O artigo O futuro do Brasil no centro do debate, publicado nesta quinta-feira (24) no sítio Esquerda Online, mostra que esse grupo, que já vinha antes renegando abertamente o trotskismo, abandonou de vez o socialismo para apostar suas fichas na reforma do capitalismo por meio de um Estado nacional.

Um assunto recorrente entre esquerdistas, como esse grupo, é de que os tempos mudaram. A conclusão lógica, portanto, é a de que não se deve utilizar métodos velhos para as questões atuais. É a recusa do marxismo dita indiretamente.

Segundo o portal, são tempos em que a luta de classes aparece de forma mais aberta, menos velada.” Portanto, hoje, nosso país está diante de um ataque estrangeiro, a luta de classes aparece diante dos olhos de todos com a fórmula: soberania nacional contra submissão ao imperialismo decadente”.

Ataque estrangeiro contra o Brasil não é de hoje, e muito menos foi inaugurado com Donald Trump. O país teve várias tentativas de golpe, com duas bem-sucedidas, como em 1964 e 2016. E a defesa da soberania do Brasil não se sobrepõe, muito menos suspende, a luta dos trabalhadores contra a burguesia, como o texto sugere.

O texto diz que, se alguns teóricos europeus no auge de seu eurocentrismo afirmavam na virada do século a perda de importância histórica do Estado nacional, podendo o mesmo ser superado, hoje estamos vendo o inverso”. Se o portal fosse um grupo marxista, teria facilmente rebatido essa falácia dos tais teóricos. O Estado sempre foi uma superestrutura para defender os interesses da burguesia e jamais perdeu sua importância.

Deixando de lado as meias-palavras, o portal afirma que em nosso país chegou a hora de aprendermos a lição. O Estado deve ser o centro, e a Nação o guia. É pelo Estado nacional que podemos buscar uma soberania dos povos, integração internacional e enfrentar as tentativas de neocolonização”. Ou seja, a classe trabalhadora perde sua importância, aquela história de ‘Proletários de todos os países, uni-vos’ é velha, está ultrapassada, é coisa antiga; vivemos em um novo mundo e o importante é a defesa do Estado burguês.

Para tentar disfarçar, o Esquerda Online diz que não é um nacionalismo por si só”. Tenta argumentar que fala “sobre a necessidade da construção de um projeto nacional-popular, democrático, que promova a inclusão social, combata o subdesenvolvimento, busque a soberania, coloque desenvolvimento aliado a transição energética e reorganize as estruturas sociais do país”. Mas, dito de outra maneira, acredita na reforma do Estado capitalista.

Segundo o texto, o momento de enfrentamento que vivemos pode gerar uma nova consciência nacional, e devemos batalhar por ela. Essa consciência nacional, é ainda vaga, mas pode se materializar em programas e ações, e que conforme uma nova aliança política em torno do campo democrático-popular, liderado pelo Presidente Lula e que permita uma vitória eleitoral que derrote a extrema as extremas direitas nas urnas em 2026, e auxilie na construção de uma nova maioria social”.

O trecho acima chega a ser ingênuo. O tarifaço de Trump contra o Brasil é apenas um episódio que pode muito bem não dar em nada. Nenhuma aliança está sendo formada. É cedo demais para comemorar, pois o Brasil está recorrendo à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as medidas do governo norte-americano.

No entanto, deve-se prestar atenção à tal “aliança política”, pois é aí que está a questão. O autor do texto diz o seguinte: “aqui falamos em nova aliança política por dois fatores, porque acreditamos que ela precisa ser superior à do processo feito em 2022.”.

Em 2022, a aliança que esses setores da esquerda propuseram, sob a desculpa de se combater o bolsonarismo, era entre a esquerda e o “campo democrático”, que comportava qualquer coisa — Ciro Gomes, João Doria, MBL, bolsonaristas “arrependidos” etc.

Seguindo adiante, lê-se que a Frente Ampla organizada em 2022 tinha como eixo a defesa do regime político erguido na Nova República para derrotar o bolsonarismo”. Mas fica difícil explicar como derrotar o bolsonarismo se juntando, por exemplo, a João Doria, que se apelidou de “Bolsodoria” em 2018 para concorrer a governador de São Paulo.

Para o portal, com o enfraquecimento de Bolsonaro, cada vez mais as contradições internas da Frente Ampla, até então secundárias, assumiam centralidade, impedindo uma governabilidade no Congresso, gerando ou uma debandada de então aliados táticos, com o risco do governo ceder por completo deixando de disputar pautas importantes e necessárias, fortalecimento assim uma candidatura de oposição ao governo federal, que poderia ser encabeçada por Tarcísio Freitas”.

Essa leitura dos fatos está completamente equivocada. O enfraquecimento de Bolsonaro é uma política da burguesia, que também não quer Lula no poder. Esta é a razão da “debandada”, que já estava programada, dos tais aliados táticos.

O plano da burguesia, não se sabe se dará certo, é inviabilizar os dois candidatos com voto, Bolsonaro e Lula, para então emplacar um Tarcísio de Freitas, e até mesmo um político caricato, como Javier Milei (Argentina) ou Rodolfo Hernández Suárez (Colômbia). Opções não faltam.

Para o Esquerda Online, com os ataques de Trump ao país as forças de esquerda e do campo democrático-popular podem buscar reagrupar uma Frente Ampla. Porém, está frente deve ter como alicerce a soberania nacional, o papel do Brasil do mundo, e um projeto para nossa Nação”.

Recorrendo, como em 2022, à política do espantalho, afirma que o caminho para vencer a batalha em 2026 e a guerra contra a extrema direita passa por essa mobilização de imaginários. Impulsionar a capacidade criativa para pensarmos um outro Brasil, um país que pode vir a ser”. Por pouco não repete a expressão “Este é um país que vai pra frente”, tão repetida no período de Ernesto Geisel.

Segundo o Esquerda Online, “para combater a extrema direita e seu impulso destrutivo, é preciso pensar, propor e buscar construir um país novo”. Pena que essa proposta não tenha nada de novidade. E ainda assim repete: a elaboração de um projeto de soberania nacional para o tempo de guerras e transformação que vivemos precisa ser novo, superar os vícios e erros do desenvolvimentismo e não pode ser construído apartado de uma mobilização. Seja mobilização popular, de construção a partir da base, locais de moradia e de trabalho, junção de forças, disputa ideológica, e buscar uma nova maioria social. Ou a partir de uma mobilização de imaginários, no campo do sensível, do afeto, da linguagem”.

Toda essa conversa fiada de “mobilização de imaginários”, “campo do sensível”, serve apenas para afastar a classe trabalhadora, pois ninguém entende ou suporta esse linguajar pedante de pequeno-burguês.

O Esquerda Online, que nos últimos tempos vinha criticando Trótski, propondo que a esquerda se pusesse no “campo das democracias liberais”, mais conhecidas como imperialismo; vem agora dizer que mesmo a classe trabalhadora já não importa, o que interessa é o Estado.

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Last Update: 25/07/2025