O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Lavrov, confirmou que especialistas russos e estadunidenses mantiveram conversas secretas para discutir possíveis saídas para a guerra na Ucrânia. A Folha havia revelado a existência desse grupo em março, após conversas em Moscou com fontes informadas sobre as negociações. Segundo Lavrov, os contatos, que duraram pouco mais de um ano, não produziram resultados concretos.
“Tivemos contatos antes não divulgados com estadunidenses por meio de especialistas que conheciam e entendiam as políticas de seus governos”, afirmou Lavrov na quarta-feira (17), em Nova York, onde presidia sessões do Conselho de Segurança da ONU, que está sob a presidência rotativa da Rússia neste mês.
O ministro não detalhou os temas discutidos, mas confirmou que um dos pontos foi o status dos russos étnicos na Ucrânia, uma das queixas do governo de Vladimir Putin. Antes da guerra, o governo ucraniano de Volodimir Zelenski aprovou leis que, por exemplo, limitavam o uso da língua russa no sistema educacional.
De acordo com a Folha, as conversas focavam em itens específicos que poderiam ser incluídos em eventuais acordos de paz, funcionando como uma triagem do que era ou não aceitável para ambos os lados. Mas os encontros não contavam com a participação de ucranianos.
Tanto o Kremlin quanto o governo de Joe Biden autorizaram os encontros, embora sem caráter oficial. No mais recente encontro, no início deste ano em Istambul, na Turquia, os especialistas debateram a neutralidade da Ucrânia, uma das demandas de Putin para encerrar a invasão iniciada em 2022.
Lavrov não confirmou se participou de algum desses encontros. Em abril do ano passado, a NBC informou que ele havia mantido conversas secretas com ex-funcionários da área de defesa e segurança nacional dos EUA em Nova York.
As únicas negociações oficiais sobre a guerra ocorreram no início do conflito, em Belarus e na Turquia, envolvendo delegações da Rússia e da Ucrânia. Esses encontros chegaram a produzir um documento com termos favoráveis ao Kremlin para a paz, mas as negociações desandaram com o crescente apoio ocidental a Kiev e o sucesso militar ucraniano em repelir os russos do cerco à capital.