Cooperativa Terra Livre busca investimento para avançar na agroecologia e comercialização de alimentos

Festa do arroz agroecológico da Cooperativa Terra Livre. Foto: Priscila Ramos

Por Solange Engelmann
Da Página do MST

Fundada a partir da necessidade de organização da produção e comercialização de alimentos da Reforma Agrária, cultivados por família assentadas do MST no estado do Rio Grande do Sul, foi criada a Cooperativa Terra Livre. Atualmente a cooperativa está presente em vários estados do país, e desempenha papel importante no acesso a mercados justos, na valorizando do trabalho dos camponeses/as e agricultores familiares e na cooperação, instrumento essencial para o avanço da Reforma Agrária Popular no país.

Hoje a Terra Livre conta com mais de 900 famílias associadas, entre o público assentado e outros setores da agricultura familiar, abrangendo as regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. E atua no beneficiamento, na agroindustrialização e na comercialização de produtos como arroz, feijão, sucos de uva e outras frutas, leite em pó e outros produtos lácteos, mel, café, entre outros, produzidos pelas camponesas e camponeses assentados da Reforma Agrária e pelas agricultoras e agricultores familiares.

Alimentação escolar e formação de estoque

A Terra Livre comercializa a produção de seus associados para Prefeituras Municipais e Escolas Estaduais, Institutos Federais de Educação e Universidades, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), em estado como, o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Norte. São comercializados ainda produtos em feiras, nos armazéns do campo e em mercados tradicionais, locais, regionais, nacionais e para outros países.

Foto: Alexandre Garcia

Também são realizadas vendas de produtos para programas institucionais do governo federal, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), na modalidade institucional, com entregas para o Exército Brasileira, espaços prisionais, hospitais, restaurantes populares entre outras entidades sociais, oferecendo nossa variedade de alimentos da agricultura camponesa e familiar. Além de entregas para a política de formação de estoque público, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

Nesse contexto, a responsável pela cooperativa, Sarita dos Santos enfatiza que a Terra Viva tem um papel importante no enfrentamento à fome e vulnerabilidade alimentar no país. “A Cooperativa contribui no combate à fome e na insegurança alimentar, comercializando a produção de seus associados e entregando em entidades em situação de vulnerabilidade social, atendidas por programas governamentais”.

Foto: Leandro Molina

Crédito e investimentos

O desafio da Cooperativa Terra Livre hoje é ter acesso de forma desburocratizada a créditos e investimentos agrícolas de longo prazo, médio e curto prazo. para apoiar o trabalho e avançar na comercialização, acessando mercados justos em todo o país e no exterior. Além disso, em 2024, a Cooperativa enfrentou diversos desafios devido às enchentes no Rio Grande do Sul, que devastou grande parte da produção, comprometeu maquinários, além da perda de estoques. Mas, a Cooperativa se reergueu e tem retomado suas atividades a partir do trabalho coletivo e da solidariedade de trabalhadores/as do MST e apoiadores da Reforma Agrária em todo o país.

Atualmente a Terra Livre está em busca da captação de recurso de mais de 2 milhões de reais, por meio do Financiamento Popular para Produção de Alimentos Saudáveis (Finapop), para a formação de capital de giro e compra de produtos, com a intenção de adquirir a produção dos cooperados e cooperadas e garantir a comercialização no mercado institucional. O Investimento é necessário, pois a enchente de 2024 afetou grande da capacidade desse capital da cooperativa.

Fotos: Fellipe Abreu/Raízes do Campo

“A produção primaria necessita de um montante significativo de capital de giro para que possamos pagar em dia e a preço justo as famílias que dependem diretamente dessa renda para manter uma vida digna no campo. Existe um período de tempo entre a Cooperativa receber a produção, beneficiar e receber o pagamento desse produto. Esse tempo o produtor não consegue esperar para receber o pagamento, aí o acesso ao crédito através do Finapop vai nos ajudar, e possibilitar que a cooperativa continue crescendo e abrindo mais portas para comercialização e potencializando a produção de alimentos saudáveis para a população”, resume Djones Zucolotto, responsável pela Cooperativa.

Nesse sentido, Sarita complementa que o propósito da cooperativa com a busca de investimento de capital de giro pela plataforma do Finapop, está voltada principalmente aos agricultores/as “envolvidos nas produções de arroz orgânico, feijão e frutas. São produções sazonais e que demandam um grande aporte financeiro e o capital de giro é importante para que a cooperativa consiga organizar a comercialização da produção junto ao mercado institucional ao longo do ano.”

Como investir na Cooperativa Terra Livre através do Finapop?

O Finapop foi criado em 2020, com a intenção de que as pessoas tenham motivos para “Investir com propósito: Investimento sustentável, saudável e seguro”, anuncia a plataforma, que tem se tornado uma iniciativa inovadora e essencial na busca de crédito produtivo, com menos burocracia e obstáculos para o avanço da cooperação e produção de alimentos nas áreas de Reforma Agrária.

Foto: Priscila Ramos

O propósito da plataforma online é conectar investidores individuais com interesse em investir, a projetos produtivos em territórios de Reforma Agrária, oferecendo uma alternativa concreta ao modelo tradicional de financiamento. O foco principal está no fomento das cooperativas e assentamentos de Reforma Agrária, que se destacam na produção de alimentos saudáveis, na preservação ambiental e na valorização das comunidades rurais.

“A proposta do Finapop vai além do crédito produtivo, pois busca superar barreiras históricas enfrentadas pelos assentados da Reforma Agrária no acesso aos créditos agrícolas, como a dificuldade de acessar políticas públicas e o preconceito das instituições financeiras em relação à agricultura familiar e à ao sistema agroecológico”, explica o diretor executivo do Finapop, Luis Costa.

Banca de Produtos Terra Livre. Foto: Cooperativa Terra Livre

Qualquer pessoas que tiver interesse em investir na captação de recursos da Cooperativa Terra Livre pode acessar a plataforma do Finapop (https://finapop.com.br/plataforma/), até o próximo dia 7 de julho. O investimento conta com uma rentabilidade de 11% ao ano, com duração de total de 18 meses e carência de seis meses, para o investidor começar a receber os pagamentos de juros e do valor.

É possível investir a partir de R$ 100 e ajudar a Terra Livre a expandir sua atuação, levando alimentos saudáveis para mais pessoas e gerando renda para as famílias que cultivam a terra e preservam o meio ambiente”, informa a plataforma.

Passo a passo: Para ter acesso a oferta de investimento, o primeiro passo é o investidor se cadastrar na plataforma, em seguida terá acesso a informações sobre como investir, entre outros dados, tornando o investimento mais democrático.

Ao acessar a plataforma do site do Finapop (https://finapop.com.br/), é só clicar no menu do lado esquerdo e selecionar a opção “Como investir”. Lá a pessoa terá acesso a mais informações sobre a remuneração, prazos e as características da atividade produtiva, das cooperativas e famílias que serão beneficiadas pelo investimento. Link da plataforma https://finapop.com.br/plataforma/ também é possível tirar dúvidas com a equipe do Finapop, acessando os bate-papo exclusivos.

Por que investir na Terra Livre?

Ao investir na Cooperativa Terra Livre as pessoas estarão incentivando a geração de renda e de melhores condições de vida para 1.500 famílias cooperadas, grande parte formada por jovens e mulheres. Além de fortalecer o fornecimento de alimentos saudáveis e de base agroecológica para a população e apoiar a agricultura familiar e combate à degradação ambiental.

Foto: MST

“O investimento em projetos como os propostos pela Terra Livre e o Finapop dialogam com uma outra perspectiva de investimento, onde não é apenas o lucro que está envolvido, mas o investimento em projetos que tem como objetivo o desenvolvimento da Reforma Agrária Popular, onde a terra tem um fim social, de desenvolvimento do ser humano e da natureza, com a produção de alimentos saudáveis aliado a um projeto de vida em harmonia com a natureza, gerando renda e qualidade de vida”, resume Sarita ao falar sobre por que é importante que as pessoas invistam e apoiem a Cooperativa.

Segundo ela, a partir do investimento a Terra Livre pretende avançar em ações de longo prazo, que serão fundamentais para a garantia da compra da produção dos associados, além de possibilitar que “a base associada se amplie e que muitos que estão envolvidos com outras produções retornem para a produção de alimentos, ampliando a produção de base agroecológica, com consequências na geração de renda para as famílias camponesas, preservação do meio ambiente e o fornecimento de alimentos saudáveis na alimentação escolar.

Djones Zucolotto também destaca que o investimento na Terra Livre, de forma indireta, também é essencial para que o MST avance na Reforma Agrária e em pautas importantes em relação à isso, e na melhoria das condições de vida das famílias assentadas e agricultoras familiares que são cooperadas na cooperativa.

Produtos Terra Livre. Foto: Cooperativa Terra Livre

“É importante porque nos ajuda a fazer valer a insígnia da Reforma Agrária Popular, onde através da produção dos alimentos de qualidade que colocamos na mesa da população, conseguimos dialogar com a sociedade sobre a importância da democratização ao acesso da terra para a diversificação da produção, o respeito aos recursos naturais como a água, minerais, as florestas, os animais silvestres, sendo que tudo isso é essencial para a continuidade da vida humana na terra”, aponta.

Sarita também relembra que o acesso a investimentos como esses contribui para garantia de uma renda justa às famílias associadas na comercialização da sua produção e evita um conjunto de perdas no acesso aos mercado. “A organização da comercialização pelas cooperativas da Reforma Agrária, garantem preços mais juntos para quem produz e de comercialização para quem consome. Essa estratégia de financiamento com juros mais saudáveis, possibilita que as cooperativas tenham operações mais solidas e sustentáveis economicamente. E gera uma proteção a produção das famílias, que não ficam refém dos atravessadores, que sempre exercem baixos preços nas compras da produção”.

Por outro lado, os efeitos da crise climática e do avanço do projeto de destruição da natureza pelo agronegócio também tem cobrado a urgência de crédito para a produção de alimentos saudáveis no campo. “O investimento nos possibilita continuar lutando e fomentando uma matriz tecnologia de produção sustentável no campo, e as famílias associadas, que são os sujeitos nesse processo conseguem permanecer na terra plantando e colhendo alimentos de qualidade, tendo uma garantia de renda justa e vivendo de forma digna”, enfatiza Djones.

Como surgiu a Cooperativa Terra Livre?

A Cooperativa Terra Livre foi criada em 2008, no Rio Grande do Sul e hoje atua em todo país, tanto no mercado convencional como no mercado institucional. Desde 2014, tem comercializado também alimentos da Reforma Agrária para países como Venezuela, Haiti, Alemanha e Espanha. E, no momento está em negociação com outros países, como África do Sul, Angola, Moçambique e Estados Unidos.

O principal desafio da cooperativa está na massificação da produção de alimentos saudáveis. “Pra isso, precisamos trabalhar na recuperação de solos degradados, acessar tecnologias e maquinários voltados para o trabalho na agricultura familiar, além de lidar com as mudanças do clima, além de superar a falta de recursos e seguirmos firmes no propósito de produzir alimentos dentro de sistemas agroecológicos”, a responsável pela Cooperativa, Sarita dos Santos.

*Editado por Erica Vanzin

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