Colunista de Brasil247, o jornalista Carlos Eduardo, publicou um artigo intitulado Marçal é candidato do PRTB ou do PCC?, tendo como tema central a campanha da direita centrista que busca equiparar o candidato bolsonarista à organização criminosa Primeiro Comando da Capital. “Como ter certeza se o voto em Pablo Marçal é um voto para o PRTB ou para o PCC?”, questiona o jornalista, sem explicar porque o voto em uma organização seria pior do que o voto em outra, mas deixando claro, porém, o desprezo da pequena burguesia pelos direitos democráticos, mesmo sendo porta-voz de um setor que fala tanto em “democracia”.
“Ontem, na entrevista à GloboNews, o próprio Pablo Marçal admitiu não ter certeza se Avalanche, que o indicou candidato, tem ou não ligações com o PCC. Por ele, ‘pode investigar todo mundo’.
Se nem ele sabe se o seu partido foi infiltrado por essa facção do crime organizado, como o eleitor vai saber? Como ter certeza se o voto em Pablo Marçal é um voto para o PRTB ou para o PCC?
Enquanto essa dúvida não for esclarecida, nem o partido nem o candidato deveriam continuar na disputa.
Muito menos pode valer o registro de uma candidatura escolhida por um presidente envolvido em tantas denúncias cabeludas. Uma árvore envenenada dá frutos envenenados.
Marçal é candidato do PRTB ou do PCC?”
A posição defendida por Carlos Eduardo consegue ser ainda mais reacionária do que a dos operadores do golpe da Lava Jato, que usaram uma condenação sabidamente farsesca para tirar da disputa presidencial o principal líder popular do País, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma decisão fundamental para a vitória do líder da extrema direita Jair Messias Bolsonaro (PL). Em que pese a farsa de toda a encenação e do julgamento meramente protocolar, os golpistas de 2018 esperaram uma condenação sair para interferir no resultado. Carlos Eduardo, nem isso.
Impedir o candidato da extrema direita Pablo Marçal de participar do processo eleitoral é um absurdo, além de totalmente antidemocrático como princípio, é uma intervenção que tende a apresentar as piores consequências para a esquerda. Se uma mera investigação basta para que os direitos políticos de alguém sejam cassados e a pessoa impedida da participar de uma disputa eleitoral, melhor seria cancelar as eleições de uma vez por todas.
Qual o sentido de fazer eleições se tudo basta uma acusação informal para que uma pessoa seja retirada da disputa? No mundo real, isso terá a seguinte consequência: quando o acusado for alguém que interessa ao imperialismo ver na disputa, se levantarão as garantias do processo democrático normal.
Quando o acusado da vez for uma pedra no sapato do imperialismo, não haverá garantias constitucionais, “devido processo”, etc., apenas e tão somente o interesse da classe dominante. Exemplos que comprovam ser esse o funcionamento normal da justiça brasileira são tão recentes e impactantes, que é inacreditável que o jornalista defenda o ataque da burocracia judicial a um dos candidatos em uma eleição, seja quem for.
Ainda, se antes Carlos Eduardo queria barrar a participação de Marçal nos debates, uma manobra rasteira que fere os princípios democráticos mais básicos ao tentar calar um candidato de oposição, agora, ele avança mais um passo em sua cruzada antidemocrática, sugerindo que a repressão estatal seja acionada para caçar Marçal e, quem sabe, removê-lo da disputa eleitoral.
Isso não é apenas uma tentativa de manipular o processo eleitoral; é uma demonstração clara do quanto a pequena-burguesia está disposta a recorrer a qualquer arma suja, desde que possa manter seu domínio sobre as massas, evitando a mobilização popular que realmente pode fazer frente ao avanço da direita.
Ao longo do texto e sem qualquer prova concreta, Carlos Eduardo repete a imprensa burguesa, que ainda sem abdicar de Ricardo Nunes, tentam associar Marçal e o PRTB ao PCC. É típico dos oportunistas, que preferem disseminar o medo e a desinformação em vez de travar uma luta política aberta. Em vez de mobilizar a população, organizando o povo para se opor ao candidato de direita nas ruas, Carlos Eduardo opta por apelar aos métodos mais baixos e antidemocráticos, querendo que a justiça e a polícia façam o trabalho sujo de remover seu oponente do caminho.
Ao invés de confrontar o crescimento da direita com a mobilização das massas e o fortalecimento da luta popular, a pequena burguesia prefere confiar em táticas de intimidação e repressão, exatamente como os setores mais reacionários da sociedade. Demonstra, assim, na prática, que não está preocupado com a “democracia” ou com a suposta infiltração do crime organizado na política; o que ele teme é a possibilidade de perder o controle e ver o povo tomar as rédeas de sua própria luta. Carlos Eduardo, como qualquer pequeno-burguês, treme de medo diante da ideia de uma mobilização popular que poderia varrer não apenas a direita, mas também todos os seus privilégios e ilusões de poder.
Se realmente houvesse preocupação com a influência de grupos criminosos no processo eleitoral, Carlos Eduardo e outros como ele estariam denunciando a estrutura corrupta que permeia todo o sistema político brasileiro, desde o financiamento de campanhas até o controle dos meios de comunicação, e principalmente, a infiltração do imperialismo no nosso processo eleitoral.
Para isso, no entanto, significaria enfrentar os verdadeiros donos do poder, algo que Carlos Eduardo jamais faria. É mais fácil mirar em um candidato específico e ainda, seguir os monopólios de imprensa, difamando-o e sugerir que seja removido do caminho por meio de táticas autoritárias.
O problema é que essa tática é não apenas antidemocrática, mas também ineficaz. Barrar Marçal por meio de manobras judiciais ou de repressão policial não resolve o problema do crescimento da direita; pelo contrário, apenas fortalece a propaganda de que eles são vítimas de uma conspiração das ditas “elites”.
O único caminho para enfrentar a direita é através da mobilização popular, organizando o povo para lutar por mais direitos e para construir um projeto político que realmente enfrente as causas profundas da desigualdade e da opressão. Mas isso, claro, é algo que Carlos Eduardo jamais entenderia ou defenderia, preso que está às suas ilusões pequeno-burguesas e ao seu medo de uma verdadeira revolução social.
O artigo de Carlos Eduardo é a expressão de uma classe levada ao desespero e que, na luta pela manutenção de seus parcos privilégios, apega-se a qualquer coisa, sem perceber a armadilha posta contra a esquerda. Pior, evitar a luta política real, preferindo recorrer a táticas sujas e antidemocráticas.
É uma postura covarde, perigosa, que apenas serve para desmoralizar ainda mais o processo eleitoral e fortalecer os setores mais reacionários da sociedade, não devendo ser seguida pela esquerda, portanto. Se os trabalhadores e estudantes realmente querem derrotar a direita, é necessário abandonar as ilusões com o aparelho de repressão e mobilizar o povo, para organizar uma luta política séria e consistente.