA. Segundo a mesma reportagem da piauí, Ricardo era “blindado” e sua relação com a principal detentora dos direitos de transmissão era próxima. Além de homem forte da CBF, com ligações sólidas dentro da FIFA e também uma relação consistente com o Grupo Globo, principal transmissor do futebol brasileiro, Ricardo Teixeira poderia não ter nada para se preocupar.
Em 2015, o “FIFA Gate” – como ficou conhecido os escândalos de corrupção dentro da FIFA – começou a dar os primeiros passos. Um possível esquema de compra de votos para eleger uma sede de Copa do Mundo em 2018 e 2022 foi um dos marcos da investigação, com alguns cartolas sendo presos durante os desdobramentos.
Ricardo Teixeira, José Maria Marín, Marco Polo Del Nero (que passaram pela presidência da CBF) e tantos outros dirigentes do mundo, incluindo Joseph Blatter e Michel Platini (ex-presidente da UEFA), foram julgados por suas contravenções e os casos seguem abertos até os dias atuais.
A FIFA reconhece que o ambiente naquele período era “tóxico” e reafirma os processos de mudanças nas escolhas das sedes do seu principal evento, promovendo uma escolha democrática com todos os participantes. Apesar de a FIFA ter reconstruído seu poder no futebol e incluído o Grupo Globo como agente importante das transmissões, a CBF não teve tanta sorte assim.
A crise institucional da Confederação pode ter começado com Ricardo Teixeira, mas desde então, o “caos” não mudou muito. Marín e Del Nero, que também foram presidentes da Confederação, foram indiciados no FIFA Gate. Coronel Nunes e José Perdiz foram apenas interinos e passaram discretamente pelo cargo, o que pode ser considerado uma vitória.
Entre os interinos, Rogério Caboclo foi o escolhido para comandar a Confederação, mas sua liderança no futebol brasileiro durou pouco tempo — afinal, Caboclo foi afastado de suas funções após denúncias de assédio. Ednaldo Rodrigues é um dos que entram na lista de presidentes da Confederação com uma passagem tanto quanto contraditória. Ednaldo foi afastado de suas funções em 2025 e Samir Xaud assumiu a liderança do futebol brasileiro.
Conclusões
O Super Mundial começa em breve e reafirma a parceria entre alguns agentes importantes no mercado, principalmente, Grupo Globo e FIFA. A DAZN volta a figurar entre as principais transmissões no mercado nacional — tendo produtos como a Sul-Americana (entre 2019 e 2020) e a Copa do Nordeste em seu catálogo — e também mostra sua expansão no mercado fechando esse acordo com a FIFA.
O Grupo Globo continua como o principal transmissor dos campeonatos com participações de clubes brasileiros, mantendo a tradição de proximidade com a FIFA e também com a CBF. Agora, a entidade nacional aposta em um novo rosto (Samir Xaud) para finalmente sair da crise institucional e também da crise esportiva para recuperar o trono do país do futebol.